Maria Sarah do Nascimento Brito e Jhonatan Júnior Alcântara


HEGEL E MARX: POR UMA EDUCAÇÃO BRASILEIRA DIALÉTICA


Introdução
Com o nascimento do Estado moderno, alguns conceitos mudaram e o conhecimento foi tomando novas formas, sendo o homem e a razão o ponto de partida para o novo pensamento. Essa nova experiência, segundo Alves (2010, p 01) levou o homem a duvidar da milenar explicação mágica do mundo e a tentar compreendê-lo com teorias que abrangessem desde a natureza, a origem da vida e do universo até arelação do próprio ser humano com essa realidade. Essas teorias deram origem a vários pensamentos históricos, como a escola metodista, a escola filosófica, a escola dos Annales etc.

As filosofias da história tomam formas no século XVIII e podem ser religiosas ou ateias, pessimistas ou otimistas, mas todas tem em comum descobrir um sentido para a história. As doutrinas de Hegel e Comte representam um modelo que aprecia as mudanças ou as permanências e interpretam a evolução geral do mundo com o auxilio de um principio único: a marcha dos espíritos ou a lei dos três estados. Marx, por outro lado, faz do materialismo histórico uma teoria cientifica ligada a uma pratica revolucionaria (BOURDÉ; MARTIN. 1983.).

A Dialética Hegeliana 
Hegel sofreu influencia de seus contemporâneos, como Kant e Fichte, por exemplo. Adepto do século das luzes, admirava a Revolução Francesa e as conquistas napoleônicas. O pensamento Hegeliano dominou o século XIX, apesar de Hegel ser do século XVIII, com discussões a respeito do materialismo dialético e da metafísica. A dialética, de acordo com Alves (2010, p 01) é uma palavra com origem no termo em grego dialektiké e significa a arte do diálogo, a arte de debater, de persuadir ou raciocinar. Dialética é um debate onde há ideias diferentes, onde um posicionamento é defendido e contradito logo depois. Para os gregos, dialética era separar fatos, dividir as ideias para poder debatê-las com mais clareza. A dialética também é uma maneira de filosofar, muito embora seja Hegel considerado o pai da dialética, seu conceito foi debatido ao longo de décadas por diversos filósofos, como Sócrates e Platão. Dialética é o poder de argumentação e consiste em uma forma de filosofar que pretende chegar à verdade através da contraposição.

Chagas (2011) diz que a dialética era concebida por Hegel como a compreensão dos contrários em sua unidade ou do positivo no negativo. É o método que permite ao pensador dialético observar o processo pelo qual as categorias, noções ou formas de consciência surgem umas das outras para formar totalidades cada vez mais inclusivas, até que se complete o sistema de categorias, noções ou formas, como um todo. Na explicação do autor sobre Bottomore(1988, p 101, 102), a dialética hegeliana progride de duas maneiras básicas: trazendo à luz o que está implícito, mas não foi articulado numa idéia, ou reparando alguma ausência, falta ou inadequação nela existente. Hegel havia libertado da metafísica a concepção de história, ele a havia tornado dialética, mas a sua concepção de história era essencialmente idealista. (ALVES, MARCEL. 2010).

A ideia hegeliana, surgida no século XVIII, dominou o século seguinte, como já citado anteriormente, influenciando diretamente outro teórico: Karl Marx. Para Giannoti (2010), temos um mundo extremamente materialista e a filosofia de Hegel só sobrevivi em razão do materialismo histórico dialético desenvolvido por Engels e Marx. Nas palavras do autor:

“Penetrou profundamente na consciência cotidiana a ideia de que a vida espiritual se assenta em sólidas bases materiais. Por toda parte ouvimos dizer que a literatura exprime as condições da luta de classes de uma época, que o movimento e as ideias políticas vinculam-se diretamente a causas socioeconômicas, enfim que a infra determina a superestrutura. Comparada a esta ideologia nada há de mais esdrúxulo do que a filosofia hegeliana. Tem-se a impressão de que o sistema está totalmente fora de moda; suas frases soam como oração incompreensível e os passos de sua argumentação parecem ritual místico eternamente repetido. Se não fosse o interesse que o materialismo demonstra pela dialética que lhe deu origem, sem dúvida a filosofia de Hegel compartilharia a triste sorte dos sistemas esquecidos da história da filosofia. No entanto, nada está mais vivo e presente do que seu idealismo. Se morreu o sistema como tal, seu método lógico-abstrato de explicação viceja até mesmo onde, em virtude da reiterada profissão de fé materialista, poderíamos esperar que tivesse já sido posto fora de combate.” (GIANNOTI, 2010, P 14)

Durante os seus anos de formação junto a Feuebach, Marx está impregnado pela filosofia de Hegel, posteriormente, em um segundo momento da vida de Marx, ele vai desenvolver algumas criticas ao pensamento hegeliano, como por exemplo, quando diz que o Estado não determina a sociedade civil, mas a sociedade civil que elabora o Estado. Como visto na citação a cima, a teoria de Hegel não é mais usual, tendo em vista as várias outras teorias surgidas no decorrer da história que tanto reciclam a dialética hegeliana como divergem dela. O marxismo parte do método de Hegel, mas desenvolve novas formas de pensar a dialética.
        
O Materialismo Histórico Dialético 
O materialismo, sob a nova ótica da dialética, é toda concepção filosófica que aponta a matéria como substância primeira e última de qualquer ser, coisa ou fenômeno do universo. O materialismo contrapõe-se ao idealismo, cujo elemento primordial é a ideia, o pensamento ou o espírito. Marx e Engels procederam à crítica da especulação filosófica, da dialética hegeliana, da economia política e do socialismo utópico e isso os converteu em fundadores da ciência da história, segundo Alves (2010, p 02). Insistiam no caráter concreto dos fatos básicos da produção e reprodução das formas materiais de existência social. Os homens e os trabalhadores entravam em relações de produção que correspondiam a um grau de desenvolvimento de suas forças produtivas que não são simplesmente materiais, mas igualmente humanas.

Além do materialismo histórico dialético, Marx definiu cada modo de produção e desenvolveu ideais sobre a sociologia das classes e a ideologia. No que se refere ao modo de produção, seriam três: modo de produção antigo (meio de produção é escrava), modo de produção feudal (meio de produção é a servidão) e o modo de produção capitalista (relação de produção assalariado). Sobre o conceito de classes, este não é inventado por Marx, mas ele se aprofunda nessa temática. Dentro da perspectiva do materialismo histórico, cada modo de produção põe em presença uma classe dominante. Por ultimo, o conceito de ideologia. O pensar ideologia no marxismo é diretamente atrelado ao modo de vida da sociedade capitalista, onde as forças ideológicas englobam todas as representações, discursos, teorias produzidas por instituições jurídicas, religiosas e culturais. Assim, Marx concebe ideologia como um sistema de valores que um grupo dirigente impõe a toda uma sociedade, ou seja, a ideologia dominante é a da classe dominante. ( BOURDÉ; MARTIN. 1983)

Segundo Fernandes (1984, p 46), Marx subverteu a concepção vigente de ciência, introduzindo na investigação cientifica o materialismo consistente, a análise dialética e a perspectiva social da classe revolucionária, o que lhe permitiu criar um modelo próprio de explicação cientifica da história. Ele e Engels aplicaram esse modelo de explicação ao estudo de situações históricas concretas, à crítica da economia política e do socialismo utópico-reformista e à elaboração de uma teoria geral da formação, desenvolvimento e dissolução da sociedade capitalista. O materialismo histórico dialético designa um conjunto de doutrinas filosóficas que, ao rejeitar a existência de um princípio espiritual, liga toda a realidade à matéria e às suas modificações

A Dialética e a Educação 
Discutir Hegel e Marx e suas contribuições históricas não é tarefa fácil, embora não seja inovador. Contudo, a educação como uma constante que é, exige várias leituras do mesmo tema, como também de outros, para se pensar na quebra do paradigma atual de educação centralizada em uma finalidade dita útil dentro de um contexto específico, nunca visando uma mudança ou uma própria releitura da realidade existente, perpetuando o que R. Williams e M. Apple irão chamar de “tradição seletiva” (APPLE, MICHAEL, 2016). Debater sobre esses paradigmas de interpretação da realidade e suas contribuições para o processo educacional é uma tarefa que cabe a todos os docentes que pretendem se lançar aos desafios de inovação e da própria superação de condições preestabelecidas que visam direcionar a atividade docente a uma finalidade mercantil, (qualidade accountability). A história da filosofia tem demonstrado ser esta preocupação um dos principais problemas da filosofia. Segundo Gramsci (1991, p14), compreender a relação sujeito-objeto é compreender como o ser humano se relaciona com as coisas, com a natureza, com a vida.

A discussão deste problema central pode ser compreendida a partir de diferentes abordagens, sendo neste caso escolhido à dialética. A dialética que aparece no pensamento de Marx surge como uma tentativa de superação da dicotomia, da separação entre o sujeito e o objeto. No entanto, a dialética surgiu, na história do pensamento humano, muito antes de Marx, como já visto anteriormente. Segundo Pires (1997, pg 84) Platão utiliza, abundantemente, a dialética em seus diálogos. A verdade é atingida pela relação de diálogo que pressupõe minimamente duas instâncias, mas atéa qui o diálogo acontece sob um princípio de identidade, entre os iguais. Entretanto, tal posicionamento foi precedido por uma visão distinta encontrada principalmente em Heráclito, filósofo grego que viveu de 530 a 428 a.C. Para este, a conversa existe somente entre os diferentes. A diferença é constituidora da contrariedade e do conflito. Não é a concórdia que conduz ao diálogo, mas a divergência, isto é, a exacerbação do conflito. (NOVELLI E PIRES, p 1996, 52) Aristóteles é um dos grandes responsáveis pela marginalização do pensamento de Heráclito sobre a contraditoriedade e o conflito. O princípio da identidade, perseguido por Aristóteles, estabelecia a fixação do ser: o que é, é e o que não é, não é.

É com Hegel que a dialética volta a ter mais ênfase das discussões filosóficas. Partindo das ideias de Kant sobre a capacidade de intervenção do homem na realidade, sobre as reflexões acerca do sujeito ativo, Hegel tratou da elaboração da dialética como método, desenvolvendo o princípio da contraditoriedade afirmando que uma coisa é e não é ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto. Esta é a oposição radical ao dualismo dicotômico sujeito-objeto e ao princípio da identidade (NOVELLI E PIRES, 1996, p 43)

A atuação profissional na educação coloca a necessidade de conhecer os mais variados elementos que envolvem a prática educativa, a necessidade de compreendê-la da forma mais completa possível. No entanto, não se pode fazer isto sem um método, um caminho que permita compreender a educação. De acordo com Moreira (2012, p 03), se a lógica formal, porque é dual, separando sujeito-objeto, foi se mostrando insuficiente para esta tarefa, parece possível buscar, no método materialista histórico- dialético este caminho.

O método materialista histórico dialético que desenvolveu Marx, é o método de interpretação da realidade, visão de mundo e práxis. A reinterpretação da dialética de Hegel (colocada por Marx de cabeça para baixo), diz respeito, principalmente, à materialidade. Para Marx, Hegel trata a dialética idealmente, no plano do espírito, das ideias, enquanto o mundo dos homens exige sua materialização. É com esta preocupação que Marx deu o caráter material, como os homens se organizam na sociedade para a produção e a reprodução da vida, e o caráter histórico, como eles vêm se organizando através de sua história. (MOREIRA; ORSO; 2012; p 5)

Analisado isto, compreender o Método, segundo Pires (1997) é:

“instrumentalizar-se para o conhecimento da realidade, no caso, a realidade educacional. O método materialista histórico-dialético caracteriza-se pelo movimento do pensamento através da materialidade histórica da vida dos homens em sociedade, isto é, trata-se de descobrir (pelo movimento do pensamento) as leis fundamentais que definem a forma organizativa dos homens durante a história da humanidade. O princípio da contradição, presente nesta lógica, indica que para pensar a realidade é possível aceitar a contradição, caminhar por ela e apreender o que dela é essencial. Neste caminho lógico, movimentar o pensamento significa refletir sobre a realidade partindo do empírico (a realidade dada, o real aparente, o objeto assim como ele se apresenta à primeira vista) e, por meio de abstrações (elaborações do pensamento, reflexões, teoria), chegar ao concreto: compreensão mais elaborada do que há de essencial no objeto, objeto síntese de múltiplas determinações, concreto pensado. Assim, a diferença entre o empírico (real aparente) e o concreto (real pensado) são as abstrações (reflexões) do pensamento que tornam mais completa a realidade observada.” (PIRES, 1997, p 87)

Aqui, percebe-se que o materialismo histórico dialético não descarta a dialética inicial de Hegel, mas pensa como instrumento de construção e reflexão do pensamento material. Saviani (1991), discutindo a necessidade de o educador brasileiro passar do senso comum para a consciência crítica na compreensão de sua prática educativa, aponta o método materialista histórico dialético como instrumento possível para essa prática e explica a superação da etapa de senso comum por meio da reflexão teórica. Sobre isso, escreve:

“Com efeito, a lógica dialética não é outra coisa senão o processo de construção do concreto de pensamento (ela é uma lógica concreta) ao passo que a lógica formal é o processo de construção da forma de pensamento (ela é, assim, uma lógica abstrata). Por aí, pode-se compreender o que significa dizer que a lógica dialética supera por inclusão/incorporação a lógica formal (incorporação, isto quer dizer que a lógica formal já não é tal e sim parte integrante da lógica dialética). Com efeito, o acesso ao concreto não se dá sem a mediação do abstrato (mediação da análise como escrevi em outro lugar ou “detour” de que fala Kosik). Assim, aquilo que é chamado lógica formal ganha um significado novo e deixa de ser a lógica para se converter num momento da lógica dialética. A construção do pensamento se daria pois da seguinte forma: parte-se do empírico, passa-se pelo abstrato e chega-se ao concreto.” (SAVIANI, 1991; p.11)
        
Uma grande contribuição para os educadores para elaborar a pratica do ouvir e possibilitar o aluno de exercitar o pensar e reconhecer seu espaço de fala. Segundo Pires (1997, p 88) a análise do fenômeno educacional em estudo pode ser empreendida quando conseguimos descobrir sua mais simples manifestação para que, ao nos debruçarmos sobre ela, possamos compreender plenamente o fenômeno observado. Assim pode, por exemplo, um determinado processo educativo ser compreendido a partir das reflexões empreendidas sobre as relações cotidianas entre professores e alunos na sala de aula. Quanto mais teoria pudermos pensar sobre esta categoria simples, relação professor/aluno, mais próximo estaremos da compreensão plena do processo educacional em questão.

O ato de discutir educação não pode ser feito de maneira desconexa, devendo ser inserido no contexto qual a educação acontece e daí pensar suas possibilidades de transformação. Saviani nos diz que o trabalho educativo é o ato de produzir, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens.(Saviani, 1994; p.24) Contudo, o conhecimento, como instrumento do processo educacional, pode ser tratado de forma a contribuir ou a negar o processo de humanização. O marxismo vem pensando a educação através do modo de produção, daí que ela se insere dentro da totalidade histórico-social, pensando como discuti-la e como ela se coloca nos modos de produção. Sendo assim concebem a organização do processo educacional como um ato totalmente político e que está a serviço da ideologia da classe dominante.

Muitos autores vêm discutindo essa relação de educação e meios de produção da sociedade capitalista, sendo um dos principais Antônio Gramsci. Gramsci dialogou com as principais correntes filosóficas de sua época, contribuiu para atualizar o materialismo histórico e dialético e para reafirmar a importância revolucionária desse paradigma teórico-metodológico, tendo identificado como filosófica da práxis.

Considerações finais
O trabalho educacional baseado numa perspectiva dialética visa a contribuição para uma determinada visão de mundo que não só estimula as diferenças, como também estabelece parâmetros para uma melhor correlação dessas diferenças. Considerando que as divergências e os conflitos permeiam a sociedade de maneira inevitável, se mostra essencial um trabalho que aja considerando os conflitos e os aproveitando para uma melhor construção do status de cidadania e de superação de condições opressivas ou insalubres e insatisfatórias. Logo, a análise do processo educacional a partir de discussões como essas significa refletir sobre as contradições da organização da nossa sociedade, sobre as possibilidades de superação de suas condições adversas e colocar, no interior do processo educativo ações que contribuam para a humanização dos homens em sociedade.

Referências
Maria Sarah do Nascimento Brito cursa licenciatura plena em História pela Universidade de Pernambuco, Campus Mata Norte. Também desenvolve pesquisa no Laboratório de História do Tempo Presente, núcleo Upe. Orientador: Karl Schurster Veríssimo de Sousa Leão.

Jhonatan Júnior Alcântara cursa licenciatura plena em Pedagogia também pela Universidade de Pernambuco, Campus Mata Norte. Desenvolve pesquisa na área de políticas curriculares. Orientadora: Doriele Silva de Andrade Costa Duvernoy.


GIANNOTTI, José Arthur. Origens da dialética do trabalho: estudo sobre a lógica do jovem Marx. Rio de Janeiro: Centro Edelstein, 2010.

CHAGAS, Eduardo F.O método dialético de Marx: Investigação e exposição crítica do objeto. Síntese- Rev de filosofia – v. 28 n.120 (2011): 55-70

ALVES, Marcel Alvaro. O método materialista histórico dialético: alguns apontamentos sobre a subjetividade. Revista de Psicologia da UNESP 9(1), 2010.

MARTINS, Marcos Francisco. Gramsci, filosofia e educação. Práxis Educativa, Ponta Grossa, v. 8, n. 1, p. 13-40, jan./jun. 2013

MOREIRA, HelloysaBragueto. ORSO, Paulino José. Marxismo e educação.

LOMBARDI e SAVIANI (Orgs.) Marxismo e educação: debates contemporâneos. Campinas, Autores Associados, 2005, 304p.

PIRES, Marília Freitas de Campos. O materialismo histórico-dialetico na educação. Curso de pós-graduação da Faculdade de medicina UNESP, campus de Botucatu, agosto de 1997.

GRAMSCI, A. A concepção dialética da história. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1991.

SAVIANI, D. Introdução. In: ____________ Educação: do senso comum à consciência filosófica.

BOURDÉ; MARTIN. As escolas históricas. Edition Du Seuil, 1983

APPLE W., MICHAEL.Ideología y currículo. Akal, 2016.



9 comentários:

  1. Parabéns pelo texto, Maria Sarah e Jhonatan Alcântara!
    Durante a leitura me identifiquei bastante com a ótica a qual vocês percebem a educação e o processo de ensino e aprendizagem, contudo me peguei refletindo sobre uma questão bastante atual: como podemos tornar comum tal perspectiva educacional tanto para os educadores quanto para os educandos, visto que leis estão sendo aplicadas para institucionalizar a ausência do pensamento crítico nas escolas?

    Edmilson Antonio da Silva Junior

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    1. Boa tarde, Edmilson. Creio que tua pergunta perpasse a questão das outras duas feitas sobre nosso texto. Essa distância que existe entre a sociedade política e sociedade civil realmente desestimula a nós todos, mas cremos que a mobilização dos professores em prol de uma educação que dialogue com as suas próprias realidades já acontece hoje de forma tímida. Nós, enquanto educadores, temos de ter ciência do nosso lugar dentro da sociedade e, segundo Gohn e Gramsci, necessitamos encurtar a distância entre sociedade política e sociedade civil, promovendo assim políticas públicas de formações continuadas, como já dito a Anna. Formações continuadas como políticas públicas firmes e diretas, com a finalidade de desenvolver e estimular o próprio pensamento crítico, transformando a escola a partir dos currículos até o agir dentro da escola. A própria escola já é uma instituição de promoção de desigualdades (Bourdieu & Passeron 2010; Saviani 2008), mas agindo nela e para ela de forma direta, podemos transformar essa situação. Coisa que exige uma atividade política direcionada a nivelação social (Saviani 2015). Com isso, nota-se a necessidade de políticas públicas direcionadas a formação continuada, através de consultas públicas e plebiscitos, por exemplo. Mas o primeiro passo, cremos que seja o retorno da politização das instituições de ensino, criando um discurso contra-hegemonico que direcione nossa práxis às políticas educacionais (Michael Apple, 2016).
      (Gohn: O protagonismo da sociedade civil. Saviani: Escola e democracia (2008)/ Pedagogia histórico-crítica e luta de classes na educação escolar (2015). Gramsci: Cadernos do cárcere vol. 1. Bourdieu & Passeron: A reprodução.)

      Jhonatan Júnior Alcântara

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  2. Primeiramente, o texto nos faz pensar bastante na atualidade, gostei bastante.
    O que me fisgou com essa proposta, é imaginar como ela pode ser aplicada, uma vez que é comum vermos docentes que, atuando a anos, já não buscam o pensamento crítico, consequentemente estimulando seus alunos a tal "mesmice" de pensamento.
    A pergunta então é, como podemos implementar tal pensamento/prática dialética nos docentes que de alguma forma se acostumaram a não buscar o conhecimento, as diferenças, etc?

    Anna Karina Firmo de Lima Alves

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    1. Resposta a Anna:
      Boa tarde, Anna. A delicadeza e instabilidade do nosso sistema educacional são notáveis e desestimulantes, como todos nós já sabemos. Mas ainda assim existem situações em que podemos trabalhar para uma superação da situação vigente. Como exemplos podemos usar a formação continuada, que ainda hoje, mesmo sendo tratada como fundamental ainda não é bem programada e aplicada aos professores. Essa seria uma das muitas formas de exercitar a profissão docente, ampliando não só a formação acadêmica dos professores das nossas escolas do ensino básico, mas estimulando a politização das nossas instituições de ensino (Michael Apple 2016). Logo, a situação que nós tratamos como um passo inicial na construção da cultura crítica dentro do meio educacional é o enfoque de políticas públicas, movidas pelos próprios professores, líderes sindicais, movimentos sociais, políticos etc., na direção de formação continuada de uma forma mais efetiva para a classe dos educadores.
      (Michael Apple: Ideologia e currículo 2016).

      Jhonatan Júnior Alcântara

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  3. Boa tarde! Com a derrubada da esquerda do poder e com a ascencao da direita como podemos falar de Marx e Hengel na sala de aula, sem que isso caracterize doutrinamento politico?

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  4. Resposta a Benedito:
    Boa tarde, Benedito. Temos que, a princípio, localizar o que a esquerda enquanto que gestora do maquinário público vinha fazendo no tocante à educação e ao próprio currículo. Temos exemplos claros de críticas ao posicionamento da esquerda que se mantinha no poder até então, vindos de pessoas capacitadas o bastante pra o fazer, a exemplo da Casemiro Lopes (2004) quando a mesma elabora um artigo que perpassa o posicionamento dos governos de FHC e sua transição para o governo Lula. No artigo, Casemiro nos mostra detalhadamente que a própria esquerda assumiu uma posição de continuação de programas e formas de regulação que eram propostas futuras do governo anterior. Com isso devemos nos perguntar: a política da esquerda realmente valorizava e estimulava a produção crítica? Já com relação à ascensão do discurso de direita, e arrisco chamar de extrema direita, temos que ter ciência que nosso posicionamento não deve ser passivo nessa situação. Somos seres políticos e históricos e com isso queremos dizer que somos produtores de história e atuantes politicamente. A sociedade civil é um campo de disputa de discursos para a conquista da hegemonia (Gramsci 1999; Gohn 2008), logo, a ascensão do discurso de direita só nos serve como confirmação da proposta do próprio Marx de que o conflito é fundamental para a produção de conhecimento e funcionamento mesmo da sociedade. Logo, temos que nos manter firmes e trabalharmos na construção e reforço do discurso crítico para que não sejamos sufocados pelas posições contrárias. Reforçando formação continuada e atividade política dedicada aos currículos como formas principais de intervenção e contra-hegemonia.
    (Casemiro: Políticas curriculares: continuidade ou mudança de rumos?/ Gramsci: Cadernos do cárcere: livro 1/ Gohn: O protagonismo da sociedade civil).

    Jhonatan Júnior Alcântara

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  5. Nota explicativa: Fiz um texto único porque acho que as respostas se complementam apesar de divergirem em alguns pontos. Mas se sentirem que a pergunta de vocês não foi respondida, podem entrar em contato.
    Segue a resposta:
    Adorei as perguntas, principalmente por ser um questionamento nosso. Jhonatan e eu temos formas diferentes de encarar a “resolução desse problema”. Ouve-se muito falar sobre resistência e a necessidade da militância referente a nossa realidade atual, mas não vemos os resultados desse discurso. Continuamos com uma “esquerda” extremamente fragmentada e uma “direita” que ganha cada vez mais espaço. Mais do que um caso particular do Brasil, vivemos em um cenário político de crise de representatividade de caráter mundial. Vivemos um momento singular que é marcado pela emergência de situações inesperadas, o que Gramsci chamou de interregno, que é quando um sistema de poder está em colapso, mas seu sucessor ainda não se formou. Esse momento singular propicia fenômenos extremos. Em termos mais práticos, o modelo de governo lulista, por exemplo, atingiu seus limites e não consegue mais se manter com essa política de classes, por outro lado, não temos um novo modelo emergindo. Enquanto não surge esse novo modelo, ficamos nessa crise de não se ver representado na política partidária, da própria democracia, de tolerar discursos de ódio. Sobre tolerar discursos de ódio, já dizia Popper, que tolerar os intolerantes levaria à destruição dos tolerantes, e com isso viria o fim da própria tolerância como princípio guia da sociedade. Tolera-se apenas aqueles que estejam dispostos a responder também com tolerância. E se pensarmos bem, tolerar é um termo bastante forte, né? Melhor seria respeitar. Sendo assim, como podemos trabalhar com uma educação dialética em meio a esse caos? Como capacitar e instruir profissionais antigos e já desesperançados? É uma responsabilidade nossa. A geração desse século precisa se achar e assumir o seu papel. Acredito que o caminho seja o de não tolerar os intolerantes se realmente quisermos uma educação democrática, uma país mais democrático. Eu sei que é uma realidade difícil na sala de aula, principalmente referente a relação gestor-professor, mas precisamos dar o nosso melhor. Precisamos nos formar da melhor forma possível, ensinar da melhor forma possível. Não tenho uma formula pra resolver esse problema, mas a gente tem que plantar a semente e estudar mesmo. A esquerda brasileira precisa estudar.

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  6. Humberto Bruno Santos de Moura10 de abril de 2018 às 17:29

    Texto excelente, marcado por um poder de síntese bem pronunciado.
    Gostaria de levantar uma questão: Visto que o marxismo histórico-dialético foi e ainda é constantemente atacado e (à moda de seus acusadores) "refutado" ou "melhorado" (à moda de setores da esquerda que o consideram ontológica ou epistemologicamente insuficiente) por alguns setores da intelectualidade brasileira, e mesmo rejeitado sem leitura prévia. Quão grande é o desafio de, frente à comunidade acadêmica e à sociedade civil, sustentar um proposta pedagógica que por tabela (dado a essa aversão pelo materialismo histórico-dialético) é alvo de tantos ataques?

    Humberto Bruno Santos de Moura

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