Walace Ferreira

O PROGRAMA ESCOLA SEM PARTIDO, SEUS ATAQUES À ESCOLA DEMOCRÁTICA E OS IMPACTOS SOBRE OS CURRÍCULOS DE HISTÓRIA E SOCIOLOGIA


Introdução
Este trabalho trás uma analise sobre os impactos no ensino da História e da Sociologia do programa Escola sem Partido (ESP), considerando tanto as forças conservadoras que constituem o seu movimento, quanto suas propostas de lei.

A História e a Sociologia lidam com assuntos e bases teóricas que envolvem a produção de uma leitura de mundo que reafirma sua historicidade e sua materialidade. Propõem, portanto, a problematização das dinâmicas sociais, estimulando o aluno ao desenvolvimento de uma orientação crítica sobre a maneira como a realidade é contada, ou seja, em decorrência da relação de forças sociais, políticas e econômicas.

Ambas as disciplinas dialogam entre si numa variedade de temas, se não bastasse a Sociologia basear-se na História para a construção de muitas de suas análises. Por sua vez, o ESP, se não bastasse o estímulo ao denuncismo e ao controle no âmbito escolar, bem como a redução da relação ensino-aprendizagem a uma lógica de consumo, evoca uma pretensa neutralidade no seu anteprojeto que inevitavelmente ameaça muitos dos conteúdos do currículo de História e Sociologia a uma perspectiva unidimensional e estéril.

O Movimento Escola sem Partido e seus projetos de lei
Ao falar do ESP, em primeiro lugar, precisamos considerar tanto as forças que constituem o seu movimento quanto as propostas de lei que o representam. Existem projetos que tramitam na Câmara, no Senado e em diversas casas legislativas pelo país, de modo que integram um pacote de contrarreformas juntamente com o projeto de lei de reforma do Ensino Médio (PL 746/2016) e com a PEC 55/2016 (ex-PEC 241). É nesse sentido que o ESP deve ser lido sob a perspectiva conservadora que se difunde pelo país, fruto de um contexto de acirramento político marcado pelo crescimento de uma vertente autoritária que emergiu nos últimos anos e em especial após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

Criado em 2004, o ESP apresenta-se como uma iniciativa conjunta de estudantes e pais preocupados com o que chamaram de “grau de contaminação político-ideológica das escolas brasileiras”. A centralidade de suas ações e concepções está num site que atua com os objetivos de veicular ideias, instrumentalizar denúncias, disseminar procedimentos de vigilância, além de controlar e criminalizar o que seus membros entendem como “práticas doutrinárias” realizadas em salas de aula e presentes em materiais escolares e acadêmicos, livros didáticos e programas formativos. O ESP também concentra forças nas redes sociais, tendo no facebook uma página com os mesmos propósitos.

Segundo o sítio do programa, todas as salas de aula do ensino fundamental e médio devem ter um cartaz com o seguinte conteúdo relacionado aos deveres do professor:
 
Imagem 1
https://www.google.com.br/search?q=deveres+do+professor+escola+sem+partido&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwiohPSiqOPZAhUKOZAKHfBhCpwQ_AUIDCgD&biw=1366&bih=588#imgrc=OGMj1MktP7vsIM:

O fundador do movimento é o advogado e procurador do Estado de São Paulo Miguel Nagib, que se declara publicamente em nome da organização. Conforme nos lembram Espinoza e Queiroz [2017], Nagib foi articulista e doador do Instituto Millenum (Imil), um dos mais representativos think-thanks do pensamento liberal brasileiro, o que nos revela a orientação ideológica que marca o começo do movimento e que influencia muitas de suas manifestações.

A despeito de o programa se dizer apartidário, seu site exibe um rótulo chamado “ESP nas eleições 2016”, onde se podem encontrar políticos apoiadores do movimento. Muitos deles, inclusive, têm realizado propostas baseadas no anteprojeto disposto no sítio do ESP nas casas legislativas onde atuam. No plano federal destacam-se PL 867/2015, que tramita na câmara, de autoria do deputado Izalci Lucas Ferreira (PSDB/DF); e o PLS 193/2016, que está no Senado, de autoria do senador Magno Malta (PR/ES). Ambos propõem a alteração da LDB 96 com a inserção dos aspectos defendidos pelo programa.

Numa leitura do ESP segundo a perspectiva conservadora que se difunde pelo Brasil, Frigotto [2017] salienta:

“As teses do Escola sem Partido não podem ser entendidas nelas mesmas e nem como algo que afeta apenas a escola e os educadores. Pelo contrário, um olhar na perceptiva da historicidade dos fatos e fenômenos, vale dizer, das determinações mais profundas e menos visíveis que os constituem, indica-nos que se trata de algo já sedimentado nas relações sociais” [FRIGOTTO, 2017, p. 18].

O movimento está ligado a uma agenda multifacetada de propostas políticas que impede o acesso da juventude brasileira não apenas a frações do conhecimento, mas ao próprio conhecimento e ao fazer científico, seja pela intenção de incentivar o impedimento formal da abordagem de determinadas questões no âmbito pedagógico, seja pela falta de oferta curricular que privilegia determinados saberes em detrimento de outros [FERREIRA; FILHO, 2017].

O contexto em que vivemos trás à tona o pensamento de Istán Mészáros [2002], que atribui a crise atual a um movimento universal que atinge todas as esferas da vida, além de se tratar de um problema agudo e destrutivo de uma série de direitos. Nesse sistema, cada vez mais irracional, temos assistido a redução da força do poder político dos Estados nacionais e a transferência do governo do mundo para os organismos internacionais.

O ESP aparece no cerne das mudanças culturais que fazem parte desse grande sistema voltado para o lucro. É nesse contexto que, para os partidários desse programa, a educação responde aos interesses do grande capital [FRIGOTTO, 2017]. Demonstração expressa disso está nas palavras do próprio Nagib, que afirmou em entrevista numa Audiência Pública no Senado Federal, em setembro de 2016, que o ESP é baseado no Código de Defesa do Consumidor, portanto reduzindo a relação ensino-aprendizagem a uma mera relação de consumo:

“O nosso projeto foi inspirado no código de defesa do consumidor. O Código de Defesa do Consumidor intervém na relação entre fornecedores e consumidores para proteger a parte mais fraca, que é o consumidor, o tomador dos serviços que são prestados pelos fornecedores. Da mesma maneira, a nossa proposta intervém na relação de ensino-aprendizagem para proteger a parte mais fraca dessa relação que é o estudante, aquele indivíduo vulnerável, que está se desenvolvendo” [NAGIB, Miguel, 2016].

Os defensores do ESP criticam a escola, os professores, algumas das referências teóricas utilizadas no campo da educação, os livros didáticos e colocam os alunos como vítimas de um processo “doutrinário”. Para Penna [2016], esse trabalho de desqualificação não ocorre através de uma argumentação racional, mas por meio de uma série de ataques pessoais e de imagens, muitas delas caricaturas de profundo mau gosto, que representam o professor, a escola e seus pensadores como ameaças a crianças inocentes, mesmo que não haja qualquer dado substantivo que apoie essa generalização indevida.

A desconfiança em relação ao educador é um dos pilares do programa e se traduz numa ameaça constante ao seu trabalho em sala de aula, entendendo-o como um tradutor “perigoso” do conhecimento diante de estudantes supostamente vulneráveis à chamada doutrinação. Nessa linha de desvalorização do papel docente, ao participar de um debate na Globo News [2015], o fundador do movimento disse:

“Nenhum pai é obrigado a confiar em um professor. Nenhum pai. O professor quando fecha a porta da sala de aula, ele é o dono do espetáculo. Se ele tiver uma boa formação e tiver bons princípios, sorte do aluno, mas e se não tiver? Como saber? Não é verdade? E há uma infinidade de pessoas que são mal preparadas e que cujos valores – eu nem entro no mérito se são bons ou ruins – mas que não coincidem com os valores da família” [NAGIB, 2015].

Diante dessa visão, Ferreira e Filho [2017] salientam que o ESP estimula explicitamente o denuncismo, o controle, a insegurança e o cultivo a valores nocivos pedagogicamente que em nada contribuem para a construção de um ambiente saudável, de confiança e diálogo. Trata-se da aposta na instauração de uma ordem por meio de ameaças, da imposição do medo e da fertilização do discurso de ódio. Em vez da harmonia, coesão e produção de conhecimento, instiga alunos e pais ao papel de delatores. Há relatos substantivos de que professores têm sido denunciados e acusados de doutrinação em diversas salas de aula pelo Brasil, inclusive a partir de gravações de áudio e vídeo realizadas durante as aulas por estudantes com aparelhos celulares.

E ainda argumentam:

“Há professores com orientações subjetivas diversas, afinal todo indivíduo é único em sua formação, constituída a partir de trajetórias, experiências, interpretações e escolhas ímpares. Isto é basilar na existência humana e base da ciência social. Toda expressão acerca de algo é, portanto, ideológica, considerando ideologia como visão de mundo, como manifestação da subjetividade do indivíduo acerca do que lhe cerca. A objetividade, o discurso estéril, puramente instrumental e desconectado do meio social no qual se inscreve é impossível na dimensão humana do ser. Não há nada de nocivo ou pernicioso nisso, pois é justamente das apreensões diferentes acerca da realidade que surge o debate. A dialética simples composta por tese, antítese e síntese estaria condenada por este projeto?” [FERREIRA; FILHO, 2017, p. 72].

Os impactos nas abordagens curriculares de História e Sociologia

A História e a Sociologia trabalham com leituras de mundo e interpretação crítica dos fenômenos sociais, despertando no aluno uma reflexividade que os façam capazes de entender os fenômenos históricos como produto das transformações da realidade política, econômica e social. O ESP censura a liberdade de pensamento e a reflexão crítica, itens caros ao currículo de ambas as disciplinas.  Como alertado por Gadotti [2016]:

“Estamos diante de uma iniciativa que visa a retirar da escola seu papel essencial de formar para a democracia, o que demonstra o caráter autoritário deste movimento. Com isso, quer-se evitar que as crianças possam tomar a palavra. Querem construir uma escola de egoísmos, de individualismo, de competitividade insolidária, que são os valores do capitalismo selvagem que defendem. Competir em vez de compartilhar” [GADOTTI, 2016, p. 156].

Ao inviabilizar algumas questões, amedrontando o docente que ouse tocar em temáticas polêmicas, o ESP aliena os estudantes de exercitarem a reflexão crítica sobre a realidade com vistas a transformá-la. Alimenta a ideia de que a função da escola pública é silenciar sobre os conflitos sociais, estimulando a acomodação e o individualismo, respondendo somente às demandas instrumentais do mercado de trabalho.

Quando observamos a aproximação dos currículos da Sociologia e da História, deparamo-nos com vários temas que seriam colocados sob ameaça no caso da aprovação de leis que encampem as diretrizes do Escola sem Partido. Como tratar em aula, por exemplo, das mobilizações políticas recentes do país e das revoluções históricas mundiais sem ser confundido com alguém que apoia a organização dos jovens diante da política, o que já é extremamente questionável? A linha tênue entre a abordagem e a doutrinação somada com a subjetividade analítica sobre o que é uma coisa ou outra pode fazer com que professores se calem diante de temáticas urgentes ou até mesmo retirem esses temas fundamentais dos currículos por medo de denúncia.

Da maneira como os currículos são praticados, estudamos o racismo em virtude da escravidão no Brasil colonial, não podendo negar a realidade brasileira ainda marcada por traços discriminatórios, o que se manifesta veladamente por meio dos dados estatísticos desiguais e de práticas dissimuladas de ofensas raciais.  Já o etnocentrismo e o relativismo cultural são compreendidos pela sua ligação à formação da sociedade brasileira, marcada por uma falsa democracia racial.

Decorre da origem desigual das relações sociais brasileiras a permanência até hoje da desigualdade de gênero, decorrência direta do patriarcalismo advindo da nossa herança escravista. Esse tema é um dos mais atacados pelo movimento ESP, que praticamente defende a proibição da temática sobre gênero nas escolas, sob a acusação de que sua discussão viola os princípios da família e que a escola tem estimulado orientações de gênero distintas da tradicional.

A imagem abaixo, publicada na página do facebook do movimento, revela a crença de adeptos do ESP de que professores alinhados com determinada corrente política seriam causadores da “doutrinação de gênero”. Nela, um professor, de camisa vermelha e estrela no peito, “enfia pela guela” informações sobre gênero (representada pelo arco-íris – símbolo do movimento LGBT).

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https://www.google.com.br/search?q=escola+sem+partido+goela+abaixo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwjXveegquPZAhUMDZAKHWa2BhoQ_AUIDCgD&biw=1366&bih=588#imgrc=SCd1-G87E29AiM:

Seguindo nos temas abordados tanto pelo currículo de História quanto pelo de Sociologia, e que seriam ameaçados pela lógica do ESP, observamos que a reestruturação produtiva e a flexibilização do trabalho atualmente em desenvolvimento nas sociedades capitalistas, e fortemente avançadas no Brasil com a aprovação da reforma trabalhista, distanciam-nos cada vez mais do modelo de desenvolvimento varguista caracterizado, entre outros aspectos, pela criação da legislação trabalhista brasileira. Não se trata de juízo de valor, apenas da constatação de mudanças inseridas ao longo das últimas décadas na estrutura trabalhista do país.

Outros temas são a democracia e a cidadania, que nos remetem a inúmeros exemplos históricos recentes, como às Diretas-Já, às manifestações de 2013, aos Caras-Pintadas e ao Fora Dilma. Se o ESP defende que o professor não “incitará seus alunos a participar de manifestações, atos públicos e passeatas”, como tratar de uma temática que envolve a ação direta da juventude em torno de demandas políticas relevantes do país?

Também é fundamental no trato da desigualdade brasileira uma abordagem sobre a persistente questão fundiária, que nos leva a estudar a origem do Brasil com a demarcação das capitanias hereditárias, e passa pela ausência de uma reforma agrária efetiva, especialmente no século XX, e pela preservação ainda hoje de grandes latifúndios nas mãos de famílias de políticos locais e nacionais.

Em termos internacionais, a Sociologia alicerça-se na História quando, por exemplo, aborda o conflito capitalismo X socialismo na sua vinculação à Guerra Fria, e o faz sem qualquer tomada de partido, pelo contrário, apenas demonstrando o embate ideológico que se deu naquele período e os reflexos para o mundo contemporâneo. Dentre estes, temos, diante da vitória do sistema capitalista, o desenvolvimento de uma perspectiva neoliberal que, inclusive, é retomado com força no Brasil pós impeachment. Como negar esses fatos aos estudantes? Não se trata de uma ideologização, mas de apresentar versões realistas sobre a historicidade na qual estamos inseridos.

Finalmente, uma temática central de ambas as disciplinas são o direitos humanos, combatida pelos adeptos do Escola sem Partido, que inclusive questionam a necessidade de os candidatos do ENEM valorizarem-na nas redações. Como negar que se trata da evolução de direitos que começaram nos ideais da Revolução Francesa e se desenvolveram com os direitos civis, sociais e econômicos pelos séculos seguintes, saindo do âmbito europeu e ganhando boa parte do mundo ocidental. Trata-se, por fim, de reconhecer direitos fundamentais para a existência do mundo civilizado.

Considerações finais
Diante de uma conjuntura difícil pela qual a sociedade brasileira tem passado, num momento em que a educação enfrenta enormes desafios, o Escola sem Partido dispõe de uma orientação conservadora no intuito de reduzir ainda mais a função do professor e de tolher toda uma geração do horizonte reflexivo e crítico oferecidos pela Sociologia e pela História.

Obviamente a escola não tem que ter partido, porém não no modelo deste programa, mas sim uma escola que cultive o compromisso com a ciência, com o desenvolvimento da técnica articulada a uma visão crítica de mundo, independente e laica, que respeite os direitos humanos, que contribua para a emancipação das minorias e que produza cidadãos conscientes e comprometidos com o bem estar comum, o que passa necessariamente pela percepção política acerca do que está posto no mundo.

Ainda que o Projeto ESP não seja aprovado no plano federal e mesmo com as principais instituições jurídicas do país estar indicando que se trata de um projeto inconstitucional, temos que destacar que muitos filhotes têm sido aprovados em âmbitos municipais e muitos outros projetos seguem sendo debatidos em casas legislativas.

Ademais, professores têm sofrido ameaças e intimações extrajudiciais, o que mostra que a vertente autoritária do movimento está viva e reforça a necessária discussão acerca do tipo de sociedade que queremos para o nosso futuro: uma sociedade democrática e livre ou uma sociedade censurada e autoritária. As consequências históricas de cada uma já são conhecidas.

Referências
Walace Ferreira é doutor em Sociologia pelo IESP/UERJ e Professor Adjunto de Sociologia do CAp-UERJ. E-mail: walaceuerj@yahoo.com.br

ESPINOSA, B. R. S; QUEIROZ, F. B. C. Breve análise sobe as redes do Escola sem Partido. In: FRIGOTTO, G. (org.). Escola “sem” partido: esfinge que ameaça a educação e a sociedade brasileira. Rio de Janeiro: UERJ, LPP, 2017.

FERREIRA, W.; FILHO, A. A. A serpente pedagógica: O projeto Escola sem partido e o ensino de Sociologia no Brasil. Revista E-mosaicos, n. 12, 2017. Disponível em: http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/e-mosaicos/article/view/30272.

FRIGOTTO, G. A gênese das teses do Escola sem Partido: esfinge e ovo de serpente que ameaçam a sociedade e a educação. In: FRIGOTTO, G. (org.). Escola “sem” partido: esfinge que ameaça a educação e a sociedade brasileira. Rio de Janeiro: UERJ, LPP, 2017.
GADOTTI, M. A escola cidadã frente ao “Escola sem Partido”. In: Ação Educativa (Org.). A ideologia do movimento Escola Sem Partido: 20 autores desmontam o discurso. São Paulo, 2016.

MÉSZÁROS, I. Para além do capital. São Paulo: Boitempo, 2002.

NAGIB, M. Audiência Pública para debater a liberdade de expressão na sala de aula. In: https://www.youtube.com/watch?v=jwGErV-1zUo, 2016.

NAGIB, M. Entre Aspas (Mônica Waldvogel) Debate sobre sexualidade na grade de ensino escola. In:
https://www.youtube.com/watch?v=iNSC1rNOz74, 2015.

PENNA, D. A. O Ódio aos Professores. In:
https://professorescontraoescolasempartido.wordpress.com/2016/11/14/o-odio-aos-professores-se-profissionaliza/, 2016.

34 comentários:

  1. Olá, Walace. Primeiro queria lhe parabenizar pela iniciativa de investigar um tema tão atual e importante quanto este. O seu objeto de estudo me interessa bastante, pois também trabalho com questões pertinentes à História do Tempo Presente. A minha dúvida seria mais sobre se você entrou em contato com outras páginas do Facebook que defenderam/difundiram o projeto "Escola Sem Partido". Por exemplo, o MBL - Movimento Brasil Livre, foi um dos principais divulgadores do projeto, conseguindo que muitos de seus "sócios" políticos aprovassem os projetos em suas cidades no ano passado. Você deu uma olhada em alguma página dessa para tratar como fonte? Sei que não foi o objetivo do seu texto, mas penso que seria interessante colocar esses coletivos na discussão, agregaria muito ao seu trabalho.

    Mais uma vez: Parabéns pelo ótimo trabalho!
    Um abraço.

    Matheus Henrique Marques Sussai

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    1. Olá Matheus, obrigado pelos comentários e pela petinente dica. Trata-se de um tema que tem contato interdisciplinar e que encontra-se na ordem do dia de todos aqueles que defendem uma educação livre e democrática. Participei de um congresso ano passado apresentando um paper parecido e uma colega da Psicologia chamou atenção para um trabalho que poderia ser feito sentindo os impactos dessas mudanças no dia-a-dia dos professores afetados. Infelizmente, sabemos que o programa já foi aprovado em algumas localidades e o resultado cotidiano tem sido de amedrontamento e vigilância. Mas creio que no plano nacional ele não vai passar. Neste texto pensei numa perspectiva curricular partindo da Sociologia, que é minha área. Sua dica cairia muito bem num trabalho futuro em que fossem aprofundadas as bases de sustento do movimento, inclusive envolvendo forças políticas de vertente conservadora. Sobre o MBL, especificamente, não cheguei a pesquisar sobre a contribuição desse grupo à divulgação do movimento. Recorri a muita coisa publicada no facebook pelo Prof. Fernando Penna da UFF, você o conhece? Trata-se de ótimo subsídio de pesquisa. Deixarei aqui o link de um artigo mais amplo que publiquei recentemente sobre o ESP, o qual pode te ajudar. Vale a pena você dar uma olhada: http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/e-mosaicos/article/view/30272.

      Grande abraço,
      Walace Ferreira

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  2. Walace, parabéns pela inciativa do trabalho!Penso que publicações a respeito do projeto Escola Sem Partido, são formas de combate legítimas e devem estar nos debates acadêmicos. Como você colocou, ainda que não seja aprovado na instância nacional, em diversos estados, principalmente no âmbito municipal é possível perceber a influencia deste projeto seja formal ou informalmente. Eu sou de Londrina , Paraná, aqui o projeto tem um representante na câmara dos vereadores que iniciou uma cruzada em prol do ESP. Tenho contatos na rede municipal, que me disseram que muitos professores concordam com este tipo projeto. Tenho duas perguntas: 1) Como é a repercussão deste projeto em sua cidade? 2)Como você percebe a adesão de certos professores a tal projeto?

    Erica da Silva Xavier.

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  3. Oi Erika, a influência do movimento no Brasil tem sido preocupante para todos aqueles que lutam por uma escola livre e democrática, e segue a mesma proporcão dos movimentos conservadores, reacionários e de direita que estão postos na sociedade brasileira. Me assusta ver professores a favor do ESP, logo aqueles que são os mais afetados por iniciativas dessa natureza, mas percebo que essa adesão tem ocorrido em maior número por colegas de Exatas. É lamentável observar essa cisão dentro de algumas escolas, o que prejudica um movimento unificado dos professores em prol de determinadas lutas. Espero ter respondido sua segunda pergunta. Quanto a primeira, no Rio de Janeiro, cidade onde trabalho, tem um movimento considerável em favor do ESP tanto em âmbito municipal quanto estadual. O estado fluminense conta com a participação da família bolosnaro capitaneando o projeto. Eles têm muita força eleitoral, puxados pela influência do pai, o deputado federal Jair Bolsonaro, que já está na sétima legislatura em Brasília. Mas existem vários outros vereadores e deputados estaduais brigando pelo ESP na cidade e no estado do Rio, especialmente vinculados à bancada evangélica e de vertente autoritária.

    Mas também existe aqui no Rio um movimento forte de professores contra o ESP, a exemplo do trabalho que tem sido levado a frente pelo professor da UFF Fernando Penna. Você o conhece? Sobre esse movimento contra o projeto, recomendo procurar no facebook o grupo "Professores contra o Escola sem Partido".

    Um abraço, grato pela participação e à disposição,

    Walace Ferreira.

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  4. Boa tarde.

    Primeiramente, parabéns pelo texto Prof. Walace. Muito pertinente para pensarmos os tempos de ódio em que vivemos. Na parte final da reflexão o professor menciona sobre os “filhotes da ESP”, projetos menores que aos poucos estão sendo aprovados em esferas regionalizadas e que, apesar de tratarem objetivamente do mesmo teor da sua “mãe”, são sim muito influenciados por ela. Nesse sentido, gostaria de saber qual sua opinião acerca de estratégicas que nós, enquanto professores, poderíamos estabelecer para que essa mentalidade autoritária não ganhe mais adeptos? Teria, sob sua visão, uma forma dialógica de solução, sem embate?

    Um abraço.
    Eloi Giovane Muchalovski

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    1. Essa resposta é controversa. Há os pacifistas e aqueles que entendem que apenas o embate pode trazer soluções. Eu sou da vertente mais pacifista e que acredita na construção por meio da argumentação. Nesse sentido, acho que um caminho importante pode ser construído mostrando aos alunos que não existe visão neutra de mundo. As discussões tem lado e as escolhas tem consequencias. Talvez seja o caso de mostrar argumentações e mobilizações históricas que levaram às guerras, às destruições e aos crimes humanitários, por um lado, e contrapô-las com argummentações que promoveram a paz, a justiça e que lutaram pelo pacifismo. De repente, uma demonstração dessa envergadura, o que é complexo, seja bem melhor que apenas defender um lado em sala de aula, já que acaba soando ideológico e não leva o aluno a perceber as razões que nos levam a defender o lado parcimonioso da história. Espero ter explicado. Qualquer coisa, estou à disposição.

      Abraço,
      Walace Ferreira.

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  5. Olá Wallace. Parabéns pelo texto. Gostaria de saber se você tem conhecimento de grupos ou de projetos que também discutam este tema, e sobre sua opinião à respeito do que os jovens pensam atualmente a respeito. Eles entendem a intenção da proposta e sabem analisar corretamente o mesmo? Obrigada.

    Att,

    Crislli Vieira Alves Bezerra

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    1. Oi Crislli, Obrigado pelo elogio. Então, a percepção que tenho é que os jovens estão perdidos quanto a essa discussão. Exemplo disso são os altos índices de eleitores em candidatos de direita por parte dos jovens brasileiros. Afinal o ESP soa como um projeto desta direção política. Isso significa que o trabalho em sala de aula, mas não de doutrinação, e sim de conscientização, precisa ser feito com mais correção e afinco por parte de todos que defendem uma educação livre e democrática.

      Sobre esse tema, conheco uma dissertação de mestrado feita no Rio, duas coletâneas, uma inclusive organizada pelo Prof. da Uerj Gaudêncio Frigotto, e alguns trabalhos compilados pelo Prof. da UFF Fernando Penna. Se você tiver interesse me mande um e-mail que te encaminho tudo isso. É walaceuerj@yahoo.com.br.

      Um abraço,
      Walace Ferreira.

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  6. Humberto Bruno Santos de Moura11 de abril de 2018 às 15:03

    Wallace Ferreira, gostaria de parabenizá-lo pelo trabalho levantar um breve questionamento: Creio que é visível o fato de que os argumentos do ESP não têm embasamento científico, nem mesmo uma comunicação com o real, mas trata-se de mais uma vertente da onda conservadora que tem assolado nossa democracia sem a necessidade de se fazer coerente. Acontece que o discurso fácil e apelativo, que evoca a tradição, a visão de mundo e os preconceitos da população tem considerável aceitação frente à sociedade civil. Sabendo da importância da sociedade civil nesse processo de disputa, o que pode ser feito da nossa parte para garantir que as pessoas se posicionem ao lado da democracia?

    Humberto Bruno Santos de Moura

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    1. Caro Humberto, muito obrigado pelo comentário. Concordo plenamente com suas palavras. De fato, nossa luta não é fácil, ainda mais num contexto de descrétido da política e de crise econômica.

      Respondo você de maneira parecida com a resposta que prestei acima para outro colega. Eu sou de uma vertente pacifista e que acredita na construção por meio da argumentação. Acho que um caminho importante pode ser trilhado, em sala de aula por exemplo, mostrando aos alunos que não existe visão neutra de mundo. As discussões tem lado e as escolhas social e políticas tem consequências. Nesse sentido, talvez fosse o caso de mostrar argumentações e mobilizações históricas que levaram às guerras, às destruições e aos crimes humanitários, por um lado, e contrapô-las com argummentações que promoveram a paz, a justiça e que lutaram pelo pacifismo. De repente, uma demonstração dessa envergadura, o que é complexo digamos de passagem, tenha mais efeito que apenas defender um lado em sala de aula, já que acaba soando ideológico e não leva o aluno a entender as razões profundas que nos levam a defender o lado parcimonioso da história.

      Espero ter respondido. Qualquer coisa, estou à disposição.

      Abraço,
      Walace Ferreira.

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  7. Primeiramente, quero parabenizá-lo pelo belo texto redigido. Segundo, que esse assunto é muito polêmico. Mas quero fazer algumas críticas acerca do assunto, pois tenho acompanhando essa evolução que está acontecendo em nossa sociedade, quer seja boa ou ruim. Tudo começa com Antônio Gramisci onde na prisão escreve "Cadernos do Cárcere", nele estão inseridos um socialismo modificado, chamado "intelectual", onde fala de uma "revolução" de hegemonia marxista e da quebra de valores tradicionais, se infiltrando nas instituições, nas mídias, e da destituição do modelo judaico-cristão no ocidente. Ainda no século XXI, esse pensamento gramscista permeia nas universidades Brasileiras e latino-americanas, mas especificamente nas áreas de humanas. Muitas pessoas tem o primeiro contato dessas obras na universidade, e a partir daí eles tem um pensamento voltado a uma bandeira marxista-gramsciniana. Mas, o que isso tem haver com escola sem partido? Pois bem, a maioria dos professores de história e sociologia tem uma formação revolucionária, nada contra ter um pensamento crítico, mas quando eles chegam em sala de aula começam a fazer com que seus alunos se apropriem de seus pensamentos politicos-partidários, de esquerda em sua emagadora maioria. No meu ponto de vista, o professor é um passador de conhecimento , ensina ciência. Valores Morais é uma questão familiar onde isso é indicutível. Há casos semelhantes como esse, o ensino religioso nas escolas, onde a maioria rejeita por questões de "doutrinação" e fazer apologia. Se partimos dessa premissa, o escola sem partido devia ser implantado por questões de doutrinção politica-partidária e fazer apologia ao bandeira marxista e aos regimes totalitários que a história nos revela que foram trágicos.

    Pois bem, diante da minha crítica, quais os direitos que os professores irão perder se caso o Escola Sem Partido for aprovada em ãmbito nacional? E apresente algumas soluções ou contra proposta ao projeto?

    Samuel Henrique dos Santos da Silva

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    1. Samuel, sua questão é extremamente lúcida e pertinente. Obrigado.

      Infelizmente todo esse debate está imerso no atual contexto de polarização política que nos atinge. De fato a formação docente, nem o trabalho em sala de aula, deve ser doutrinário ou ideológico. Deve-se procurar mostrar as diferentes versões da história, bem como as distintas análises. Baseando-me nos seus exemplos, tanto a concepção de mundo judaico-cristã quanto a visão marxista-gramsciniana devem ser abordadas sem privilégio ou preferência de uma ou outra. Afinal são visões de mundo desenvolvidas pela História, com marcas relevantes, e que merecem menção. A escola não deve ser nem de direita nem de esquerda, porém justa, correta e voltada para a formação crítica e consciente do estudante. O que vemos é que o ESP não consegue propor a atenção ao trabalho metológico da formação docente. O movimento acaba se ligando à uma vertente direita em termos políticos e que trata o professor com ofensas e descrédito. Isso aparece tanto nas falas do idealizador do projeto, que entende a educação como uma mercadoria como qualquer outra, quanto na maneira agressiva com que os adeptos do movimento tratam a imagem do professor na redes sociais. Se você vir as imagens publicadas por eles é uma coisa assustadora, tamanho grau de ameaça. Infelizmente, o clima criado com isso é de vigilãncia constante e amedrontamento. Outro problema, a meu ver, é que essa proposta tem partido de pessoas que estão distantes da realidade da escola, suas durezas cotidianas e seus desafios inacabáveis. Fica fácil, inclusive, atribuir aos profissionais da educação a culpa pelo fracasso que temos nesse campo, enquanto o Estado investe pouco, paga mal e as famílias não subsidiam o trabalho escolar. O projeto cria um clima de censura nas escolas, em que o professor tende a se sentir ameaçado e tolhido de qualquer fala que possa ser considerada ideológica, o que é muito complicado, haja vista se tratar de uma interpretação extremamente subjetiva. O professor nem sequer poderia incentivar a participação dos alunos em mobilizações públicas, o que é um preceito da democracia. Aí te pergunto, como falar, por exemplo, das manifestações de 2013, dos Caras Pintadas, das Diretas Já, sem que isso seja interpretado como estímulo à mobilização política? Teve um deputado que chegou a propor um projeto na câmara federal prevendo prisão para o docente que fosse pego falando em tom ideológico em sala. Depois o projeto acabou sendo tirado da pauta. No entanto, o ESP realiza notificações extra-judiciais aos professores que consideram doutrinadores, além de ameaçar a muitos pelo facebook. O clima, portanto, não é de construção democrática e de valorização do trabalho pedagógico nas escolas, mas de retrocesso.

      Contra o pojeto nos resta apenas barrá-lo e tentar encaminhar alguns pontos importantes, como uma formação que valorize o professor e o forme com maior clareza metodológica, quando esse clima político e social adverso passar. Além, claro, de fazer isso em tom democrático e construtivo para que realmente tenhamos mudanças para melhor.

      Um abraço,
      Walace Ferreira.

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  8. O Escola Sem Partido vai tirar direitos dos professores, quais são eles? Quais são as soluções apresentadas contra esse projeto?

    Vanessa Andrade Vasconcelos

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  9. Gabriel você levantou um ponto importante ao trazer a necessidade de se discutir o papel metodológico e ideológico do professor. É uma pena que o ESP esteja fazendo um debate por meio do enfrentamento e da radicalização do papel da escola, vendo-a tão somente como uma mercadoria. Infelizmente esse debate está permeado pela polarizaão ideológica que tem marcado o país. Acho, sinceramente, que um diálogo saudável sobre esse tema só será possível quando os ânimos políticos esfriarem. Mas reafirmo, seu ponto é extremamente importante e precisa ser levado para as licenciaturas.

    Abraço,
    Walace Ferreira.

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  10. Vanessa, obrigado pela pergunta.

    Infelizmente tudo começa na maneira como os defensores do projeto veem a escola e a educação. O idealizador do projeto diz que a educação é uma mercadadoria como qualquer outra e que a relação professor-aluno é uma relação de consumo tal como as reguladas pelo Código de Defesa do Consumidor. Sugiro que visite o site do programa e o facebook dos seus defensores. Há ofensas explícitas e posturas agressivas em relação a professores "que seriam doutrinadores". Além disso, dá-se todo poder ao aluno de gravar alguma fala do professor que seria ideológica, ou simplesmente de denunciá-lo, o que retira qualquer poder docente da sala de aula e coloca o professor como refém do estudante, que pode inclusive agir de má fé contra um possível docente com o qual não tenha afinidade, por exemplo. O projeto cria um clima de vigilância nas escolas, em que o professor tende a se sentir ameaçado e tolhido de qualquer fala que possa ser considerada ideológica, o que é muito complicado, haja vista se tratar de uma interpretação extremamente subjetiva. O professor nem sequer poderia incentivar a participação dos alunos em mobilizações públicas, o que é um preceito da democracia. Aí te pergunto, como falar, por exemplo, das manifestações de 2013, dos Caras Pintadas, das Diretas Já, sem que isso seja interpretado como estímulo à mobilização política? Enfim, é um golpe fatal em qualquer perspectiva crítica ou pensante na sala de aula.

    Em termos de soluções, só nos resta impedir a aprovação dos projetos.

    Um abraço,
    Walace Ferreira.

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  11. Bom dia Walace. Bela reflexão. Um ponto que chama a atenção nos debates envolvendo o Escola sem Partido é facilidade com que esse discurso ganha força na sociedade de modo geral. Acho que isso acontece por que num primeiro momento a ideia soa agradável: todos concordamos que a escola não dever ter partido. No entanto, o que projeto prevê, e isso fica claro no site do programa, é um processo sistemático de silenciamento de discussões que precisam ser feitas, como as de gênero, sexualidade, racismo, religião, protagonismo discente etc. Nesse sentido, penso ser admirável o trabalho do movimento dos Professores contra o escola sem partido. Lembro bem de quando o professor Fernando Penna esteve aqui em Belo Horizonte discutindo, a partir do site e da lei, as consequências de uma possível aprovação do projeto. Bem, a minha pergunta é sobre a necessidade de tornar esse debate cada vez mais público, de tornar claro para a sociedade o que de fato quer o Escola sem partido. Como tornar esse debate público e apresentar essas questões de clara?

    Wemerson Felipe Gomes,
    Grande abraço.

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    1. Você foi extremamente esclarecedor no que escreveu, Wemerson. Acho que para expandir uma reflexão sobre o assunto, mostrando as reais intenções do programa, que é nos silenciar a repeito de debates que precisam ser feitos, mas que incomodam quem pensa de maneira mais fechada, é falar cada vez mais do assunto, especialmente em sala de aula.

      Um abraço,
      Walace Ferreira.

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  12. Candida Lisboa Belmiro12 de abril de 2018 às 08:30

    A "escola sem partido" é um tema que deveria ser motivo de preocupação para todos os profissionais da educação em qualquer categoria, porém me parece que esse debate só está tendo relevância dendro das Universidades, e que em muitos dos professores da educação básica acreditam nessa ideia. O que fazer para que eles percebam que a "Escola sem partido" não se trata de políticas partidárias, mas de políticas ideológicas envolvendo várias esferas sociais, como trabalhar as questões de racismo, preconceitos culturais e gênero dentro desta perspectiva? Muitos ainda não percebe que o professor é o alvo principal desse projeto o qual irá contribuir para a formação de uma sociedade alienada.
    Candida Lisboa Belmiro

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    1. Candida, acho que precisamos falar mais do assunto, promover eventos nas escolas expondo abertamente do que se trata e ai por diante. Por que se não fizermos isso, as pessoas vão aderir ao projeto cada vez mais. Afinal, ninguém quer uma escola doutrinadora, e é essa a ideia que o ESP tenta passar num primeiro momento. A gente só entende do que se trata de verdade quando paramos para entendê-lo a fundo. Ou seja, ele é facilmente enganável.

      Abraço,
      Walace Ferreira.

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  13. Olá Walace Ferreira.

    Parabéns pelo trabalho desenvolvido. Bem dentro do que você citou, ao falar de contexto da escola sem partido, ao se referir dos ataques as questões pertinentes aos direitos humanos, poderia pensar como um reflexo da possível forma como
    foi conduzida os primeiros rascunhos da declaração dos direitos humanos.No livro da historiadora Lynn Hunt ela traz a ideia de como é que esses homens, vivendo em sociedades construídas sobre a escravidão, a subordinação e a subserviência aparentemente natural, chegaram a imaginar homens nada parecidos com eles, em alguns casos também mulheres, como iguais? (pg 17). Emfim a todo um contexto histórico, poderiamos confiar em declarações de homens advindos de uma sociedade que massacra tanto as memorias?

    Brunno Ricelly Clares Nogueira

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    1. Sua reflexão é ótima, Bruno. Obrigado! Pois é, não é fácil confiar, mas precisamos nos basear em alguma coisa para embasar nossa luta, e os direitos humanos consistem num dos lastros mais relevantes de tudo que é importante no mundo moderno.

      Um abraço,
      Walace Ferreira.

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  14. Olá, Walace,

    Parabéns pelo texto e pela reflexão que trouxeste. Dentre todo o quadro de retrocessos que estamos passando penso que a educação é um dos setores mais afetados, não apenas pelo ESP, mas por uma gama de ataques e descasos que vem se configurando ao longo dos últimos anos. Nisso, fiquei pensando em uma coisa e gostaria, se possível e oportuno, que você falasse um pouco. A reforma do ensino médio, feita de forma autoritária e sem diálogo com educadores e sociedade civil agora autoriza o ensino também por meio daqueles que possuem o “notório saber”. Este seria um caminho para colocar em prática o que a ESP prega de certa forma, colocando lideranças religiosas, políticas, etc. para ministrarem aulas. Acredita que isso possa vir a ser usado como instrumentos por esses grupos conservadores, que pregam o retrocesso e que se dizem apolíticos quando na verdade é exatamente o oposto, como muito bem mostrastes no teu texto.

    Um abraço e parabéns novamente.
    Cyanna Missaglia de Fochesatto.

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    1. Oi Cyanna. Sim, precisa-se construir a imagem de um inimigo. E a educação, por sua essência formadora, foi escolhida pela direita para representar esse papel. Bom, espero que o "Notório saber" fique restrito ao ensino técnico. Mas temos que estar atentos para que não passe disso e daqui a pouco ocorra o que você alertou. O fato é que se não batalharmos politcamente por um educação realizada por educadores, facilmente seremos derrotados cada vez mais. Já basta todo processo de mercantilização da educação e desvalorização dos profissionais da educação pública. Mas com luta vamos reverter esse quadro.

      Um abraço e muito grato pelos elogios.

      Walace Ferreira.

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  15. Olá, Walace!!
    Em primeiro lugar, parabéns pelo excelente trabalho!
    Sou graduanda em história e sempre tive a necessidade de ler trabalhos esclarecedores sobre o ESP. Este movimento reivindica a imparcialidade e a objetividade do professor em sala de aula. Como futura historiadora vejo o retrocesso estampado neste projeto, e sinto na pele a discriminação por ser estudante de história, visto que algumas pessoas já relacionam a minha profissão como futuros "professores esquerdistas" que visam doutrinar os alunos. Como proceder diante desses casos sabendo que a maioria dos grupos de pais e responsáveis (onde resido) apoiam e defendem este projeto?

    Mais uma vez parabéns pelo excelente texto!

    Taciane Lílian Pereira da Silva

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    1. Oi Taciane, pois é, somos rotulados pelo simples fato de sermos de "Humanas". Pior, nossa rotulação está associada a algo pejorativo, ruim. Isso é reflexo de um pensamento raso, de um país polarizado politicamente, em crise econômica e de autoritarismo latente. Uma saída poderia ser explorar em sala de aula o próprio pensamento do aluno, de modo que ele mesmo perceba que existe uma necessidade de se olhar o mundo criticamente e de se debater sim certas temáticas. Pensando num tema como gênero, por exemplo. Talvez um trabalho interessante fosse mostrar aos alunos que todos somos diferentes, e que isso é muito normal. Depois disso, devemos mostrar os crimes contra os diferentes nessa seara temática, tal como os índices de violência contra a mulher, os assassinatos de gays e transexuais. Talvez fosse o caso de mostrar imagens, depoimentos, enfim. Com isso, eles próprios poderiam perceber que estamos numa sociedade intolerante, desrespeitosa, violenta. Ou seja, talvez como nunca, nós, educadores, estamos sendo chamados a necessidade de fazer um trabalho de formação conscientizadora mais profunda, mais criativa, com mais cuidado. Talvez esse seja o caminho para produzirmos pensamentos mais voltados para a solidariedade e para o respeito aos direitos humanos. Se não o fizermos, o discurso fácil da direita vai tomar conta de muita gente.

      Um abraço,
      Walace Ferreira.

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  16. Olá Walace! Primeiramente parabéns pelo ótimo texto! De fato não é muito difícil compreendermos o surgimento e, principalmente, o impulsionamento que teve nos últimos anos o projeto Escola sem Partido, uma vez que o contexto histórico que estamos vivendo no Brasil, na América Latina e outras regiões do mundo ocidental é de ascensão do conservadorismo, do tradicionalismo. E como todos sabemos, sociedades conservadoras gostam e necessitam de instrumentos de controle mais rígidos sobre o comportamento humano, sobre a diversidade de pensamento e práticas de cada cidadão, pois, se assim não fosse, essas sociedades jamais emergiriam e se manteriam. Infelizmente, o ESP é um desses instrumentos de controle da sociedade atual que voltou a flertar com o conservadorismo e, em muitos casos, até mesmo com o fascismo. Por se tratar de uma tendência recente, está difícil de lutar contra ela, mas todos nós que defendemos uma sociedade mais livre, justa, desenvolvida e plural não devemos desistir dessa árdua batalha.

    Oscar Martins Ribeiro dos Santos

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    1. Ótima reflexão, Oscar. Concordo com tudo que disse. Sigamos na luta pois, numa sociedade que produz a todo tempo debates sobre seu destino, precisamos escolher os valores mais justos e parcimoniosos - e estes só serão conquistados com muito esforço político.

      Abraço,
      Walace Ferreira.

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  17. Walace, boa tarde. Entre tantas parabenizações, tem-se aqui mais uma, ótimo texto!
    Sou graduanda em Licenciatura em História e tenho experiências na sala de aula desde o ano passado. A presença desse discurso da escola sem partido, para mim, foi claramente perceptível, principalmente em assuntos como a escravidão no Brasil, Ditadura de 64 e Getúlio Vargas (não estamos surpresos, não é mesmo?).
    Como você levantou, muitos consideram o projeto inconstitucional, se formos analisar o PCNEM, por exemplo, chega a ser contraditório alguns pontos da ESP.
    Moro na região do Vale do Paraíba-SP e, aqui, em várias cidades, foi aprovado um "rascunho" do projeto, ou ao menos, chegou nas Câmaras sem que ninguém ficasse sabendo (por ex.: professores do município). Minha pergunta é mais voltada pra questão jurídica: não há nenhum movimento em escala federal que pode derrubar essas medidas municipais? Ou uma prerrogativa que tira a legitimidade da votação? Levando em consideração que muita das vezes a comunidade nem fica sabendo da votação...
    Ass: Maria Clara Felipe Gonçalves

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    1. Oi Maria Clara, muito obrigado pelos elogios. Fico feliz que tenha estimulado sua reflexão. Então, não conheço nenhum movimento jurídico contra o movimento. O que é importante frisar foi o parecer contrário ao ESP emitida pelo ex-Procurador da República, Rodrigo Janot, e ia liminar do ministro do STF, Luis Roberto Barroso, vetando um projeto estadual semelhante ao ESP. Sobre o outro ponto levantado, concordo contigo, a coisa é feita na surdina, talvez com a exata intenção de ser aprovada "na calada da noite".

      Abraço,
      Walace Ferreira.

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  18. A escola sem partido portanto prega o conhecimento para a evoluação da tecnologia, porém sabemos que as mudanças não devem apenas acontecer no âmbito tecnológico. A mesma deve ocorrer
    também no campo social, na formação do cidadão. Porém depender apenas da escola para este estimulo do pensamento social,
    explorando assuntos contemporaneos devem ser abordados também em outros ambitos, como a propria midía de grande massa (televisão aberta), não deveriam existir divulgação destes assuntos como obrigatoriedade da programação, para que um dos lazeres também fosse uma forma de fazer pensar sobre estes fatos que merecem reflexão?

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  19. Comum certeza, Thiago. A mídia é muito voltada para os interesses da indústria cultural. Poucos são os programas ou canais com viés educativo.

    Abraço,
    Walace Ferreira.

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  20. Olá Walace, primeiramente parabéns pelo texto, conseguistes trazer um tema muito pertinente para a sociedade de uma maneira, na minha visão, mais suave, sem deixar de impor a busca por soluções. Gostaria de saber se em sua visão, a desvalorização dos professores das ciências humanas não interfere na falta da busca por respostas nessa área. Sendo que cada vez menos se debate valores sociais, políticos e históricos em sala de aula com medo de interferir em escolhas por parte dos alunos que definirão sua visão de mundo.
    Abraço e bom final de semana.
    Júnior Henrique Ott

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