Arnaldo Lucas Pires Junior e Caroline Trapp de Queiroz


UMA HISTÓRIA ÚNICA? NOTAS SOBRE A INCLUSÃO DE PERSPECTIVAS HISTORIOGRÁFICAS NO ENSINO DE HISTÓRIA

“A História é uma desculpa que utilizamos para exercitar literatura”. Foi essa frase desconcertante que ouvimos de um professor ainda nos primeiros anos de graduação. Ainda hoje, alguns anos depois do impacto inicial da expressão, nos pegamos pensando em suas implicações. A feitura deste artigo foi mais um passo na tentativa de compreender o que realmente quis dizer aquele professor que nos soou tão profundamente herético naquele momento, mas que hoje, depois de alguns anos, parece muito mais coerente. Ao longo das próximas páginas procuraremos explorar as potencialidades da expressão das múltiplas vertentes históricas para o estudo do conhecimento histórico dentro do ambiente escolar, defendendo não somente a validade desse tipo de exposição, como também ressaltando as potencialidades que tal tipo de expediente pode gerar para uma compreensão mais aguçada tanto do processo de feitura da história, quanto dos elementos subjacentes que se integram nesse processo.  

Aqui mais uma vez a literatura nos parece um bom meio de chegar à História. Em seu “Os perigos de uma história única”, Chimamanda Ngozi Adichie nos aponta como a reprodução de determinados traços culturais em histórias (ela se refere diretamente à literatura, mas a transposição do argumento para o texto historiográfico também é válida) é capaz de criar ideias preconcebidas e habitus reprodutivistas. Adichie, moradora da tropical Nigéria, falava sobre neve e frio quando, ainda adolescente, escrevia seus contos. Era sobre isso que ela lia nos livros europeus que estavam disponíveis para sua apreciação. Era isso que ela havia descoberto ser literatura, uma história sobre europeus de pele branca que brincam na neve e colhem maçãs.

A Nigéria, país onde não neva nem se colhem maçãs, estava fora do mundo da literatura. Adichie fechava os olhos para a própria realidade (ou para ela tinha os olhos propositadamente fechados) para mergulhar naquela dos livros que lia e isso talvez seja o impacto mais pernicioso do processo: não conseguir perceber-se como parte desse mundo que, afastado da literatura por imposição cultural, era relegado à categoria de cultura secundária. A captura de Adichie pelos perigos de uma história única aponta para uma armadilha perigosa ao historiador: a de reforçar a noção de que a história só pode ser contada, como as histórias de homens brancos de olhos azuis comedores de maças, a partir de um único ponto de vista. Convidamos o leitor a acompanhar-nos nas próximas páginas, em que tentaremos argumentar a favor da multiplicidade de posicionamentos para a construção de um processo de ensino e aprendizagem pautado na pluralidade e no fomento ao raciocínio histórico-científico.

História: uma ciência em crise de consciência
Desafiamos o leitor a realizar um pequeno exercício: abra aleatoriamente qualquer livro escolar de alguma ciência natural que tenha perto de si nesse momento. Muito provavelmente o leitor encontrará, em qualquer um dos temas abordados pela obra, uma pequena descrição das inúmeras vertentes científicas que tentaram interpretar o fenômeno natural, bem como suas potencialidades e equívocos. Agora realize o mesmo exercício em um livro de História. Verifique se, entre a narrativa dos acontecimentos históricos, encontramos alguma referência à maneira com a qual esses acontecimentos foram interpretados pelas múltiplas vertentes que se debruçaram sobre ele e as razões que as fizeram ver os processos históricos da maneira com que os viam. O esforço será, muitas vezes, em vão. Livros de história tendem a adotar o relato de uma única narrativa. Aceita-se que diferentes versões sobre os acontecimentos históricos existam, mas na hora de ensiná-los aos nossos estudantes prefere-se, na maioria das vezes, recorrer ao relato não conflituoso de apenas um ponto de vista. Disso depreende-se uma constatação óbvia: a História é uma ciência que ainda precisa aprender a lidar com suas próprias dúvidas.

Algumas questões surgem dessa breve constatação: Por que esse processo se dá desta maneira? Quais são os elementos que substanciam a maior facilidade que as ciências naturais têm para lidar com suas próprias dúvidas? Enfim, por que a História parece tão preocupada com certezas e narrativas únicas? A verdade é que realmente estamos comparando duas coisas relativamente diferentes. As ciências naturais possuem como argumento central de justificação das suas afirmações algo que é vedado à História – e às Ciências Humanas, de modo geral –, a experimentação. Nesse caso, tendo uma base material de relativa facilidade de acesso, é muito mais fácil lidar com seus próprios equívocos e, dessa forma, apresentar diferentes versões para um mesmo fato. É só justificar-se com o argumento de que “novas experiências confirmaram que o entendimento passado estava errado”. O caso da ciência histórica é um pouco diferente. Vedada da possibilidade da realização de experimentos controlados (afinal, ninguém pode retornar ao passado para realizar uma pesquisa de opinião, por exemplo), sobra ao conhecimento histórico a construção de um saber baseado em vestígios.

Isso não significa dizer que este tipo de produção de conhecimento científico é inerentemente inferior àquele produzido por algum tipo de experimento ad hoc, haja vista que também algumas ciências naturais se baseiam nesse tipo de fonte para a produção de conhecimento (a física teórica e a cosmologia, ainda que procurem pautar suas afirmações em deduções matemáticas, são incapazes de retornar, por exemplo, ao momento do big bang para nos explicar o que aconteceu, trabalhando igualmente com vestígios deixados por esse evento que é, ao mesmo tempo, cosmológico e histórico). Essa impossibilidade de reconstituição é característica essencial de ciência que visa estudar o passado – que une as ciências dos vestígios e as afasta das que podem tecer suas conclusões com elementos unicamente do presente. O passado deve ser encarado como característica particular e sui generis do conhecimento histórico e é somente em prol dele que devemos conceber a cientificidade da história.

Assim sendo, a omissão das diferentes vertentes interpretativas nos textos escolares de história (além do óbvio equívoco de se considerar que a apresentação de múltiplas versões tornaria mais difícil o acesso do estudante ao conteúdo) só pode ter uma razão óbvia, a saber, o limiar entre a preocupação constante com a cientificidade das afirmações históricas – herança de uma concepção de ciência metódica, positivista e cujo rigor serviria para garantir a ética necessária diante do objeto de estudo – e a tensão inerente entre o acontecimento material único e irrepetível do passado (o que aconteceu aqui em algum momento do passado) e as diferentes interpretações geradas por ele – pautadas em vestígios, mas registradas como texto, formato do produto final que chega ao livro didático e às aulas de história.

A cientificidade das afirmações históricas: Ensino, pesquisa e vestígios
A cientificidade das afirmações históricas não é aquela da certeza (não há nada de científico na certeza, uma vez que qualquer ciência é o exercício contínuo da dúvida, ao menos filosoficamente), mas sim a do método. Isso significa dizer que, em História, tão importante quanto as conclusões das argumentações apresentadas é o próprio processo de construção da argumentação. Dessa maneira, a expressão dos caminhos que levaram à construção dos argumentos históricos não deve aparecer como um acessório ao discurso histórico, e sim como elemento constitutivo deste. Reside em um equívoco grosseiro pensar que, ao apresentar suas dúvidas e discordâncias, a narrativa histórica perde parte da sua cientificidade, pois é justamente ao explicitar os caminhos escolhidos e as fontes sob as quais debruçou-se o produtor daquela narrativa histórica que se reforça a dimensão científica do trabalho do historiador.

A ciência construída com vestígios impele à consideração desses próprios vestígios históricos como elementos não neutros, mas sim como resultado direto de um conjunto de interesses de produção de sentidos e memória. Considerá-los dessa forma nos leva a discutir profundamente as questões relativas à construção de memória e os processos de criação, seleção e perpetuação de doxas (FREIRE, 1987) históricos mais ou menos consolidados, ou seja, saberes pautados mais no que hoje chamamos de achismos. Ora, enquanto alguns dirão que a intencionalidade de alguns vestígios acaba por testemunhar contra a cientificidade do conhecimento histórico, defendemos aqui que é justamente por conta dessa característica específica desse conhecimento que os historiadores são levados a discutir sobre a epistemologia do seu ofício. A ciência só se movimenta pela sua inconsistência. E não há nada mais científico que isso. A problematização sobre o processo de construção do conhecimento é, nesse sentido, característica positiva gerada pela particularidade da História enquanto ciência daquilo que já aconteceu. Apresentá-la aos estudantes afastada desta dimensão central de sua existência é esteriliza-la em narrativa vazia que cumpre bem o papel de interpretação única de um acontecimento dado, mas perde-se completamente quando analisada sob a visão do cientista que considera a história como uma disputa de narrativas mediada pelos vestígios analisados em cada pesquisa.

A dupla ótica do trabalho com fontes em sala de aula se relaciona justamente com a necessidade de pensar a historiografia como fonte de construção do conhecimento histórico que passa pelo ensino de história. Nesse sentido, mais que valer-se das fontes como forma de ilustrar a narrativa, deve-se desvelar o próprio trabalho historiográfico, que considera pensar contexto e condições de produção dessas fontes, como modo de dessacralizar a história que, não raro, ocupa lugar de autoridade incontestável nas mentalidades dos estudantes do ensino fundamental e médio, mas também como forma de tornar esse passado concreto, ou seja, de lhes propiciar uma aproximação da história, o que passa pelo necessário trabalho de dar rostos, carne e sangue aos sujeitos históricos. Tornando-os, dessa forma, “outros” nas vidas de nossos estudantes, outros que filosoficamente são e devem ser vistos a partir de uma perspectiva exotópica (BAKHTIN, 1982), ou seja, como sujeitos aos quais eu verdadeiramente me desloco do meu lugar a fim de compreender suas condições de existência nesse mundo. Assim, as fontes, quando dessa maneira consideradas, fomentam um aprendizado que tem a empatia como premissa. Ausente dessa perspectiva, para nós, a História acaba por perder seu sentido por completo, esvaziando-se em erudição e cumprindo o papel de acúmulo de conhecimento sem transformação social.

As tensões entre acontecimento material e interpretações históricas
Alguma coisa aconteceu em um momento específico e as repercussões desse acontecimento único, perdido no tempo e no espaço, nos atingem até hoje. Essa é talvez a única certeza que um historiador que se debruça sobre qualquer fato histórico possui. As diferentes formas com que este acontecimento foi interpretado são resultantes dessa incapacidade de conhecer a integridade do fenômeno material que dá origem à pesquisa histórica, mas não são, de maneira nenhuma, um convite à negação da materialidade, como querem os defensores da história enquanto (apenas) discurso. Assumir que um acontecimento histórico determinado é uno e inatingível em sua materialidade não significa dizer que a história é sempre um discurso vazio, solto no tempo e no espaço, uma quimera construída na mente de um escritor.

Há uma tensão intrínseca em todo trabalho científico que se volta para o passado: a tensão entre a inatingibilidade concreta do fato acontecido e a interpretação de um pesquisador que dele fala no presente – embasado pelo procedimento especificamente científico. É preciso aceitar essa tensão como elemento fundante da pesquisa e do ensino de história, compreendendo-o como parte fundante e construtiva do processo de interpretação do passado e não como um obstáculo a ele. Como bem nos lembrou Marc Bloch (2002), o fato histórico não é uma realidade dada, uma “coisa-em-si” (das Sein), se o leitor nos permite usar a terminologia kantiana, mas sim o resultado de um processo em construção. O fato histórico é, por mais óbvio que possa parecer tal afirmação, uma construção histórica.

Não há como ensinar história – essa situada e implicada numa educação problematizadora que parte da questão como motor para essa produção – sem aceitar a dimensão fundante da construção dos fatos históricos e, mais que a simples aceitação, o professor envolvido no “letramento histórico” de seus estudantes deve inserir essa dimensão em cada uma das atividades propostas durante suas aulas. Trata-se, portanto, de fazer com que os estudantes compreendam que o processo histórico é resultado não somente da relação estabelecida entre o historiador e suas fontes, mas também da relação entre as múltiplas interpretações que advêm deste processo de exame dos vestígios. Aqui não existem grandes segredos, o principal passo é nunca subestimar a inteligência do estudante e, principalmente, evitar a falsa crença de que a apresentação de múltiplas interpretações históricas estaria, por algum motivo desconhecido, fora de suas capacidades cognitivas. Todos somos capazes de compreender o fato óbvio de que diferentes espectadores têm visões diferentes sobre um mesmo fato.

As necessidades de uma compreensão ampliada do conhecimento e do aprendizado histórico
Ensinar é pesquisar e pesquisar é aprender. Em qualquer área do conhecimento, a separação dessas dimensões se revela inócua. Ao longo das páginas que se seguiram, no entanto, procuramos apresentar argumentações sobre essa relação especificamente na construção do conhecimento histórico, refletindo sobre os laços que constituem esse atrelamento. Pensar sobre a validade científica de um saber é, na mesma medida, refletir sobre a sua validade enquanto conhecimento a ser ensinado e nas diferentes formas pelas quais ele pode ser aprendido. Discutir a cientificidade da história e a importância da apresentação das diferentes visões historiográficas no próprio processo de ensino nos ajudou a concluir que, em última instância, a abordagem que considera apresentação e avaliação das diferentes visões historiográficas é fundamental para a aprendizagem histórica e está diretamente ligado ao caráter científico de nossa disciplina.

Referências
Arnaldo Lucas Pires Junior é doutorando pelo Programa de Pós-graduação em História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGHIS).
Caroline Trapp de Queiroz é doutoranda pelo Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (ProPEd).

BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992. BLOCH, Marc. Apologia da História ou o ofício do Historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2002.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

SILVA, Ilton Benoni da. Inter-relação: a pedagogia da ciência: uma leitura do discurso epistemológico de Gaston Bachelard. Ijuí: Ed. UNIJUÍ, 1999.

23 comentários:

  1. Arnaldo, meus sinceros parabéns por este texto. Contudo, gostaria de saber sua opinião quanto ao seguinte assunto: como podemos trabalhar as diferentes visões de determinado acontecimento em sala de aula, se até mesmo para nós, historiadores, é difícil encontrarmos materiais que mostrem outro ponto de vista? Como o clássico exemplo da colonização africana, ou dos impérios orientais, sempre vistos pela perspectiva única?

    Att,
    Crislli Vieira Alves Bezerra

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    1. Arnaldo Lucas Pires Junior13 de abril de 2018 às 06:15

      Olá Krisley, obrigado pelas palavras e pela pergunta. Entendo que a exigência da apresentação de diferentes visões historiográficas sobre um determinado assunto aumenta ainda mais a carga de responsabilidades que são exigidas do professor. De fato, em alguns casos, é difícil que o docente consiga inserir em suas aulas múltiplos pontos de vista, entretanto, seguindo a lógica de que pesquisa e ensino são atividades contíguas e complementares, acredito que o docente deve sempre procurar múltiplas fontes de informação e, na medida do possível, deve também mobilizar aportes historiográficos com relação aos assuntos trabalhados. Em algumas temáticas, como aquelas que você levantou, esbarra-se em algumas barreiras estruturais que apontam para a própria lógica de formalização da nossa ciência (uma tendência europeizante, por exemplo), nesses casos a própria atividade docente convida a uma ação política/social de desmistificação de pressupostos construídos e de construção, em sala de aula mesmo, de narrativas alternativas.
      Att.
      Arnaldo Lucas Pires Junior.

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  2. Carlos Mizael dos Santos Silva11 de abril de 2018 às 09:14

    Boa tarde. A minha pergunta e simples: Ate quando pensar apenas na historiografia nao e uma maneira de limitar outras maneiras de manifestar o saber historico como sites, documentarios e etc?

    Carlos Mizael dos Santos Silva

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    1. Olá, Carlos!

      Olha, entendo que essa questão que você coloca depende muito da concepção de historiografia abraçada pelo historiador. Se optarmos por entende-la como uma construção cuja fundamentação se sustenta na produção humana em sentido amplo, então as fontes selecionadas para essa composição podem incluir documentários e sites sem problema algum. O contrário também se sustenta, se entendemos que esse corpus documental inclui apenas fontes chanceladas (institucionalmente, por ex), então toda uma produção de vida acaba ficando de fora, não é?

      Abraços,
      Caroline Trapp de Queiroz.

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  3. Carlos Mizael dos Santos Silva11 de abril de 2018 às 09:15

    Outras formas*

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  4. Carlos Mizael dos Santos Silva11 de abril de 2018 às 09:23

    Boa tarde. A minha pergunta e simples: Ate quando pensar apenas na historiografia nao e uma maneira de limitar outras formas de manifestar o saber historico como sites, documentarios e etc?

    Carlos Mizael dos Santos Silva

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  5. Boa tarde,

    Acredito que além disso "Aqui não existem grandes segredos, o principal passo é nunca subestimar a inteligência do estudante e, principalmente, evitar a falsa crença de que a apresentação de múltiplas interpretações históricas estaria, por algum motivo desconhecido, fora de suas capacidades cognitiva", ou seja, de apresentar aos alunos as "múltiplas interpretações históricas", cabe também a problematização das mesmas e aqui parto de uma das falas da prof. Marcia Elisa Teté referindo-se tb à questão do "letramento histórico", que é pensar na questão da empatia histórica para pensarmos na validação do que pode ser chamado ou não de História. Levando-se em conta ainda que em alguns casos, já ocorre esta validação, como por exemplo, Holocausto. Há um consenso histórico de que o mesmo ocorreu, ponto. Enfim, para pensarmos, especialmente nesta questão. Agora quanto à esta última afirmação "Ensinar é pesquisar e pesquisar é aprende", penso bastante no texto do professor Elison Paim e a questão do "fazer-se professor", um processo contínuo. O professor-pesquisador, eu sinceramente não consigo enxergar dissociação e prática e pesquisa no trbalho do professor ainda que sintamos lacunas ou silêncios ou até mesmo distorções - as quais considero estarem atreladas ao seu processo formativo, e aí entraríamos em outra discussão

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    1. Arnaldo Lucas Pires Junior13 de abril de 2018 às 06:19

      Olá Helena, obrigado pelo seu comentário. De fato o texto procura ressaltar essa indissociação entre a pesquisa e o ensino. Compreendo que estas duas atividades se reforçam entre si e são faces complementares de nosso ofício.

      Att.
      Arnaldo Lucas Pires Junior

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  6. Primeiramente, parabéns pelo texto, desenvolvimento e abordagem ao tema são bem distribuídos ao longo dele. A pergunta é: se a interdisciplinaridade poderia de alguma maneira contribuir essa forma do ensino da história, proposta pelo texto. Como exemplo, a interação entre as disciplinas de História e Literatura, podendo estudar e comparar as diferentes narrativas.

    Sandro Victor Vilar da Silva

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    1. Oi, Sandro!

      Pois é, a interdisciplinaridade com certeza ruma (ou almeja rumar) para o diálogo a partir dos pressupostos de uma filosofia de educação integral, o que a meu ver fomenta laços de compreensão importantes. Engana-se quem pensa que consciência histórica se aprende apenas no estudo da história, por ex.
      A literatura faz esse movimento de jogar o sujeito frente a ele mesmo, situando no tecido social sua própria história, com maestria e a partir da experiência estética, que toca e por isso constitui o humano de modo singular.
      Então sim, vejo muita potencialidade na interdisciplinaridade como valor para esse caminho de pensar a comparação de diferentes perspectivas historiográficas no ensino de história.

      Abraços,
      Caroline Trapp de Queiroz.

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  7. Olá,
    O trabalho de vocês é realmente incrível. É sempre muito importante aludir sobre a necessidade de ensinar aos alunos não só os acontecimentos e as diferentes narrativas históricas, mas ensiná-los a produzir conhecimento, a lidar com as fontes (seja ela o livro didático, os jornais, ou as matérias presentes na internet) tendo como base um método crítico, afinal isso torna a História mais atrativa para os alunxs, que, com toda a razão, não aguentam mais uma História de cunho puramente factual, ainda muito presente nas escolas. É necessário que os professorxs de História, acreditem nas potencialidades e possibilidade de seus alunxs compreenderem o conhecimento histórico como construção, algo vivo e, por conseguinte, em constante mudança, como é possível verificar na historiografia, entretanto, vale ressaltar, essas mudanças não colocam em cheque o caráter científico da História, muito pelo contrário. Dito isso, quais ferramentas podem ser utilizadas como recursos didáticos que contribuam para que os alunxs percebam a construção do conhecimento histórico? Vocês acreditam que levar diferentes fontes e compará-las seja uma possibilidade?
    NILCIANA ALVES MARTINS

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    1. Oi, Nilciana!

      Olha, antes de responder sua pergunta, há algo que penso ser necessário dizer. A urgência que identifico no ensino de história não se relaciona tanto a ser atrativo ou não, mas sim à importância de que essa garotada que chega às nossas salas consiga se situar naquilo tudo que a gente diz pra eles que é importante, mas que absolutamente não lhes pertence porque acaba não fazendo sentido com nada. E isso é responsabilidade nossa! Não adianta fazer um funk em que a turma toda se amarra, se ele continuar servindo como instrumento de decoreba. Ele precisa dizer do mundo e, nesse dizer, encontrar o mundo do nosso estudante.
      Assim, entendo que a proposta é justamente essa: construir conhecimento junto, o que pressupõe conhecer o que já existe de produção sobre abolição, por ex, e ir às fontes bater essas leituras com o que elas nos dizem. Isso é construir COM... sem respostas prontas, até mesmo porque a historiografia muda a partir de novas fontes, novas questões, novas ferramentas. E, nesse sentido, não importa tanto os recursos didáticos, mas a postura que se assume diante deles.

      Abraços,
      Caroline Trapp de Queiroz.

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    2. Compreendo, concordo plenamente que o conhecimento deve ser construído em conjunto com o aluno, Muito obrigada pelo esclarecimento.
      Nilciana Alves Martins

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  8. Oi, bom dia.
    Queria saber como historiadores podem, por exemplo, competir com os tantos discursos que permeiam a construção do conhecimento? De forma mais prática. Já que mesmo o conhecimento acadêmico parece ter perdido a validade.
    Maria Sarah do Nascimento Brito

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    1. Oi Maria!

      Eu tenho apostado muito numa triangulação que entendo como fundamental para o ensino de uma história que encontre sentido na vida dos estudantes, que é o trabalho com fontes, a discussão historiográfica e a reflexão sobre a produção/disputa de memória.
      Tenho percebido certo amadurecimento nas discussões com meus estudantes (que são do pré-vestibular) a partir desse movimento. Não sei, me parece que eles começam a entender a construção da própria história fora daquele lugar erudito de detentora de uma verdade absoluta, considerando condições de produção desse conhecimento, tensionamentos que enredam os sujeitos e as instituições no contexto de escrita da história, enfim... talvez seja pouco e talvez nem responda de modo mais pragmático sua pergunta, mas tem me dado sensação de um caminhar coerente junto a esses estudantes.

      Abraços,
      Caroline Trapp de Queiroz

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  9. Este comentário foi removido pelo autor.

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  10. Muito boa sua abordagem! Sabemos que de fato a educação pública encontra-se em defasagem, então como nós, professores de História, devemos nos orientar sobre os tipos de fontes históricas mediante ao
    discurso de que o ensino de História está sendo utilizado como doutrinador político ? Quais cuidados devemos ter para garantir o desenvolvimento da autonomia dos alunos em participar da construção do conhecimento históricos escolar nesse contexto?

    Deise Machado Mendes

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  11. Olá, parabéns pela produção, falar sobre várias perspectivas historiográficas, sempre resultará em questionamentos, e isso é um dos elementos importantes do fazer histórico. A minha pergunta está ligada a abordagem nos livros didáticos sobre as várias perspectivas históricas. Será que pensar em diversas perspectivas históricas sobre um assunto no ensino básico não criará repulsa nos alunos em entender o que está sendo colocado? Pois um livro é produzido por uma base ideológica, ou seja, não é interessante para a própria didática do professor trazer muitas perspectivas, pois resultaria em um afastamento da reflexão que o aluno pode ter a partir de sua cultura, experiências, enfim. Portanto se faz necessário aproximar os discentes de uma reflexão de uma base ideológica, para assim esse mesmo encorajado pelo professor fazer suas próprias críticas.

    Um forte abraço!!!


    VINICIUS MACHADO FERREIRA

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    1. Oi Vinicius!

      Não sei se entendi bem sua questão (semana acabando e o cansaço tomando conta), mas a devolvo a partir do deslocamento contrário: será que não é interessante para o próprio exercício d leitura de mundo trazer diferentes perspectivas sobre os fatos históricos se o que se quer é fomentar reflexão, criticidade, consciência histórica, capacidade de contextualização espaçotemporal, etc.?
      Tenho experimentado esse movimento com minhas turmas de pré-vestibular e os retornos são ótimos. Penso que vale tentar na escola também. Se der certo, maravilha! Se não, recalculamos a rota e discutimos tantas outras possibilidades quanto pudermos...

      Abraços,
      Caroline Trapp de Queiroz

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  12. Olá, primeiramente parabenizo pelo ótimo texto.

    Gostaria que você comentasse sobre os perigos de trabalhar com diferentes visões de determinado acontecimento histórico, incluindo aí a história recente, em tempos de crescente fascismo e discursos de ódio transvestidos de opinião.

    Abraços.

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  13. Parabéns pelo texto e pelo tema abordado. Durante toda a escrita vocês incentivam e reforçam a necessidade de apresentar ao aluno múltiplas interpretações históricas sobre um mesmo tema, conteúdo, fato, etc., bem como de aproximá-los ou apresentar a eles a cientificidade de nossa disciplina. Assim como na Filosofia e Sociologia, o estudo das correntes historiográficas e de seus principais representantes seria uma forma de colocar isso em prática? Guardando as devidas proporções de aprofundamento teórico essa prática seria válida para a compreensão da disciplina e a forma como ela é construída?

    Atenciosamente,
    Helena Teston.

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