HEGEL
E MARX: POR UMA EDUCAÇÃO BRASILEIRA DIALÉTICA
Introdução
Com o nascimento do Estado moderno, alguns conceitos mudaram
e o conhecimento foi tomando novas formas, sendo o homem e a razão o ponto de
partida para o novo pensamento. Essa nova experiência, segundo Alves (2010, p 01) levou o
homem a duvidar da milenar explicação mágica do mundo e a tentar compreendê-lo
com teorias que abrangessem desde a natureza, a origem da vida e do universo
até arelação do próprio ser humano com essa realidade. Essas teorias deram
origem a vários pensamentos históricos, como a escola metodista, a escola
filosófica, a escola dos Annales etc.
As
filosofias da história tomam formas no século XVIII e podem ser religiosas ou
ateias, pessimistas ou otimistas, mas todas tem em comum descobrir um sentido
para a história. As doutrinas de Hegel e Comte representam um modelo que
aprecia as mudanças ou as permanências e interpretam a evolução geral do mundo
com o auxilio de um principio único: a marcha dos espíritos ou a lei dos três
estados. Marx, por outro lado, faz do materialismo histórico uma teoria
cientifica ligada a uma pratica revolucionaria (BOURDÉ; MARTIN. 1983.).
A Dialética Hegeliana
Hegel
sofreu influencia de seus contemporâneos, como Kant e Fichte, por exemplo.
Adepto do século das luzes, admirava a Revolução Francesa e as conquistas napoleônicas. O pensamento Hegeliano
dominou o século XIX, apesar de Hegel ser do século XVIII, com discussões a
respeito do materialismo dialético e da metafísica. A dialética, de acordo com
Alves (2010, p 01) é uma palavra com origem no
termo em grego dialektiké e
significa a arte do diálogo, a arte de debater, de persuadir ou raciocinar. Dialética é um debate
onde há ideias diferentes, onde um posicionamento é defendido e contradito logo
depois. Para os gregos, dialética era separar fatos, dividir as ideias para
poder debatê-las com mais clareza. A dialética também é uma maneira de filosofar,
muito embora seja Hegel considerado o pai da dialética, seu conceito foi
debatido ao longo de décadas por diversos filósofos, como Sócrates e Platão. Dialética
é o poder de argumentação e consiste em uma forma de filosofar que pretende
chegar à verdade através da contraposição.
Chagas (2011) diz
que a dialética era concebida por Hegel como a compreensão dos contrários em
sua unidade ou do positivo no negativo. É o método que permite ao pensador
dialético observar o processo pelo qual as categorias, noções ou formas de
consciência surgem umas das outras para formar totalidades cada vez mais
inclusivas, até que se complete o sistema de categorias, noções ou formas, como
um todo. Na explicação do autor sobre Bottomore(1988, p 101, 102), a dialética
hegeliana progride de duas maneiras básicas: trazendo à luz o que está
implícito, mas não foi articulado numa idéia, ou reparando alguma ausência,
falta ou inadequação nela existente. Hegel havia libertado da metafísica a
concepção de história, ele a havia tornado dialética, mas a sua concepção de
história era essencialmente idealista. (ALVES, MARCEL. 2010).
A
ideia hegeliana, surgida no século XVIII, dominou o século seguinte, como já
citado anteriormente, influenciando diretamente outro teórico: Karl Marx. Para Giannoti
(2010), temos um mundo extremamente materialista e a filosofia de Hegel só
sobrevivi em razão do materialismo histórico dialético desenvolvido por Engels
e Marx. Nas palavras do autor:
“Penetrou profundamente na consciência cotidiana a ideia de que a vida espiritual se assenta em sólidas bases materiais. Por toda parte ouvimos dizer que a literatura exprime as condições da luta de classes de uma época, que o movimento e as ideias políticas vinculam-se diretamente a causas socioeconômicas, enfim que a infra determina a superestrutura. Comparada a esta ideologia nada há de mais esdrúxulo do que a filosofia hegeliana. Tem-se a impressão de que o sistema está totalmente fora de moda; suas frases soam como oração incompreensível e os passos de sua argumentação parecem ritual místico eternamente repetido. Se não fosse o interesse que o materialismo demonstra pela dialética que lhe deu origem, sem dúvida a filosofia de Hegel compartilharia a triste sorte dos sistemas esquecidos da história da filosofia. No entanto, nada está mais vivo e presente do que seu idealismo. Se morreu o sistema como tal, seu método lógico-abstrato de explicação viceja até mesmo onde, em virtude da reiterada profissão de fé materialista, poderíamos esperar que tivesse já sido posto fora de combate.” (GIANNOTI, 2010, P 14)
Durante
os seus anos de formação junto a Feuebach, Marx está impregnado pela filosofia
de Hegel, posteriormente, em um segundo momento da vida de Marx, ele vai
desenvolver algumas criticas ao pensamento hegeliano, como por exemplo, quando
diz que o Estado não determina a sociedade civil, mas a sociedade civil que
elabora o Estado. Como visto na citação a cima, a teoria de Hegel não é mais
usual, tendo em vista as várias outras teorias surgidas no decorrer da história
que tanto reciclam a dialética hegeliana como divergem dela. O marxismo parte
do método de Hegel, mas desenvolve novas formas de pensar a dialética.
O Materialismo Histórico Dialético
O
materialismo, sob a nova ótica da dialética, é toda concepção filosófica que
aponta a matéria como substância primeira e última de qualquer ser, coisa ou
fenômeno do universo. O materialismo contrapõe-se ao idealismo, cujo elemento
primordial é a ideia, o pensamento ou o espírito. Marx e Engels procederam à
crítica da especulação filosófica, da dialética hegeliana, da economia política
e do socialismo utópico e isso os converteu em fundadores da ciência da história, segundo Alves (2010, p 02).
Insistiam no caráter concreto dos fatos básicos da produção e reprodução das
formas materiais de existência social. Os homens e os trabalhadores entravam em
relações de produção que correspondiam a um grau de desenvolvimento de suas
forças produtivas que não são simplesmente materiais, mas igualmente humanas.
Além do materialismo histórico dialético, Marx
definiu cada modo de produção e desenvolveu ideais sobre a sociologia das
classes e a ideologia. No que se refere ao modo de produção, seriam três: modo
de produção antigo (meio de produção é escrava), modo de produção feudal (meio
de produção é a servidão) e o modo de produção capitalista (relação de produção
assalariado). Sobre o conceito de classes, este não é inventado por Marx, mas
ele se aprofunda nessa temática. Dentro da perspectiva do materialismo histórico,
cada modo de produção põe em presença uma classe dominante. Por ultimo, o
conceito de ideologia. O pensar ideologia no marxismo é diretamente atrelado ao
modo de vida da sociedade capitalista, onde as forças ideológicas englobam
todas as representações, discursos, teorias produzidas por instituições
jurídicas, religiosas e culturais. Assim, Marx concebe ideologia como um
sistema de valores que um grupo dirigente impõe a toda uma sociedade, ou seja,
a ideologia dominante é a da classe dominante. ( BOURDÉ; MARTIN. 1983)
Segundo
Fernandes (1984, p 46),
Marx subverteu a concepção vigente de ciência, introduzindo na investigação
cientifica o materialismo consistente, a análise dialética e a perspectiva
social da classe revolucionária, o que lhe permitiu criar um modelo próprio de
explicação cientifica da história. Ele e Engels aplicaram esse modelo de
explicação ao estudo de situações históricas concretas, à crítica da economia
política e do socialismo utópico-reformista e à elaboração de uma teoria geral
da formação, desenvolvimento e dissolução da sociedade capitalista. O
materialismo histórico dialético designa um conjunto de doutrinas filosóficas
que, ao rejeitar a existência de um princípio espiritual, liga toda a realidade
à matéria e às suas modificações
A
Dialética e a Educação
Discutir
Hegel e Marx e suas contribuições históricas não é tarefa fácil, embora não
seja inovador. Contudo, a educação como uma constante que é, exige várias
leituras do mesmo tema, como também de outros, para se pensar na quebra do
paradigma atual de educação centralizada em uma finalidade dita útil dentro de
um contexto específico, nunca visando uma mudança ou uma própria releitura da
realidade existente, perpetuando o que R. Williams e M. Apple irão chamar de “tradição
seletiva” (APPLE, MICHAEL, 2016). Debater sobre esses paradigmas de
interpretação da realidade e suas contribuições para o processo educacional é
uma tarefa que cabe a todos os docentes que pretendem se lançar aos desafios de
inovação e da própria superação de condições preestabelecidas que visam
direcionar a atividade docente a uma finalidade mercantil, (qualidade
accountability). A história da filosofia tem demonstrado ser esta preocupação
um dos principais problemas da filosofia. Segundo Gramsci (1991, p14),
compreender a relação sujeito-objeto é compreender como o ser humano se
relaciona com as coisas, com a
natureza, com a vida.
A
discussão deste problema central pode ser compreendida a partir de diferentes
abordagens, sendo neste caso escolhido à dialética. A dialética que aparece no
pensamento de Marx surge como uma tentativa de superação da dicotomia, da
separação entre o sujeito e o objeto. No entanto, a dialética surgiu, na história
do pensamento humano, muito antes de Marx, como já visto anteriormente. Segundo
Pires (1997, pg 84) Platão utiliza, abundantemente, a dialética em seus
diálogos. A verdade é atingida pela relação de diálogo que pressupõe
minimamente duas instâncias, mas atéa qui o diálogo acontece sob um princípio
de identidade, entre os iguais. Entretanto, tal posicionamento foi precedido
por uma visão distinta encontrada principalmente em Heráclito, filósofo grego
que viveu de 530 a 428 a.C. Para este, a conversa existe somente entre os
diferentes. A diferença é constituidora da contrariedade e do conflito. Não é a
concórdia que conduz ao diálogo, mas a divergência, isto é, a exacerbação do
conflito. (NOVELLI E PIRES, p 1996, 52) Aristóteles é um dos grandes
responsáveis pela marginalização
do pensamento de Heráclito sobre a contraditoriedade e o conflito. O princípio
da identidade, perseguido por Aristóteles, estabelecia a fixação do ser: o que
é, é e o que não é, não é.
É
com Hegel que a dialética volta a ter mais ênfase das discussões filosóficas. Partindo
das ideias de Kant sobre a capacidade de intervenção do homem na realidade,
sobre as reflexões acerca do sujeito ativo, Hegel tratou da elaboração da
dialética como método, desenvolvendo o princípio da contraditoriedade afirmando
que uma coisa é e não é ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto. Esta é a oposição
radical ao dualismo dicotômico sujeito-objeto e ao princípio da identidade (NOVELLI
E PIRES, 1996, p 43)
A
atuação profissional na educação coloca a necessidade de conhecer os mais
variados elementos que envolvem a prática educativa, a necessidade de
compreendê-la da forma mais completa possível. No entanto, não se pode fazer
isto sem um método, um caminho que permita compreender a educação. De acordo
com Moreira (2012, p 03), se a lógica formal, porque é dual, separando
sujeito-objeto, foi se mostrando insuficiente para esta tarefa, parece possível
buscar, no método materialista histórico- dialético este caminho.
O
método materialista histórico dialético que desenvolveu Marx, é o método de
interpretação da realidade, visão de mundo e práxis. A reinterpretação da
dialética de Hegel (colocada por Marx de
cabeça para baixo), diz respeito, principalmente, à materialidade. Para
Marx, Hegel trata a dialética idealmente, no plano do espírito, das ideias,
enquanto o mundo dos homens exige sua materialização. É com esta preocupação
que Marx deu o caráter material, como os homens se organizam na sociedade para
a produção e a reprodução da vida, e o caráter histórico, como eles vêm se organizando
através de sua história. (MOREIRA; ORSO; 2012; p 5)
Analisado
isto, compreender o Método, segundo Pires (1997) é:
“instrumentalizar-se para o conhecimento da realidade, no caso, a realidade educacional. O método materialista histórico-dialético caracteriza-se pelo movimento do pensamento através da materialidade histórica da vida dos homens em sociedade, isto é, trata-se de descobrir (pelo movimento do pensamento) as leis fundamentais que definem a forma organizativa dos homens durante a história da humanidade. O princípio da contradição, presente nesta lógica, indica que para pensar a realidade é possível aceitar a contradição, caminhar por ela e apreender o que dela é essencial. Neste caminho lógico, movimentar o pensamento significa refletir sobre a realidade partindo do empírico (a realidade dada, o real aparente, o objeto assim como ele se apresenta à primeira vista) e, por meio de abstrações (elaborações do pensamento, reflexões, teoria), chegar ao concreto: compreensão mais elaborada do que há de essencial no objeto, objeto síntese de múltiplas determinações, concreto pensado. Assim, a diferença entre o empírico (real aparente) e o concreto (real pensado) são as abstrações (reflexões) do pensamento que tornam mais completa a realidade observada.” (PIRES, 1997, p 87)
Aqui,
percebe-se que o materialismo histórico dialético não descarta a dialética
inicial de Hegel, mas pensa como instrumento de construção e reflexão do
pensamento material. Saviani (1991), discutindo a necessidade de o educador
brasileiro passar do senso comum para a consciência crítica na compreensão de
sua prática educativa, aponta o método materialista histórico dialético como
instrumento possível para essa prática e explica a superação da etapa de senso
comum por meio da reflexão teórica. Sobre isso, escreve:
“Com efeito, a lógica dialética não é outra coisa senão o processo de construção do concreto de pensamento (ela é uma lógica concreta) ao passo que a lógica formal é o processo de construção da forma de pensamento (ela é, assim, uma lógica abstrata). Por aí, pode-se compreender o que significa dizer que a lógica dialética supera por inclusão/incorporação a lógica formal (incorporação, isto quer dizer que a lógica formal já não é tal e sim parte integrante da lógica dialética). Com efeito, o acesso ao concreto não se dá sem a mediação do abstrato (mediação da análise como escrevi em outro lugar ou “detour” de que fala Kosik). Assim, aquilo que é chamado lógica formal ganha um significado novo e deixa de ser a lógica para se converter num momento da lógica dialética. A construção do pensamento se daria pois da seguinte forma: parte-se do empírico, passa-se pelo abstrato e chega-se ao concreto.” (SAVIANI, 1991; p.11)
Uma
grande contribuição para os educadores para elaborar a pratica do ouvir e
possibilitar o aluno de exercitar o pensar e reconhecer seu espaço de fala.
Segundo Pires (1997, p 88) a análise do fenômeno educacional em estudo pode ser
empreendida quando conseguimos descobrir
sua mais simples manifestação para que, ao nos debruçarmos sobre ela,
possamos compreender plenamente o fenômeno observado. Assim pode, por exemplo,
um determinado processo educativo ser compreendido a partir das reflexões
empreendidas sobre as relações cotidianas entre professores e alunos na sala de
aula. Quanto mais teoria pudermos pensar sobre esta categoria simples, relação
professor/aluno, mais próximo estaremos da compreensão plena do processo
educacional em questão.
O ato de discutir educação não pode ser feito
de maneira desconexa, devendo ser inserido no contexto qual a educação acontece
e daí pensar suas possibilidades de transformação. Saviani nos diz que o
trabalho educativo é o ato de produzir, em cada indivíduo singular, a
humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens.(Saviani,
1994; p.24) Contudo, o conhecimento, como instrumento do processo educacional,
pode ser tratado de forma a contribuir ou a negar o processo de humanização. O
marxismo vem pensando a educação através do modo de produção, daí que ela se
insere dentro da totalidade histórico-social, pensando como discuti-la e como
ela se coloca nos modos de produção. Sendo assim concebem a
organização do processo educacional como um ato totalmente político e que está
a serviço da ideologia da classe dominante.
Muitos
autores vêm discutindo essa relação de educação e meios de produção da
sociedade capitalista, sendo um dos principais Antônio Gramsci. Gramsci
dialogou com as principais correntes filosóficas de sua época, contribuiu para
atualizar o materialismo histórico e dialético e para reafirmar a importância
revolucionária desse paradigma teórico-metodológico, tendo identificado como
filosófica da práxis.
Considerações finais
O
trabalho educacional baseado numa perspectiva dialética visa a contribuição
para uma determinada visão de mundo que não só estimula as diferenças, como
também estabelece parâmetros para uma melhor correlação dessas diferenças.
Considerando que as divergências e os conflitos permeiam a sociedade de maneira
inevitável, se mostra essencial um trabalho que aja considerando os conflitos e
os aproveitando para uma melhor construção do status de cidadania e de
superação de condições opressivas ou insalubres e insatisfatórias. Logo, a
análise do processo educacional a partir de discussões como essas significa
refletir sobre as contradições da organização da nossa sociedade, sobre as
possibilidades de superação de suas condições adversas e colocar, no interior
do processo educativo ações que contribuam para a humanização dos homens em
sociedade.
Referências
Maria Sarah do Nascimento Brito cursa
licenciatura plena em História pela Universidade de Pernambuco, Campus Mata
Norte. Também desenvolve pesquisa no Laboratório de História do Tempo Presente,
núcleo Upe. Orientador: Karl Schurster Veríssimo de Sousa Leão.
Jhonatan Júnior Alcântara cursa
licenciatura plena em Pedagogia também pela Universidade de Pernambuco, Campus
Mata Norte. Desenvolve pesquisa na área de políticas curriculares. Orientadora: Doriele Silva de Andrade Costa Duvernoy.
GIANNOTTI, José Arthur. Origens da dialética do trabalho: estudo sobre a lógica do jovem Marx. Rio de Janeiro: Centro Edelstein, 2010.
CHAGAS, Eduardo F.O método dialético de Marx: Investigação e exposição crítica do objeto. Síntese- Rev de filosofia – v. 28 n.120 (2011): 55-70
ALVES, Marcel Alvaro. O método materialista histórico dialético: alguns apontamentos sobre a subjetividade. Revista de Psicologia da UNESP 9(1), 2010.
MARTINS, Marcos Francisco. Gramsci, filosofia e educação. Práxis Educativa, Ponta Grossa, v. 8, n. 1, p. 13-40, jan./jun. 2013
MOREIRA, HelloysaBragueto. ORSO, Paulino José. Marxismo e educação.
LOMBARDI e SAVIANI (Orgs.) Marxismo e educação: debates contemporâneos. Campinas, Autores Associados, 2005, 304p.
PIRES, Marília Freitas de Campos. O materialismo histórico-dialetico na educação. Curso de pós-graduação da Faculdade de medicina UNESP, campus de Botucatu, agosto de 1997.
GRAMSCI, A. A concepção dialética da história. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1991.
SAVIANI, D. Introdução. In: ____________ Educação: do senso comum à consciência filosófica.
BOURDÉ; MARTIN. As escolas históricas. Edition Du Seuil, 1983
APPLE W., MICHAEL.Ideología y currículo. Akal, 2016.
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ResponderExcluirParabéns pelo texto, Maria Sarah e Jhonatan Alcântara!
ResponderExcluirDurante a leitura me identifiquei bastante com a ótica a qual vocês percebem a educação e o processo de ensino e aprendizagem, contudo me peguei refletindo sobre uma questão bastante atual: como podemos tornar comum tal perspectiva educacional tanto para os educadores quanto para os educandos, visto que leis estão sendo aplicadas para institucionalizar a ausência do pensamento crítico nas escolas?
Edmilson Antonio da Silva Junior
Boa tarde, Edmilson. Creio que tua pergunta perpasse a questão das outras duas feitas sobre nosso texto. Essa distância que existe entre a sociedade política e sociedade civil realmente desestimula a nós todos, mas cremos que a mobilização dos professores em prol de uma educação que dialogue com as suas próprias realidades já acontece hoje de forma tímida. Nós, enquanto educadores, temos de ter ciência do nosso lugar dentro da sociedade e, segundo Gohn e Gramsci, necessitamos encurtar a distância entre sociedade política e sociedade civil, promovendo assim políticas públicas de formações continuadas, como já dito a Anna. Formações continuadas como políticas públicas firmes e diretas, com a finalidade de desenvolver e estimular o próprio pensamento crítico, transformando a escola a partir dos currículos até o agir dentro da escola. A própria escola já é uma instituição de promoção de desigualdades (Bourdieu & Passeron 2010; Saviani 2008), mas agindo nela e para ela de forma direta, podemos transformar essa situação. Coisa que exige uma atividade política direcionada a nivelação social (Saviani 2015). Com isso, nota-se a necessidade de políticas públicas direcionadas a formação continuada, através de consultas públicas e plebiscitos, por exemplo. Mas o primeiro passo, cremos que seja o retorno da politização das instituições de ensino, criando um discurso contra-hegemonico que direcione nossa práxis às políticas educacionais (Michael Apple, 2016).
Excluir(Gohn: O protagonismo da sociedade civil. Saviani: Escola e democracia (2008)/ Pedagogia histórico-crítica e luta de classes na educação escolar (2015). Gramsci: Cadernos do cárcere vol. 1. Bourdieu & Passeron: A reprodução.)
Jhonatan Júnior Alcântara
Primeiramente, o texto nos faz pensar bastante na atualidade, gostei bastante.
ResponderExcluirO que me fisgou com essa proposta, é imaginar como ela pode ser aplicada, uma vez que é comum vermos docentes que, atuando a anos, já não buscam o pensamento crítico, consequentemente estimulando seus alunos a tal "mesmice" de pensamento.
A pergunta então é, como podemos implementar tal pensamento/prática dialética nos docentes que de alguma forma se acostumaram a não buscar o conhecimento, as diferenças, etc?
Anna Karina Firmo de Lima Alves
Resposta a Anna:
ExcluirBoa tarde, Anna. A delicadeza e instabilidade do nosso sistema educacional são notáveis e desestimulantes, como todos nós já sabemos. Mas ainda assim existem situações em que podemos trabalhar para uma superação da situação vigente. Como exemplos podemos usar a formação continuada, que ainda hoje, mesmo sendo tratada como fundamental ainda não é bem programada e aplicada aos professores. Essa seria uma das muitas formas de exercitar a profissão docente, ampliando não só a formação acadêmica dos professores das nossas escolas do ensino básico, mas estimulando a politização das nossas instituições de ensino (Michael Apple 2016). Logo, a situação que nós tratamos como um passo inicial na construção da cultura crítica dentro do meio educacional é o enfoque de políticas públicas, movidas pelos próprios professores, líderes sindicais, movimentos sociais, políticos etc., na direção de formação continuada de uma forma mais efetiva para a classe dos educadores.
(Michael Apple: Ideologia e currículo 2016).
Jhonatan Júnior Alcântara
Boa tarde! Com a derrubada da esquerda do poder e com a ascencao da direita como podemos falar de Marx e Hengel na sala de aula, sem que isso caracterize doutrinamento politico?
ResponderExcluirResposta a Benedito:
ResponderExcluirBoa tarde, Benedito. Temos que, a princípio, localizar o que a esquerda enquanto que gestora do maquinário público vinha fazendo no tocante à educação e ao próprio currículo. Temos exemplos claros de críticas ao posicionamento da esquerda que se mantinha no poder até então, vindos de pessoas capacitadas o bastante pra o fazer, a exemplo da Casemiro Lopes (2004) quando a mesma elabora um artigo que perpassa o posicionamento dos governos de FHC e sua transição para o governo Lula. No artigo, Casemiro nos mostra detalhadamente que a própria esquerda assumiu uma posição de continuação de programas e formas de regulação que eram propostas futuras do governo anterior. Com isso devemos nos perguntar: a política da esquerda realmente valorizava e estimulava a produção crítica? Já com relação à ascensão do discurso de direita, e arrisco chamar de extrema direita, temos que ter ciência que nosso posicionamento não deve ser passivo nessa situação. Somos seres políticos e históricos e com isso queremos dizer que somos produtores de história e atuantes politicamente. A sociedade civil é um campo de disputa de discursos para a conquista da hegemonia (Gramsci 1999; Gohn 2008), logo, a ascensão do discurso de direita só nos serve como confirmação da proposta do próprio Marx de que o conflito é fundamental para a produção de conhecimento e funcionamento mesmo da sociedade. Logo, temos que nos manter firmes e trabalharmos na construção e reforço do discurso crítico para que não sejamos sufocados pelas posições contrárias. Reforçando formação continuada e atividade política dedicada aos currículos como formas principais de intervenção e contra-hegemonia.
(Casemiro: Políticas curriculares: continuidade ou mudança de rumos?/ Gramsci: Cadernos do cárcere: livro 1/ Gohn: O protagonismo da sociedade civil).
Jhonatan Júnior Alcântara
Nota explicativa: Fiz um texto único porque acho que as respostas se complementam apesar de divergirem em alguns pontos. Mas se sentirem que a pergunta de vocês não foi respondida, podem entrar em contato.
ResponderExcluirSegue a resposta:
Adorei as perguntas, principalmente por ser um questionamento nosso. Jhonatan e eu temos formas diferentes de encarar a “resolução desse problema”. Ouve-se muito falar sobre resistência e a necessidade da militância referente a nossa realidade atual, mas não vemos os resultados desse discurso. Continuamos com uma “esquerda” extremamente fragmentada e uma “direita” que ganha cada vez mais espaço. Mais do que um caso particular do Brasil, vivemos em um cenário político de crise de representatividade de caráter mundial. Vivemos um momento singular que é marcado pela emergência de situações inesperadas, o que Gramsci chamou de interregno, que é quando um sistema de poder está em colapso, mas seu sucessor ainda não se formou. Esse momento singular propicia fenômenos extremos. Em termos mais práticos, o modelo de governo lulista, por exemplo, atingiu seus limites e não consegue mais se manter com essa política de classes, por outro lado, não temos um novo modelo emergindo. Enquanto não surge esse novo modelo, ficamos nessa crise de não se ver representado na política partidária, da própria democracia, de tolerar discursos de ódio. Sobre tolerar discursos de ódio, já dizia Popper, que tolerar os intolerantes levaria à destruição dos tolerantes, e com isso viria o fim da própria tolerância como princípio guia da sociedade. Tolera-se apenas aqueles que estejam dispostos a responder também com tolerância. E se pensarmos bem, tolerar é um termo bastante forte, né? Melhor seria respeitar. Sendo assim, como podemos trabalhar com uma educação dialética em meio a esse caos? Como capacitar e instruir profissionais antigos e já desesperançados? É uma responsabilidade nossa. A geração desse século precisa se achar e assumir o seu papel. Acredito que o caminho seja o de não tolerar os intolerantes se realmente quisermos uma educação democrática, uma país mais democrático. Eu sei que é uma realidade difícil na sala de aula, principalmente referente a relação gestor-professor, mas precisamos dar o nosso melhor. Precisamos nos formar da melhor forma possível, ensinar da melhor forma possível. Não tenho uma formula pra resolver esse problema, mas a gente tem que plantar a semente e estudar mesmo. A esquerda brasileira precisa estudar.
Texto excelente, marcado por um poder de síntese bem pronunciado.
ResponderExcluirGostaria de levantar uma questão: Visto que o marxismo histórico-dialético foi e ainda é constantemente atacado e (à moda de seus acusadores) "refutado" ou "melhorado" (à moda de setores da esquerda que o consideram ontológica ou epistemologicamente insuficiente) por alguns setores da intelectualidade brasileira, e mesmo rejeitado sem leitura prévia. Quão grande é o desafio de, frente à comunidade acadêmica e à sociedade civil, sustentar um proposta pedagógica que por tabela (dado a essa aversão pelo materialismo histórico-dialético) é alvo de tantos ataques?
Humberto Bruno Santos de Moura