Neste artigo, o
interesse é entender como o jornalista Leandro Narloch trabalha com a didática
e a linguagem ao apresentar o regime militar brasileiro de 1964 em seu livro
“Guia politicamente incorreto da história do Brasil” (2009). Pretende-se não
apenas apontar erros e acertos – fazer uma correção historiográfica - , mas
perceber o funcionamento do texto. Buscarei entender como o “Guia” serve de
instrumento de divulgação do conhecimento histórico, suprindo os anseios e
curiosidades de parte dos leitores interessados na história do Brasil.
Em 2009, o jornalista
Leandro Narloch lançou o livro “Guia politicamente incorreto da história do Brasil”.
Direcionado a um público não acadêmico, cada capítulo da obra contém diferentes
momentos da história brasileira, desde o período colonial até o golpe
civil-militar de 1964.
O jornalista é
pretensioso sobre os objetivos de seu livro, quer mostrar os "erros das
vítimas e dos heróis da bondade” e “só virtude dos considerados vilões". No
capítulo intitulado “Por uma história sem mocinhos”, o autor se propõe a
"jogar tomates na historiografia politicamente correta" e ainda diz
que não pretende elaborar "um falso estudo acadêmico”, mas “uma
provocação" (NARLOCH, 2009, p. 06). Leandro Narloch afirma que quer
provocar os “historiadores militantes” ou talvez seja uma estratégia de
marketing para diferenciar seu trabalho do que é produzido por autores ou historiadores
de esquerda sobre a ditadura.
Aliás, também pode-se considerar
que a narrativa feita sobre o regime militar de 64 ainda é uma narrativa
presente para muitas pessoas saudosas daqueles tempos, mas que se tornaram
ideias “politicamente incorretas” de serem declaradas abertamente, já que a
memória válida, nesse caso, é a memória dos derrotados – aqueles que sofreram
perseguição e tortura.
Em
2009, o jornalista Leandro Narloch lançou o livro “Guia politicamente incorreto
da história do Brasil”. Direcionado a um público não acadêmico, cada capítulo
da obra contém diferentes momentos da história brasileira, desde o período
colonial até o golpe civil-militar de 1964.
Jornalistas e a ditadura
Livros
escritos por jornalistas acerca do regime militar brasileiro não são um
fenômeno atual. Encontram-se autobiografias, biografias e notícias que tratam
do período em que os militares estiveram no poder, seja cinquenta anos após o
golpe e no calor do momento em 1964. Vários jornalistas escreveram sobre este,
ainda, polêmico tema.
O
historiador Carlos Fico fez uma análise crítica acerca das primeiras obras que
se ocuparam da ditadura militar, publicações pensadas e lançadas enquanto o
regime ainda era algo incerto, enquanto aquilo que é narrado nessas obras ainda
estava acontecendo. Mas em função da escassez de documentos e também do próprio
perfil da pesquisa histórica praticada no Brasil naquela época, os
historiadores se mantiveram distantes quanto aos eventos relacionados ao golpe.
Foram os jornalistas, cientistas políticos e sociólogos, os profissionais que escreveram
as primeiras obras acerca do golpe civil-militar de 64.
“Se hoje, de fato, temos uma razoável literatura sobre o período, ela não se deveu, num primeiro momento, aos historiadores. O fenômeno explica-se não por um desinteresse dos historiadores, mas pelas dificuldades peculiares à chamada “história do tempo presente” e pela carência de fontes documentais. De fato, costumam ser cautelosos os historiadores ao se debruçarem sobre fenômenos contemporâneos ou recentes, diferentemente de jornalistas, cientistas políticos e sociólogos” (FICO, 2004, 20-21).
Fico trata do processo
de construção de alguns desses primeiros trabalhos, levantando questões acerca
da carência de documentação e ainda a falta de transparência sobre a
investigação dos acontecimentos, ou seja, o como, quando e onde certas
informações foram recolhidas para serem usadas na elaboração das obras. Aparentemente,
os historiadores se sentem mais confiantes do trabalho que estão elaborando
quando podem constatar o que afirmam através de documentos e outras
“evidências”, não apenas do uso da imaginação ou de suposições. Carlos Fica usa
o termo “romanceação” para se referir a algumas escritas por jornalistas:
“As leituras privilegiadoras da pequena política foram as primeiras que pudemos ter do golpe de 64 e estiveram estampadas nas páginas dos jornais e em livros. Poderia ter sido de outra forma? Como escapar à curiosidade sobre os detalhes que levaram ao golpe? Impossível. O problema é que alguns desses textos transformar-se-iam em relatos supostamente definitivos, admitidos acriticamente por muitos, que o tomariam como verdades estabelecidas e os usariam como fonte para novos trabalhos. Vários diálogos entre partícipes do golpe de 64 foram reconstituídos por jornalistas, sem que se saiba como, e, ainda assim, admitidos como autênticos. Bem se sabe que, no relato jornalístico, tal romanceação agrega interesse à leitura. Mas, simplesmente, não se pode falar de pesquisa histórica sem crítica documental. Os trabalhos acadêmicos de maior peso sobre o golpe de 64 viriam mais tarde” (FICO, 2004, 27).
Algumas obras “romanceadas”
são constituías de memórias de ex-guerrilheiros, o que ajudou a criar e a
cristalizar uma imagem da luta armada e de seus participantes. Obras que são
comumente centradas na vida de seus autores, como “O que é isso companheiro”, de
Fernando Gabeira (1996), lançado em 1979. Narrativa que possui um relato ácido,
comovente, se transformou em um verdadeiro clássico brasileiro e ainda se
tornou filme, dirigido por Bruno Barreto. Outro exemplo é “Os carbonários”, de
Alfredo Serkis (1998), publicado em 1980 ou a obra de Frei Betto (1982), “Batismo
de sangue”, entre outras. São autores que de maneiras diferentes, sentiram a
força da repressão militar durante os anos de chumbo e se sentem na obrigação
de relatar o que se passou (MARTINS FILHO, 2003), de tomarem para si o papel de
vítima e construir um inimigo comum a toda sociedade, neste caso, os militares.
Estas narrativas são corroboradas por estudos historiográficos e outras obras
de jornalistas sobre a ditadura. Além disso, é interessante notar como estas
obras se relacionam constantemente, o livro de um ex-guerrilheiro dá
embasamento para o que um jornalista ou historiador escrevam e a obras destes
por sua vez, confirmam o que o ex-guerrilheiro lembra e escreve.
Mais recentemente, outro
jornalista que desenvolveu um trabalho sobre a ditadura militar foi Elio
Gaspari (2002a, 2002b, 2003, 2004) . Publicado em quatro volumes por uma das
maiores e mais significativas editoras do Brasil – Companhia das Letras - no
início dos anos 2000, é um exemplo importante do envolvimento recente de
jornalistas no processo de construção da historiografia brasileira acerca do
regime castrense. Sobre este trabalho, o historiador Carlos Fico realça o fato de
Gaspari reunir informações importantes sobre o regime militar, mas, critica um
“exclusivismo do ponto de vista, de algum modo induzido por suas fontes”. Fico
faz um alerta para que ouçamos ambos os lados dessa história. Esse exclusivismo
de versões será criticado por Leandro Narloch em seus capítulos sobre a
ditadura, mas parece que o jornalista cai no outro extremo, quando só ouve a
versão dos militares e de uma direita liberal e rechaça qualquer atuação da
esquerda durante os anos do regime.
Muitas destas obras
assumiram um caráter canônico quando se pesquisa o assunto “ditadura” e criaram
a imagem do guerrilheiro, do terror da repressão e de uma esquerda que buscava
a democracia. Imagens presentes na memória sobre a ditadura, que construiu uma
“verdade” sobre os personagens e os acontecimentos relacionados ao golpe de 64.
O
jornalista explica a ditadura
A narrativa sobre o
regime militar. Ou melhor, as narrativas, no plural, ainda são bem presentes em
diversos setores da sociedade brasileira. São versões de militares que se calam
diante dessa ferida ainda aberta e insistentemente lembrada. Ainda há relatos
de outros que acreditam que “no tempo da ditadura é que as coisas funcionavam” (ESSENFELDER,
2014). Ou as narrativas da esquerda que tomou para si o papel de vítima e herói
em busca da liberdade durante os Anos de Chumbo. Não são versões inocentes e
quietas à espera de serem utilizadas, mas são narrativas construídas e
manejadas com intenções (in) conscientes capazes de organizar e decidir o que
se tornará história e o que será renegado ao esquecimento. Afinal, é uma
constante luta entre esquecer e lembrar, entre o dizer e o calar e entre
anistiar e punir.
São as narrativas dos
vencidos que Leandro Narloch pretende desfazer e desconstruir sua mitificação. O
jornalista defende a ideia de que a violência sofrida pelos guerrilheiros teria
servido como expiação pelos seus erros e funcionado como um peso a mais para
dar veracidade a versão da esquerda e seus testemunhos. Narloch afirma que
“se um personagem foi vítima de atos horríveis, fica muito fácil enquadrá-lo como um grande homem, ainda que não tenha protagonizado feitos memoráveis ou mesmo sensatos. Dependendo de quanto sofrimento o personagem passou, a memória coletiva apaga até bobagens e atos perversos que ele cometeu” (NARLOCH, 2009, 203).
Acompanhando as
palavras escritas pelo jornalista, podemos nos questionar sobre quem detém essa
memória. E o que significa “a memória coletiva” para o autor? Afinal, quem é
esse “coletivo”? Se este papel de vítima fosse tão hegemônico como Narloch
apresenta, não haveria tanta resistência quando se busca expor arquivos da
ditadura, ou mesmo cinquenta anos depois não teria ocorrido uma nova versão da
“Marcha da Família Com Deus pela Liberdade” em São Paulo (uma nova marcha
ocorreu em 2014, em lembrança dos 50 anos do golpe civil-militar de 64.
Disponível em < http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2014/03/manifestantes-se-reunem-para-nova-versao-da-marcha-da-familia-em-sp.html > Acesso em 22 de Junho de
2014).
Narloch critica o
papel daqueles que sofreram tortura, o que teria apagado os crimes daqueles que
pegaram em armas e caíram nas garras da repressão militar, pois o que faziam
era uma atitude de resistência contra os militares. O argumento moral é
utilizado para esvaziar a análise histórica efetiva, ao mesmo tempo em que se
abre espaço para narrativas da direita, ao sugerir que a repressão e a tortura
foram meramente reativas à violência primeira. A lógica de análise é causal, linear
e moralista. Com o domínio das palavras oriundo da prática jornalistica, não é levantada uma crítica ao horror da
prática de tortura, mas o jornalista faz uma crítica a vitimização expiatória
que surge com a repressão aos guerrilheiros. Segundo o autor, este grupo estava
errado e qualquer exagero sofrido foi como reação a alguma ação guerrilheira. Narloch
comenta que a partir da tortura, a esquerda poderia se justificar, pois “deu
aos grupos de luta armada um escudo anticríticas” (NARLOCH,
2009, 203), mas a intenção do jornalista não é fazer um revisionismo, mas
diminuir os papéis de destes atores políticos.
Leandro Narloch busca
tirar a mitificação em torno daqueles que resistiram ao regime e escreve que “hoje,
é politicamente incorreto lembrar que os guerrilheiros comunistas estavam
estupidamente errados e eram tão violentos e autoritários quanto os militares”
(NARLOCH, 2009, 203). Assim, somos remetidos à teoria dos dois demônios, que
militares e guerrilheiros estavam em uma verdadeira guerra, mas afastados e sem
participação da sociedade. Podemos ir um
pouco além e perceber que essa tese dá forças a outros mitos: o de que a esquerda
era mais poderosa e organizada do que era e realmente poderia tomar o poder
para si e o de que os militares não poderiam oferecer democracia enquanto os
subversivos não fossem eliminados da sociedade.
E “mesmo depois do
golpe militar, não havia tanto motivo assim para aderir às guerrilhas” já que o
governo ainda permitia o congresso em funcionamento. Mas esse quadro muda em
1968. E para justificar tal posicionamento, o autor cita alguns casos de
assaltos, ataques que resultaram em mortes, usos de bombas, que foram
praticados por diversos grupos armados no decorrer do ano de 68:
“De janeiro a dezembro daquele ano, guerrilheiros praticaram pelo menos vinte assaltos a banco e a automóveis, execuções, ataques a quartéis e atentados a bomba que resultaram em nove mortes e causaram ferimentos em soldados, seguranças de banco, motoristas e até pessoas que passavam pela rua” (NARLOCH, 2009, 206).
E para mostrar que não
está sozinho em sua opinião, o jornalista faz uso de citações do historiador
Marco Antônio Villa para corroborar suas ideias acerca dos grupos guerrilheiros
pré-64 e a formação de outros grupos antes do AI-5:
“Argumentam que não havia outro meio de resistir à ditadura, a não ser pela força. Mais um grave equívoco: muitos dos grupos existiam antes de 1964 e outros foram criados logo depois, quando ainda havia espaço democrático (basta ver a ampla atividade cultural de 1964-1968). Ou seja, a opção pela luta armada, o desprezo pela luta política e pela participação no sistema político e a simpatia pelo foquismo guevarista antecedem o AI-5 (dezembro de 1968), quando, de fato, houve o fechamento do regime” (VILLA, 2008).
Já não é mais uma
opinião declarada de um jornalista, mas há um apoio acadêmico para dar suporte
ao que tem sido dito por Narloch. E o jornalista sabe disso. Suas declarações
ganham mais peso quando corroboradas por um especialista. Deixa de ser o “eu
acho” para ser “tal pessoa estudou muito e sabe disso”.
Enquanto lemos o “Guia”,
temos a impressão que Narloch busca justificar a violência dos militares contra
a guerrilha, talvez se não é justificada, no mínimo é compreendida e aceita. “A
ditadura passou um trator de tortura em cima de um punhado de jovens com ideias
ingênuas, que dificilmente teriam força para tomar o poder. Isso pode ser
verdade, mas não era seguro pensar assim naquela época”. A menção de comunismo,
luta de classes, proletariado já era motivo para alarde e preocupação, estes
eram os terrores daqueles anos. “Qualquer notícia de movimentação comunista era
um motivo justo de preocupação. A experiência mostrava que poucos
guerrilheiros, com a ajuda de partidários infiltrados nas estruturas do Estado,
poderiam sim derrubar o governo” (NARLOCH, 2009, 209). Enquanto os
guerrilheiros viam os militares como inimigo, Leandro Narloch percebe o inimigo
no comunismo.
No início de seu
livro, o jornalista se propõe a combater os “historiadores militantes” da
esquerda. Mas, no decorrer de seu texto, é possível perceber que Leandro
Narloch, se não é historiador, é um jornalista militante de um liberalismo
cínico. O seu livro possui uma ideologia própria, um posicionamento político
claro. Quer não apenas combater e revisar as produções historiográficas, mas
instituir outra versão dos acontecimentos relacionados ao Golpe de 64.
O autor escreve o que
considera “a verdade” sobre os personagens envolvidos na guerrilha e as
atitudes do governo militar na repressão. Porém se faz de surdo, ao se recusar
a ouvir as outras vozes que emanam deste embate. Uma conversa entre os atores
políticos envolvidos que ultrapassa as classificações de heróis e vilões, nesse
jogo onde os papéis dos personagens mudam de lugar constantemente.
O jornalista vende seu
livro como se este contivesse a “verdade” inconveniente que a história de
esquerda prefere esconder. Mas, em uma coisa podemos reconhecer o valor do “Guia”,
o autor apontou para outra possibilidade de vislumbrar e compreender a história.
Seja pelos temas abordados ou pela linguagem que utiliza no texto. Seu livro é
capaz de alcançar um público que a produção crítica acadêmica não chegaria. Que
seja possível a estes leitores perceberem que aquilo que Narloch apresenta é
apenas mais uma versão da história, parcial e ideológica.
A linguagem fácil e
direta e os temas escolhidos criam uma ponte entre as narrativas e os leitores.
O texto possui uma didática própria, é instigante e possui qualidades literárias
que são muitas vezes ausentes dos livros didáticos escolares.
Então, o que fazer?
Esquecer as obras da esquerda e pregar interpretações liberais sobre a história
da ditadura, como o faz Narloch? Ou, ao contrário, ensinar sobre a resistência
e continuar demonizando a direita militar? Considero o “Guia” como importante
nesse debate, desde que confrontado com outras obras, outras vozes e outras narrativas.
Experiências que farão com o que possamos visualizar um quadro mais amplo sobre
o regime militar que ainda gera tanto incômodo e silêncios.
Referências
Leonardo Paiva do
Monte é mestre em História Social pela Universidade de São Paulo (USP).
BETTO,
Frei. Batismo de sangue. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1982.
FICO,
Carlos. Além do Golpe - Versões e
controvérsias sobre 1964 e a Ditadura Militar. Rio de Janeiro, Record, 2004,
pp. 20-21.
GABEIRA,
Fernando. O que é isso companheiro? São Paulo, Companhia das Letras, 1996.
GASPARI,
Elio. A ditadura envergonhada. São Paulo, Companhia das Letras, 2002.
________.
A ditadura escancarada. São Paulo, Companhia das Letras, 2002.
________.
A ditadura derrotada. São Paulo, Companhia das Letras, 2003.
________.
A ditadura encurralada. São Paulo, Companhia das Letras, 2004.
MARTINS FILHO, João
Roberto. A guerra da memória: a ditadura militar nos depoimentos de militantes
e militares. Texto preparado para o congresso da Associação de Estudos Latino-
americanos, Dallas, Texas, 27- 29 de março de 2003.
NARLOCH, Leandro. Guia
politicamente incorreto da história do Brasil. São Paulo: Editora Leya, 2009.
REIS
FILHO, Daniel Aarão. A revolução faltou
ao encontro: os comunistas no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1990.
ROLLEMBERG,
Denise. "Esquecimento das memórias", in MARTINS FILHO, João Roberto
(org.). O golpe de 1964 e o regime
militar: novas perspectivas. São Carlos: EdUFSCar, 2006.
SIRKIS,
Alfredo. Os carbonários. Rio de Janeiro: Record, 1998.
ESSENFELDER,
Renato. Ai, que saudades da ditadura in http://blogs.estadao.com.br/renato-essenfelder/2014/03/31/ai-que-saudade-da-ditadura/ Acesso em 22 de fev. 2018.
VILLA,
Marco Antonio. Falácias sobre a luta armada na ditadura. Folha de S. Paulo. 19
mai. 2008, in http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1905200808.htm Acesso em 30 fev.
2018.
Quando fui aluna do ensino básico, sempre entendi a Ditadura com o olhar do que o professor ensinou. Entretanto, hoje eu como estudante de história percebi que ao decorrer de diálogos e comentários sobre a Ditadura Militar no Brasil, a um impasse sobre essa questão do golpe. Minha dúvida é: Existia uma ameaça de um golpe comunista, ou seja, havia a presença de militantes da mesma no Brasil no decorrer da ditadura que objetivavam instalar uma ditadura do comunismo ? Se sim, há alguma fonte ou livro que possa explicar esse contexto melhor ?
ResponderExcluirE exceto o que sempre falam sobre João Goulart (reformas de base), ele tinha alguma influência sobre, ou foi um discurso criado para instaurar o governo dos militares ?
Jessica Monteiro Viana de Andrade.
Este comentário foi removido pelo autor.
ExcluirOlá, Jéssica.
ExcluirPara começar a entender a efetivação de uma ditadura no Brasil, temos de lembrar do contexto político da época: 1) Cuba havia passado por sua revolução; 2) a União Soviética era uma potência de fato; 3) as forças armadas brasileiras eram intervencionistas (houve outros pequenos golpes políticos ao longo da república). O comunismo era como um fantasma que realmente amedrontava.
Sugiro a leitura de um livro escrito pelo Marcos Napolitano (1964: História do Regime Militar Brasileiro). Ele aborda de forma contextualizada as questões da ditadura.
Leonardo Paiva
Boa noite Leonardo,
ResponderExcluirComo você bem demonstra no texto, há claramente uma certa curiosidade sobre temas históricos entre o público leigo. No entanto, é evidente, como você fala, que essa curiosidade parece se limitar principalmente às obras produzidas por profissionais afastados da História, principalmente jornalistas. Você acredita que o que distancia esse público de tetos acadêmicos são somente questões estilísticas ou de afinidade política, ou considera que viés metodológico e os recortes históricos escolhidos também podem ter influência nesse interesse? E como você acha que a influência exercida pelo discurso propagado por esse livros pode ter um contraponto que angarie interesse similar em sala de aula?
Renan Jacquet
Este comentário foi removido pelo autor.
ExcluirOlá, Renan.
ExcluirOs jornalistas se aproximam mais dos leitores por uma gama de motivos: propaganda midiática de seus trabalhos, foco em acontecimentos burlescos do passado, satirização da história, o mercado dita as regras. Os historiadores escrevem para seus pares acadêmicos, com poucas exceções (Lilia Schwarcz, Mary del Priore etc.)
A narrativa de autores como Narloch é fácil, irônica, ainda que repleta de preconceitos e inverdades, muitos desses bem presentes no imaginários da pessoas. O professor não pode ignorar esses discursos, muito menos legitimá-los. Criar debates me parece a melhor maneira de trabalhar com eles.
Leonardo Paiva
Boa tarde, Leonardo!
ResponderExcluirTive a oportunidade de ler o Guia Politicamente da História do Brasil, Bem como o da História da América Latina e não os considero boas obras, pelo menos não historiográficas, o que é plausível, afinal as narrativas dos capítulos, no geral, são construídas utilizando bibliografias e algumas fontes, mas não há método historiográfico, portanto, não há escrita da História. São narrativas escritas por um jornalista tendencioso com um único objetivo: fazer de seus textos uma espécie de militância à direita.
Concordo com você quando menciona a linguagem simples do livro, mas desacredito que somente isso e a proximidade dos temas estabelecidos pelo jornalista no livro atraiam leitores. Em minha ótica a popularidade dos "Guias Politicamente Incorretos" se deu, principalmente, por causa da publicidade, afinal, livros sobre a História do Brasil com uma linguagem simples e temas concisos são abundantes no comércio brasileiro, como a História Concisa do Brasil, de Boris Fausto, por exemplo.
A grande questão que observo tanto na vulgarização desses Guias, quanto na importância das redes sociais (principalmente o Youtube e seus "influencers") é a distorção de temas que já se tornaram consenso no mundo acadêmico. Como por exemplo, a relativização do espectro político do Nazismo que, foi colocado no Guia Politicamente Incorreto da História do Mundo, como um regime de esquerda.
Enfim, o que você pensa que podemos fazer acerca da proliferação de tais discursos que por vezes são anacrônicos e etnocêntricos? Como podemos, em sala de aula, atentar os educandos para a perversidade de falsos historiadores nos diversos meios de comunicação?
Edmilson Antonio da Silva Junior
Olá, Edmilson.
ExcluirComo não temos o controle sobre os discursos que surgem diariamente acerca do passado, creio que nosso papel como educadores/historiadores é o de confrontar as narrativas historiográficas, buscando compreender como elas são possíveis e construídas.
Bom dia, Leonardo.
ResponderExcluirO texto que apresenta é de extrema importância para pensarmos nas formas que a História tem se difundido na sociedade brasileira, e também nas limitações e barreiras que as produções historiográficas enfrentam para chegar até o público não acadêmico. O grande desafio parece ser conseguir produzir obras históricas que apresentem uma escrita mais fluida e palatável ao grande público, de forma que a História se torne uma leitura comum e habitual. Neste sentido, qual alternativa para que possamos escrever de maneira que atenda às exigências formais da academia e que possa ser de interesse ao mesmo tempo da população em geral?
Atenciosamente!
Lucas Alves da Silva
Olá, Lucas.
ExcluirA proximidade com as teorias e ferramentas literárias somados à pesquisa historiográfica seria importante para a composição de textos mais palatáveis . Posso citar como exemplo os livros da Lilia Schwarcz e do Eric Hobsbawm. Ambos tiveram alguns de seus livros entre os mais vendidos, mas não precisaram abdicar do rigor acadêmico para esse feito.
O rigor do trabalho não deve ser apenas no momento da pesquisa, mas no da escrita e revisão também.
Leonardo Paiva
Narloch se sufoca em sua própria escrita através de seus métodos ultrapassados sua teoria tendenciosa e o mais grave a maneira criminosa a qual trata sua historiografia. É este o lugar que a historia publica deve ocupar para que irresponsáveis como este não sejam as vozes da historia para a grande massa que encontra-se fora da academia.
ResponderExcluirParabéns pelo trabalho texto muito coerente
Marcos Vinícius Andrade Gomes
Olá, Marcos.
ExcluirA história pública deveria ter um papel importante na construção e divulgação do conhecimento histórico. Mas, posso estar enganado, percebo que os historiadores profissionais ainda produzem para seus pares.Talvez nem seja culpa exclusiva dos acadêmicos, pois temos de considerar o mercado editorial e as exigências profissionais (produtividade, Lattes etc.).
Leonardo Paiva
Olá, professor Leonardo!!
ResponderExcluirAtualmente, vivemos um período de extrema polarização política no país. Existe um clima de instabilidade constante, o que faz "guias" como o de Narloch ganharem espaços na preservação da memória da direita.
Nesse momento complicado de grandes incertezas, você acredita, (como foi a fala de Carlos Fico),que jornalistas, cientistas políticos e sociólogos, ainda estão mais preocupados com essas analises, ou que já existem historiadores mais qualificados para relatarem uma narrativa do tempo presente, evitando assim a guerra entre narrativas, como aconteceu no período da Ditadura Civil-Militar?
CLÉSIO ALVES DE OLIVEIRA
A escrita de textos tendenciosos está cada vez mais comum, seja do lado direito ou esquerdo. Nós, historiadores, temos uma extrema dificuldade em encontrar fontes seguras e documentos que relatem como realmente foi o período da ditadura. Acredito que essa escassez de obras confiáveis que tratem sobre a ditadura seja devido a essa dificuldade na encontra de fontes, pesquisamos muito para que, de certa forma, não sejamos como o Narloch e sua escrita tendenciosa. Deixo aqui a minha pergunta: Em sala de aula, para aqueles alunos que ainda estão em seu processo de formação social, cultural e político, como podemos transferir o nosso conhecimento sobre tal período histórico sem que interfira nessa construção interna na qual o aluno está passando? Teria algum tipo de metodologia de ensino que não interferisse na formação ideológica do indivíduo?
ResponderExcluirSARAH AQUINO DE OLIVEIRA SILVA
Olá, Sarah.
ExcluirO conhecimento, de uma forma ou outra, interferirá na "construção interna"do aluno, como você colocou. Especialmente um tema delicado como a ditadura, precisamos ajudar os alunos a perceberem o quão nocivo um regime ditatorial é para a sociedade. O autoritarismo, a violência, os direitos humanos, por exemplo, são temas que precisam interferir no desenvolvimento dos alunos, para que reconheçam o que defender e o que precisa ser rechaçado.
Leonardo Paiva
Os livros assim como a série que passa no History são bastante intrigantes e temos que ter cuidado quanto a criteriosidade dos fatos pois ele é um jornalista e como ele mesmo disse ele quis fazer uma afronta aos politicamente corretos no caso do artigo, os militantes.
ResponderExcluirPoderia se fazer o uso desses livros em sala de aula? Você já citou o ponto de vista de Narloch a respeito da Ditadura para seus alunos? Se sim como foi o debate?
Olá, Aline.
ExcluirDe fato não se pode exigir de uma obra de divulgação o rigor acadêmico, metodologias, teorias etc., a discussão nem se pauta nisso, mas sobre honestidade intelectual.
Não utilizaria os "Guias" em sala de aula, a historiografia tem produzido ótimos materiais sobre a ditadura brasileira. Conduziria, sim, um debate se questões fossem levantadas tendo como base a narrativa de Narloch.
Leonardo Paiva
Caríssimo Leonardo Monte,
ResponderExcluirLi o seu texto, Parabéns pela discussão que você consegue promover!
É notável que muitas produções de cunho jornalístico sobre a Ditadura Militar foram editadas após o regime. Isso não se deu apenas pelo fato de haver um interesse de apresentar verdades sobre a Ditadura, mas também por questões de mercado. De fato, a academia se preocupa muito em escrever para seus pares. Para alcançar o público em geral historiadores recorreram a micro história, como são os exemplos de “O Queijo e os Vermes”, de Carlo Ginzburg, e o “Retorno de Martin Guerre”, de Natalie Z. Davis. Seria possível escrever uma micro história sobre as experiências da ditadura militar no Brasil e/ou mesmo na América Latina direcionada a um público leigo? Penso que é importante para o historiador em sala de aula o uso de diferentes materiais didáticos e não didáticos, principalmente aqueles que os educandos tem acesso facilmente, para uma discussão sobre em que interesse e circunstâncias foram produzidos. De que forma esses materiais como os de Narloch podem ser desmantelado na sala de aula?
Atenciosamente,
Rivaldo Amador de Sousa
Olá, Leonardo Monte.
ResponderExcluirQueria saber sobre a relevância que tem a ideologia na produção de discursos. Já não é novidade que ela existe e sempre está presente, mas como, dentro de uma situação de embate de discursos, legitimar o conhecimento? Como alguém que defende e alguém que ataca o período ditatorial podem alcançar uma situação que satisfaça esse embate, sabe? A sapida seria o Agir comunicativo habermasiano?
Atenciosamente,
Jhonatan Júnior Alcântara
Olá Leonardo, parabéns pelo texto! Não há dúvidas que outros profissionais, inclusive jornalistas, podem escrever sobre temas históricos, desde que busquem fontes confiáveis, baseiem seus trabalhos em uma pesquisa rica em fontes dos mais diversos tipos, dando voz a todos os personagens históricos envolvidos. Do contrário, o autor estará cometendo graves erros, caindo em estereótipos, senso comum e tornando sua obra apenas uma propaganda ideológica/partidária. Acredito que é isso que Leandro Narloch fez em seu livro, na ânsia de desmoralizar historiadores tradicionais em nossa historiografia, ele mesmo tornou sua obra uma propaganda de viés liberal, conservador, direitista. Penso que o discurso histórico não é algo neutro, totalmente imparcial. Isso não é possível. Mas, também não considero correto querer desmoralizar trabalhos históricos de grande aceitação nacional e já estabelecidos em favor de um trabalho que se diz "a nova história", "a história politicamente incorreta", "a verdadeira história", que no final não passa de uma propaganda revanchista.
ResponderExcluirOscar Martins Ribeiro dos Santos