Raquel dos Santos Correa e Wilverson Rodrigo Silva de Melo [b]


HISTÓRIA PARA QUE TE QUERO? O ENSINO DE HISTÓRIA NAS SÉRIES INICIAIS
  
Adentrando a discussão...
É comum associarmos as séries iniciais com a apreensão do sistema de escrita alfabética e a aprendizagem das quatro operações. Contudo, isso acaba limitando dentro do currículo, o papel de outras disciplinas, como história e geografia. Dessa forma, pretendemos discutir o espaço da disciplina história nas séries inicias, apontando aproximações da história com outras disciplinas e colocando em tela o olhar marginal diante do ensino da história dentro do currículo, bem como a importância de se estudar história para a formação do educando nas séries iniciais.

A História enquanto Ciência é inseparável de todas as disciplinas, da Ciência Histórica resulta a História vivida-acontecida, que enquanto processo social é permeado de marcas identitárias e culturais, que permitem percepções e análises sobre o vivido. No bojo das séries iniciais, o ensino de história deve ganhar um papel de destaque, assim como português e matemática. Enquanto português e matemática seguem como protagonistas do 1º ao 5º ano, a história é posta como coadjuvante da dinâmica do ensino por caixas de conhecimento ou da mistura equiparada a água e óleo entre as disciplinas.

Aprender as letras e os números, é conhecer e compreender os usos, processos de formação e configuração das letras e dos números para (e na) sociedade. É também, entender que nada se constrói no vazio, e assim se depreender da mera utopia de ações esvaziadas de intencionalidades. Nessa perspectiva, a história se põe como plano de fundo de todas as coisas, todavia, a organização curricular se confunde com uma espécie de organização histórica dos conteúdos, na qual intencionalmente os conteúdos são selecionados e organizados por séries e bimestres. “No ensino de história o principal objetivo é compreender e interpretar as várias versões do fato, e não apenas memorizá-lo” [BORGES E BRAGA, 2011:5].

Silabando História ou Alfabetização Histórica: algumas reflexões
No contexto das séries iniciais, esbarramos com o processo de alfabetização. O encontro com as letras não deve incidir com um contato completamente alheio a compreensão da criança, afinal, vivemos em uma sociedade dominada pela leitura e escrita, onde as significações que a criança vai estabelecendo é permeada em historicidade, pois a letra inicial de seu nome possui uma enredo por trás; o seu nome carrega a história de um sujeito e várias outras histórias de outros sujeitos que carregavam o mesmo nome; o nome em si, de uma pessoa ou fato, se configura em síntese histórica; o título ou nome é o que nos faz lembrar sobre algo sem necessariamente contar versões sobre o que determinado termo representa.

Essa dependência e presença da história em outras disciplinas é enfraquecida quando o professor preocupa-se em mostrar as letras, palavras, construir frases, trabalhar ortografia e gramática, e pouco trava encontros entre o português e a história. No ensino da matemática, encontramos os mesmos distanciamentos, por que não trabalhar algarismos romanos através de fatos históricos? O que parece ter mais sentido, dizer que a Guerra Fria ocorreu no século XX ou que “XX” corresponde ao numeral 20 (vinte)? Por que trabalhar a análise e interpretação de mapas apenas pelo mapa, ao invés de colocar em tela os usos sócio-históricos de um mapa ou a historicidade do local representado, trazer a esmo a história do bairro, da cidade, do país?

Ensinar e aprender história significa possibilitar contato com a bagagem histórica do conhecimento, é contextualizar e trazer a luz significações aos conteúdos, no qual os alunos vão ganhando consciência sobre o que estão aprendendo, é também um processo de resgate, transmissão e construção de identidade do indivíduo como ser social, onde ele situasse em seu tempo e espaço a partir de um olhar crítico sobre passado, presente e futuro. Sobre isso esclarecem Souza e Silva [2012]:

“[...] (O) Ensino de História permite ao aluno, portanto cidadão, o desenvolvimento social, cultural, crítico, científico, sagaz [...] Para isso faz-se necessário uma metodologia capaz de promover o educando afirmando o como ser Sócio Histórico e torna-lo agente de suas práticas [SOUZA; SILVA, 2012:2]”.

Torna-se imprescindível, reeducar o olhar sobre a história, encarando as disciplinas como partes integrantes de um círculo, no qual cada pedaço guarda sua especificidade, mas todos as partes carregam relações entre si, garantindo a concretização das linhas gerais dos parâmetros curriculares nacionais:

“Em linha de síntese, pode-se afirmar que o currículo [...] para o ensino fundamental [...], deve obrigatoriamente propiciar oportunidades para o estudo da língua portuguesa, da matemática, do mundo físico e natural e da realidade social e política, enfatizando-se o conhecimento do Brasil [BRASIL, 1997:14]”.

No tocante a isto, o professor deve aliar o saber sistematizado com o contexto do educando e gradativamente ir ampliando as concepções de mundo da criança, pois:

“O estudo de História nas séries iniciais deve partir da própria história de vida do aluno, avançando para o estudo da história local que deve ser apresentada como algo, vivo, vibrante, capaz de despertar paixão e colaborar para a compreensão do mundo [PEREIRA; PACHECO, 2011:p.3]”.

Em linhas gerias, um ensino significativo implica em elencar as concepções subjetivas infantis, colocando-as como protagonistas de suas histórias, e assim ir promovendo um ensino reflexivo. A criança precisa se sentir parte integrante do enredo da aula e do conteúdo estudado, no sentido de estar consciente sobre o que está em tela. Suas impressões devem ser consideradas, e partir de seu contexto não deve significar permanecer nele, assim, a escola efetiva o seu papel de “mediadora das apropriações e das objetivações historicamente construídas pela humanidade” [RODRIGUES; LOMBARDI, 2016:36].

Considerações finais
É tempo de romper com a visão da História enquanto disciplina como mera transmissão de conhecimentos acumulados, colocando-a como um caminho para a conscientização e instrumento identitário reafirmador, não se trata de montar uma estrutura hierárquica entre as disciplinas, onde a história é o “carro-chefe”, e sim de perceber e explorar a relevância e os encontros de (entre) cada disciplina, onde todas sejam reconhecidas como formas de linguagem para a leitura de mundo.

O ensino de história nas séries iniciais, deve promover a reflexão sobre o vivido, sendo trabalhado interdisciplinarmente com as demais disciplinas, considerando ainda sua especificidade, pois o “despertar” e o “sensibilizar” são elementos inseparáveis no processo de ensinar, na medida em que o professor desperta o interesse ou constrói um “espelho” entre o conteúdo e as experiências infantis. Portanto, ensinar história deve implicar uma prática interdisciplinar.

Referências
Raquel dos Santos CorreaÉ acadêmica do curso de Licenciatura Plena em Pedagogia da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA). E-mail: raquel-dsc1@hotmail.com

Wilverson Rodrigo Silva Melo (Coautor e Orientador) -  É Mestre em História pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Doutorando em História Contemporânea pela Universidade de Évora (UÉVORA). Atualmente é Docente na Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA). E-mail: w.rodrigohistoriador@bol.com.br.

BORGES, Maria Aparecida Quadros; BRAGA, Jezulino Lúcio Mendes. O
 Ensino De História Nos Anos Iniciais Do Ensino Fundamental. Disponível em:<http:www.unilestemg.br/revistaonline/volumes/01/.../artigo_09.doc>acesso em: 14 out 2011.

BRASIL, Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental. Brasília, MEC/SEF,1997.

PEREIRA, Jean Carlos Cerqueira; PACHECO, Lilian Miranda Bastos. O
 Ensino De História Nas Séries Iniciais. (Apresentação de Trabalho/Comunicação). 2011, p.1-15.

RODRIGUES, Gilberto César Lopes; LOMBARDI, José Claudinei. Educação e Emancipação na Escola Indígena: uma análise à luz dos fundamentos filosóficos da pedagogia histórico-crítica. In: Marcos André F Estácio; Lucia Nicida. (Org.). História e Educação na Amazônia. 1ed.Manaus: EDUA, 2016, v.1, p. 23-42

SOUZA, Ézio Jose Silva de; SILVA, Edna Maria Rodrigues. Reflexão e Formação De Consciência: A Importância Do Ensino De História Nas Séries Iniciais Do Ensino Fundamental em Parnaiba-Pi. 4, Fórum internacional de pedagogia, Campina Grande, Realize Editora, 2012.

24 comentários:

  1. Sua abordagem é muito interessante, Raquel.
    Sou acadêmica de História e pesquiso livros didáticos e iniciarei uma pesquisa sobre o uso destes materiais por parte dos docentes dos primeiros anos do Ensino Fundamental.
    Em relação a estes docentes que trabalham nas séries iniciais do Ensino Fundamental, que não tem formação específica em História e sim em Pedagogia, os conhecimentos a respeito da disciplina de História e a discussão de sua abordagem a partir da ideia de interdisciplinariedade como você apontou em seu texto, costumam ser trabalhadas em ambiente acadêmico, durante a formação destes profissionais (tendo em vista que o professor tem um papel fundamental no processo de ensino-aprendizagem)?
    Att,
    Mariana de Sá Gaspar

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    1. Cara Mariana Gaspar.
      Grata pela oportunidade de dialogar com você. Como você frisou, o professor atuante nas séries inicias é o profissional formado em Pedagogia, que muitas das vezes não possui domínio das disciplinas específicas do currículo, como o caso do ensino de história, seja por fragilidades na formação, seja pela característica dos cursos de Pedagogia (tendo em vista que o pedagogo não sai do contexto acadêmico formado em história, geografia, matemática, etc), seja pelo comprometimento do acadêmico, entre outros motivos. O currículo dos cursos de Pedagogia deixam um espaço limitado para que se aborde o ensino de história, sendo discutido (em muitos casos) de forma generalista. Nesse sentido, pode-se afirmar que há espaços para discussões da disciplina história a partir de uma abordagem interdisciplinar, todavia ela ocorre em passos lentos com certa fragilidade.
      Dentro do contexto da formação acadêmica, são dadas oportunidades de dialogo com profissionais que possuem domínio sobre as áreas específicas, sendo disponibilizados textos e debates densos acerca das especificidades de cada disciplina e as possibilidades didáticas para estas, portanto, se faz necessário que o profissional em formação e o atuante busquem uma formação densa e continuada, travando reflexões sobre o currículo acadêmico e o escolar, com vistas na promoção de um ensino reflexivo, interdisciplinar e de qualidade.
      Por: Raquel S. Correa.

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  2. Parabenizo os autores Raquel e Wilverson (o qual não mencionei no comentário anterior e por isso, peço desculpas), e lanço mais uma questão:
    Consideração uma noção da disciplina que foi construída ao longo das décadas - como é o caso da problemática enfrentada pela disciplina durante o regime militar - a qual não se relaciona com a ideia de construção da história, de que todos são sujeitos da história, de uma história crítica, etc.), quando vocês afirmam que a História nos primeiros anos do Ensino Fundamental é tratada muitas vezes como "mera transmissão de conhecimentos acumulados", vocês consideram que os professores e os alunos em geral, têm uma concepção de História reprodutora de informações em relação ao passado? Esta concepção vincula-se de certo modo à noção distorcida de que se tem da disciplina de História (como por exemplo, uma disciplina heroicizada, que serve para memorizar nomes de personagens ou datas)?
    Att,
    Mariana de Sá Gaspar

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    1. Mariana Gaspar, agradecemos pelo tempo dedicado em nossa leitura. A concepção sobre o ensino de história depende (em grande parte) do tipo de formação e da experiência que cada um tem (ou teve) como aluno. Se considerarmos em um primeiro olhar, a forma como a disciplina de história foi (e vem sendo) tratada historicamente, podemos aferir que em geral os alunos têm uma concepção de história reprodutora de conhecimentos e que os professores em sua prática reforçam essa problemática, de certo modo, em função de como o currículo é organizado e consequentemente são lançados uma espécie de quantitativo de conteúdos a serem trabalhados dentro de um espaço de tempo, panorama exemplificado na “noção distorcida de que se tem da disciplina de História (…)que serve para memorizar nomes de personagens ou datas”.Nesse sentido, ao docente recai a função de entender o papel da história para a formação do sujeito e da própria sociedade, levando esse entendimento para dentro de sua prática, fazendo com que esta, seja tratada em caráter reflexivo, formativo, interdisciplinar e em constante movimento.
      Por: Raquel S. Correa.

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  3. Sabemos que a formação dos professores licenciados em pedagogia que atuam nas séries iniciais tem o tempo de formação destinado a conhecimentos didáticos de disciplinas específicas bem curto. Na sua opinião, como fazer com que esse ensino de história nas séries iniciais seja mais dinâmico, como você abordou acima no texto, tendo em vista as lacunas de formação dos professores brasileiros que atuam nessa modalidade de ensino?
    Daniela Nunes Silva Vieira

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    1. Bom dia Daniela Vieira e obrigada pela possibilidade de dialogar com você. Inicialmente, acredito que deve ser rompido a visão da disciplina de história como mera reprodutora de acontecimentos passados, dando lugar para um ensino reflexivo e aulas dialogadas. Nesse sentido, o processo de ensino-aprendizagem passa a ser construído em via de mão dupla, com participação ativa do aluno e do professor, onde as temáticas a serem discutidas sejam reflexo do perfil de aluno e do contexto social onde a escola está inserida, sendo considerado o espaço e a temporalidade do tema discutido e as intencionalidades da fonte utilizada.Portanto, um ensino dinâmico perpassa pela promoção de um ensino reflexivo e de propostas didáticas diferenciadas, seja no travar encontros com as demais disciplinas, seja na sugestão de atividades lúdicas como o uso do cinema, da musica, teatro, etc.
      Sugiro a leitura de nosso outro texto (presente neste evento) intitulado “O ENSINO DE HISTÓRIA NAS SÉRIES INICIAIS: POSSIBILIDADES DIDÁTICAS”.
      Por: Raquel S. Correa.

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  4. Olá Raquel e Wilverson,

    Parabéns pelo trabalho, em primeiro lugar.

    No texto de vocês, há a clara defesa pelo ensino de história voltado para a formação cidadã e conscientizatória do estudante logo na educação básica. Vocês dizem: "a possibilitação Ensinar e aprender história significa possibilitar contato com a bagagem histórica do conhecimento, é contextualizar e trazer a luz significações aos conteúdos, no qual os alunos vão ganhando consciência sobre o que estão aprendendo, é também um processo de resgate, transmissão e construção de identidade do indivíduo como ser social".

    Exposto isso, pergunto-lhes: Em tempos de crescente conservadorismo, movimentos reacionários, atentados à democracia, que estratégias vocês pensam ser necessárias em sala de aula para formar o aluno para a democracia e contra essas forças contrárias que crescem no cotidiano?

    Abraços,
    Walace Ferreira.

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    1. Caro Walace Ferreira, interessante seu questionamento.
      Sabemos que a educação escolar é um processo dialógico, sobre a qual as formas hegemônicas agem fortemente introduzindo ideologias para manter as bases de uma sociedade capitalista e conservadora. Diante desse quadro, se faz necessário travar debates e reflexões sobre os discursos presentes na escola e no currículo, levar o aluno a entender o que está explícito e nas“ entrelinhas”. O professor pode propor rodas de conversa, análise de notícias e seus reflexos no cotidiano, além de análises comparativas entre acontecimentos históricos e o vivido, mostrando como as organizações sociais ao longo do tempo se organizaram diante das imposições da elite, trazer a esmo a importância dos movimentos sociais, da participação ativa e reflexiva do cidadão, no intento de romper com a perpetuação de discursos ideológicos em prol da classe hegemônica.
      Espero ter contribuído com minha resposta.
      Abraços
      Raquel S. Correa.

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  5. Olá, caros autores!
    Primeiramente, gostaria de cumprimentá-los pela ótima reflexão, realmente o ensino de história nas séries inicias tem crescido de forma prestigiável nos últimos anos, embora ainda seja uma área com muitas limitações nas práticas escolares e nas teorias acadêmicas.
    Recomendo a vocês a excelente bibliografia: Cooper. Ensino de História nos anos iniciais, que pode ajudá-los com debates inspiradores no ensino de história, mesmo que não concoderm com a teoria de aprendizagens históricas.
    gostaria de perguntar qual a bibliografia utilizada sobre a interdisciplinaridade e se há algum trabalho que traga a visão inversa: as contribuições possíveis de outras disciplinas para o Ensino de História.
    Rafael Fiedoruk Quinzani

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  6. GENI SANTOS DE SOUSA GALUCIO11 de abril de 2018 às 15:31

    Boa noite, gostaria de parabenizá-los pelo trabalho de vocês que traz relevantes reflexões no tocante ao ensino de história nos anos iniciais do ensino fundamental.

    Na introdução do texto, vocês pontuam que a história, enquanto disciplina nos anos iniciais do ensino fundamental, é vista como coadjuvante em detrimento de outras disciplinas como português e matemática. Nesse sentido, gostaria de saber que estratégias ou ações metodológicas devem ser tomadas no âmbito da escola para que a história se equipare as demais disciplinas?

    Att,
    GENI SANTOS DE SOUSA GALUCIO

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    1. Boa Tarde Geni Galucio.
      A hierarquização dentro do currículo é uma realidade gritante que poderia ser amenizada (ou sanada) no travar encontros entre as disciplinas e propor momentos de formação entre os educadores contemplando a importância e as especificidades de cada disciplina. No cotidiano da prática docente, um caminho possível seria propor uma abordagem interdisciplinar, revelando por exemplo as aproximações entre história e português, de tal modo que a disciplina português não fosse posta como superior a história.

      Abraços
      Raquel S. Correa.

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  7. Boa noite a todos.
    Percebo que o ensino de História é negligenciado em todas as fases da educação assim como o profissional da área. No entanto, ela é fundamental para criar laços de pertencimento, cidadãos conscientes e críticos. Na sua opinião, se conseguíssemos valorizar a disciplina de História já nos anos iniciais, teríamos, em consequência, nos anos seguintes, um novo olhar sobre a importância da disciplina?

    Obrigada,

    Nathálya Ferreira Raseira

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    1. Boa tarde Nathálya Ferreira Raseira.
      Concordo com você ao afirmar que o “ensino de História é negligenciado” na educação básica, alcançar o reconhecimento da importância e do papel disciplina de história nas séries iniciais seria um dos passos para sua valorização nos demais níveis, visto que, um dos motivos para esta desvalorização são os discursos que muitos alunos carregam ao serem postos a decorar fatos e datas desde as primeiras séries do ensino fundamental, taxando a referida disciplina como “chata”, “entediante”, “estudar o passado para que se já passou?”, uma outra motivação para esse olhar negligenciado é de um modo mais amplo a concepção de que aprender o sistema de escrita alfabético e as quatro operações justificam as séries iniciais, descartando assim o papel da história, geografia e ciências.
      É necessário mudar alguns discursos do senso comum, frutos de um ensino de história tradicional que pouco dialoga com a realidade e tão pouco contribui na formação critica e cidadã dos educandos, e nesse sentido, se faz necessário repensar a prática docente do professor de história e do pedagogo quando esta, não almejar uma formação reflexiva, que dialogue as temáticas abordadas com contexto social. Portanto, “um novo olhar sobre a importância da disciplina” história perpassa um repensar a prática docente e o próprio currículo em toda a educação básica, considerando que a concepção de senso comum é influenciada pelas ideologias da classe hegemônica.

      Abraços
      Raquel S. Correa.

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  8. Parabéns Raquel e Wilverson pelo texto. Uma reflexão sobre o ensino de História nas séries iniciais, é uma questão necessária, visto que nessa fase escolar, o que é priorizado pelo sistema e consequentemente pelo professor é o ensino de Matemática e de Língua Portuguesa. A interdisciplinaridade é uma possibilidade necessária, como bem destacaram os autores. Nesse sentido, qual a análise de vocês em relação a História descontextualizada, muitas vezes ensinadas na sala de aula de 1º ao 5º ano?

    Valdenira Silva de Melo

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    1. Fico contente em seu interesse em nossas reflexões, cara Valdenira de Melo.
      O ensino descontextualizado reforça a concepção de história como mera reprodutora de acontecimentos passados, personagens históricos e memorização de datas e dessa forma, contribui no processo de desqualificação da disciplina de história. As aulas nesse esboço de ensino tornam-se poucas atrativas e não promovem reflexões sobre o conteúdo apresentado, os alunos são ensinados a memorizar informações e pouco realizam análises entre os conhecimentos historicamente produzidos e o tempo vivido.

      Grata pela possibilidade de dialogo.

      Abraços
      Por: Raquel S. Correa.

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  9. Boa noite, Parabéns pelo ótimo texto.
    Atualmente quem trabalha a disciplina de história nas series inicias são os profissionais formados em pedagogia, sabemos que na formação esses professores tiveram as metodologias para este trabalho, porém por um curto período. Em sua opinião, o ensino de história nas series iniciais perde em qualidade por não ser os profissionais formados em história que trabalham a referida disciplina?

    Jacqueline Hiroki Mattana

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    1. Olá, Jacqueline Mattana.
      Esse tempo limitado no contexto da formação para se trabalhar as disciplinas específicas pode acarretar em fragilidades na formação e consequentemente na prática do pedagogo, cabendo ao profissional buscar formações complementares. O professor deve ter domínio de suas ferramentas e temas a serem trabalhados com os infantes, e nesse contexto, se faz necessário o comprometimento deste profissional com sua formação e por consequência na qualidade do ensino promovido. Portanto, a perda na qualidade do ensino de história nas séries iniciais não se justifica por se tratar de um pedagogo, mas se este não buscar uma formação densa e continuada, do mesmo modo que um profissional formado em história não é garantia de qualidade no ensino de história.
      Abraços
      Por: Raquel S. Correa.

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  10. Oi meu caro Wilverson tudo bem?

    Gostei muito do seu texto e me interessei pois tenho um filho nas séries iniciais aqui em Portugal.

    No texto diz que "O ensino de história nas séries iniciais, deve promover a reflexão sobre o vivido, sendo trabalhado interdisciplinarmente com " o “despertar” e o “sensibilizar”" como "elementos inseparáveis no processo de ensinar, na medida em que o professor desperta o interesse ou constrói um “espelho” entre o conteúdo e as experiências infantis."

    Aqui em Portugal a didática é um pouco diferente, mais rígida.
    O que você acha que poderia me ajudar no sentido de auxiliar meu filho nos estudos?
    Ele ainda tem apenas uma matéria genérica que aqui se chama estudos do meio, que é como se fosse o que tínhamos no Brasil chamado estudos sociais, que depois vai se separar em história, geografia, biologia, ciências etc.

    Alessandro Martins

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    1. Olá caro colega de Ofício Alessandro!

      Satisfação em revê-lo por aqui novamente.

      Bom, dentro dos Estudos Históricos Europeus, realmente se tem outras formas de abordagem do Ensino de História, sobretudo os que valorizam a análise da estratificação e da mobilidade social.

      Para auxiliar vosso filho nos estudos da História nos anos iniciais, ti sugeriria que aplicasses ou dialogasses com ele sobre a História a partir da teoria socio-construtivista de Vygotsky e o debate de consciência histórica e didática da História de Jorn Rusen.

      Claro que estou falando que teu foco seja esse, mas que para isso deverias usar uma linguagem flexível, permeada pela polidez linguística e poderias experimentar o uso do cinema, das imagens e até mesmo do patrimônio arquitetônico...

      Ao aproximares a imagem da escrita, desenvolveras níveis de consciência histórica com vosso filho.

      Espero ter ajudado.

      Cordialmente, Wilverson Rodrigo S. de Melo.

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    2. OI Wilerson, realmente patrimônio aqui é ótimo.
      Fazemos várias visitas em museus e lugares históricos.
      Abraços,
      Alessandro

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  11. Olá, saudações...
    A proposta do ensino da História nas séries iniciais e a defesa de que não precisa ser mais uma matéria necessária ou algo metódico, é plausível diante das rotinas muitas vezes impregnadas em algumas escolas, que não dão prioridades a este ensino, assim como, o ensino da língua portuguesa e a matemática.
    Com o contexto histórico que enfrentamos hoje, em que a sociedade parece querer se dividir através de ideologias politicas, entre outros fatores. Quais metodologias ou ferramentas podem ser usadas para que o ensino da História nas escolas não seja prejudicado?

    Att,

    Karoline Bezerra Rosa

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    1. Ola Karoline Rosa,
      A escola historicamente é palco de ideologias, sendo esculpido pela classe hegemônica um tipo de cidadão a ser formado para dada sociedade, todavia, é a mesma escola que abre caminho para a criticidade resultante de seu caráter dialógico. Nesse sentido, dentro do cotidiano escolar é indispensável abrir espaço para discussões sobre os caminhos que a sociedade tem tomado. Talvez você se pergunte: “Mas isso serve para as séries iniciais?”. Sim. Nas séries iniciais o trabalho recai em mostrar ao educando que os conhecimentos historicamente produzidos explicam as formas atuais de sociedade, sendo ferramentas para se efetivar uma reflexão critica sobre o que é imposto pelo currículo (assim como pela mídia, politica, etc). Desse modo, no campo de ensino de história é relevante levantar discussões sobre o vivido, proporcionando analisar as intencionalidades por trás do livro didático (a exemplo) e dos discursos apresentados dentro da escola, trata-se da defesa de um ensino contextualizado com vista na formação de consciências criticas.
      Sobre algumas possibilidades no cotidiano de sala de aula, pode-se citar a análise de notícias, jornais, imagens, o levantamento de um estudo bibliográficos sobre personagens históricos a fim de compreender suas presenças no livro didático como o caso de Tiradentes, etc.

      Cordialmente
      Raquel S. Correa

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  12. Raquel e Wilverson, parabéns pelo texto! Gostei muito da parte em que comentam que o ensino deve trabalhar com a subjetividade da criança, e de como seu próprio nome pode ser um aliado no ensino. Além da base teórica, vocês conseguem ver outros exemplos do cotidiano das crianças? E como a pedagogia entraria aliada nessa interdisciplinaridade?

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  13. Raquel e Wilverson, parabéns pelo texto! Gostei muito da parte em que comentam que o ensino deve trabalhar com a subjetividade da criança, e de como seu próprio nome pode ser um aliado no ensino. Além da base teórica, vocês conseguem ver outros exemplos do cotidiano das crianças? E como a pedagogia entraria aliada nessa interdisciplinaridade?
    Matheus Valduga Martins

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