Wemerson Felipe Gomes e Tamires Celi da Silva

A ESCOLA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO: HISTÓRIA, DESAFIOS, PERSPECTIVAS


A educadora e filósofa Viviane Mosé, partindo das conclusões a que chegou o professor Rui Canário em seu interessante livro ‘A escola tem futuro? Das promessas às incertezas’, reflete sobre a educação e o papel da escola na sociedade contemporânea. Neste livro, segundo Mosé, Rui Canário apresenta uma hipótese que muitos tomariam como bombástica: segundo ele,

“Verifica-se que há um desequilíbrio acentuado entre o conhecimento científico e técnico que marca as nossas sociedades, por um lado, e, a imaturidade social e política, por outro, expressa na incapacidade de controlar os efeitos indesejáveis do progresso” (CANÁRIO, 2007, pág.12). 

Quer dizer, para Canário, a sociedade contemporânea é caraterizada por sujeitos imaturos, quase infantis, do ponto de vista político e social; e que, se fosse necessário apontar um culpado, essa culpa deveria recair, em parte, sobre a escola e seu modelo de organização absolutamente obsoleto, baseado em uma “compartimentação estandardizada dos tempos (aula de uma hora), dos espaços (sala de aula), do agrupamento dos alunos (turma) e dos saberes (disciplinas) ” (CANÁRIO, idem).

A partir dessa forte crítica ao sistema educacional feita por Rui Canário – e suas demais contribuições nesse sentido –, Viviane Mosé apresenta uma interpretação sobre os significados da atual conjuntura educacional analisando a constituição histórica e social de um determinado modelo de escola que, infelizmente, ainda hoje prevalece; e, ainda, busca pensar sobre o que é necessário à escola para contribuir de forma mais efetiva no processo de ensino-aprendizagem tendo em vista os problemas e vícios identificados. Nesse sentido, buscaremos por nossa parte apresentar mais algumas hipóteses.

Do ponto de vista da constituição histórica do atual modelo escolar, Canário explica que o conhecimento irá passar no século XX por um intenso processo de escolarização, i.e., a educação formal – em um espaço e tempo próprios a essa prática – passa a ter um papel central nas políticas públicas: primeiramente, durante as décadas finais do século XVIII, seguindo um discurso civilizador para, depois, a partir do século XIX, alicerçar as bases dos projetos de construção da nacionalidade. Desse modo, desde o final do século XVIII a escola vem passando por transformações, consolidando (e naturalizando) um determinado modelo de escola, baseado em um saber cumulativo e revelado.

Até pelo menos a década de 1950 a escola possuía, segundo Rui Canário, um modelo que levava em conta o sujeito, priorizando o pensamento, a reflexão. Essa escola, que Canário chama escola num tempo de “certezas”, se caracterizava, também, por ser elitista, i.e., a educação, apesar de possuir uma certa qualidade, estava restrita a poucos. De modo geral, nesses “tempos de certezas” havia uma certa “harmonia entre a escola e o seu contexto (...) e uma harmonia e coerência internas entre suas diferentes dimensões” (CANÁRIO, 2008, pág.74):

“A escola das certezas (...) funcionava como uma “fábrica de cidadãos”, fornecendo as bases para uma inserção na divisão social do trabalho. Constituindo um pilar central do estado-nação, a escola funcionava em um registro elitista que permitia a alguns a ascensão social, permanecendo isenta de responsabilidades na produção das desigualdades sociais. A escola aparecia como uma instituição justa, em um mundo injusto” (CANÁRIO, 2007, pág.16-7).

Já década de 50/60, refletindo o crescimento econômico do pós-guerra (“Trinta Gloriosos”, 1945 - 1975), se acelera um processo de democratização do acesso (e da procura) pela educação pública (escola de massas). Essa explosão escolar estaria ligada, entre outros fatores, as promessas de “desenvolvimento, mobilidade social e igualdade”, só alcançadas com alguma plenitude no Brasil, por exemplo, em meados da década de 80, quando iniciamos nosso processo democratização do acesso ao ensino público. Canário chama a esse tempo o da “escola das promessas”.

De todo modo, a escola aparece nesse contexto como um “fator econômico de primeira importância”. Estabelece-se, portanto, um paralelo entre progresso econômico e elevação dos níveis de qualificação escolar (educação como um investimento). Partindo de uma lógica (quase) industrial (modelo fordista/taylorista) a educação se segmenta, se fragmenta, se torna autoritária e abstrata: instala-se uma indústria do ensino, ou seja, tal como como nas industrias o processo educacional se organizará de modo sistemático: os alunos são divididos em classes (que originalmente tinham a ver com um exército em fileiras regulares); passam por séries (1º série, 2º série etc.), como se fossem produtos; os conteúdos estudados são dispostos em “disciplinas”, termo cujo caráter imperioso é evidente, e separados em tempos de 60 minutos marcados por um “sinal” (como os das fábricas); o currículo é estruturado em “grade” e ao final os alunos precisam passar por uma “prova”, caso não queiram ficar “detidos”. Além de tudo isso, insistiria Foucault (1987), seria preciso perceber que a própria arquitetura padrão da escola se aproxima demasiadamente da de uma fábrica ou de um quartel militar, explicitando o caráter autoritário geralmente associado a esses espaços (tanto do ponto de vista prático como do imaginário social constituído). Para Canário: “Esta forma de organização atende(ria) a uma concepção cumulativa do conhecimento, na qual o currículo escolar corresponde a um menu de informações transmitidas aos alunos em doses sequenciadas” (CANÁRIO, 2007, pág.15).

A década de 70, no entanto, marcaria ainda o ápice desse processo e a entrada da escola em um outro tempo: o das incertezas. Neste período,

 “a sociologia da educação evidenciou o papel de reprodução das desigualdades sociais que os sistemas escolares desempenham. Paradoxalmente, a democratização da escola comprometeu-a com a produção de desigualdades sociais” (CANÁRIO, 2007, pág.17).

Quer dizer, apesar de disponível a um maior número de pessoas, a escola, partindo desse modelo fragmentado, segmentado, abstrato e autoritário, perde qualidade e, ainda, segundo Canário, se torna produtora de desigualdades. A escola, como escreveu François Dubet (Apud CANÀRIO, 2008), “perde (também) a sua inocência” e sua legitimidade social, pois, nesse sentido, já não consegue mais garantir o que prometera. A escola deixa aparecer para essa sociedade “como uma instituição justa, em um mundo injusto”.

Bem, de modo geral, essa “escola das incertezas” emergirá num “contexto dos efeitos cruzados do acréscimo de qualificações, acréscimo de desigualdades, desemprego estrutural de massas, precariedade do trabalho e desvalorização dos diplomas escolares” (CANÁRIO, 2007, pág.17).

Em relação a esse último tópico, corolário dos demais, ainda hoje é fácil perceber que, por exemplo, ter um diploma de Ensino Médio não é garantia de maiores oportunidades. Os diplomas se tornaram, nesse sentido, “simultaneamente, imprescindíveis e cada vez menos rentáveis” (CANÁRIO, 2007, pág.17). Ficou claro, portanto, que não existia “uma relação de linearidade entre as oportunidades educativas e as oportunidades sociais, quer de uma relação linear entre democratização do ensino e um acréscimo de mobilidade social ascendente” (CANÁRIO, 2008, pág.75).

Bem, dito tudo isso, e mesmo por experiência, fica claro que é preciso que, cada vez mais, se consolide um processo continuo de reflexão sobre a escola que possibilite a construção de estratégias coletivas para qualificar o desqualificado processo de ensino-aprendizagem. Rui Canário acrescenta, nesse sentido, que, embora não seja “possível adivinhar nem prever o futuro da escola”, “é possível problematiza-lo a partir de uma reflexão crítica, para que esse futuro possa vir a ser uma escolha e não consequência de um destino” (CANÁRIO, 2007, pág.7).

O primeiro passo importante talvez seja a mudança do atual modelo escolar, que hoje, como dito, além de obsoleto, sofre um défice de sentido e de legitimidade social. O engraçado nessa situação e que mostra a urgência desse tipo de ação é que mesmo sendo o Brasil um país continental, com enormes variações regionais (geográficas, econômicas, culturais etc.), encontraremos de norte a sul do país esse mesmo modelo de escola, disposto quase da mesma formar, com pouquíssimas variações. Essa imposição de um modelo escolar que desconsidera as especificidades dos sujeitos ativos no processo de ensino-aprendizagem, na verdade, implode uma potencialidade que é própria da escola: seu caráter essencialmente sociocultural.

Tarcisio Dayrell, no desenvolvimento de seu artigo ‘A escola como espaço sócio-cultural’, nos chama atenção para esse aspecto. Segundo ele, a escola é um território construído através das relações que os sujeitos singulares que o compõe estabelecem entre si, entre o espaço que ocupam e a realidade com a qual dialogam. Entretanto, muitas vezes, a prática pedagógica escolar pensam os estudantes não como sujeitos singulares, provenientes de espaços sócias diversos e com experiências de vida diferentes, mas sim como indivíduos que, ao entrarem na escola, precisariam ser desconectados do mundo e da realidade a qual pertencem, se metamorfoseando em um tipo ideal e uno de sujeito que, a partir daí, passa a sofrer valorações sendo classificado entre gradações que vão de “Bom aluno” a “Mal aluno”, “desinteressado”, “inteligente” etc., a depender da distância ou da aproximação entre o comportamento do aluno (e o resultado obtido nas provas) e o tipo ideal que a escola (ou o professor) propõe e considera como correto e desejável.

O que há, portanto, é uma homogeneização desses estudantes que passam a ser entendidos tão somente como “alunos”, i.e., como sujeitos passivos no processo de aprendizagem, sendo todos submetidos ao mesmo ritmo, a mesma “grade”, a mesma estrutura pedagógica que trabalha no sentido de “formar” pessoas dentro de saberes consagrados pela academia e enrijecidos pela estrutura escolar, desconsiderando, dessa forma, todo a diversidade cultural que o ambiente escolar propicia.

Dessa forma, em um ambiente como esse, a escola será sempre percebida como um espaço negativo (repetimos: tanto do ponto de vista prático como do imaginário social constituído). Para Rui Canário, “se acreditarmos nos questionários feitos por sociólogos, elas dizem que, na escola, (os estudantes) gostam dos amigos, dos intervalos e das brincadeiras no pátio na hora do recreio; “O problema são as aulas”, dizem” (CANÁRIO, 2007, pág.28). Canário complementa se perguntando: “Mas se as crianças são, como todos sabemos, curiosas e criativas, por que rejeitam com tanta frequência a experiência escolar?” (CANÁRIO, idem).

Para Edgar Morin (2003), nesse mesmo sentido, tanto a educação como o ensino podem (e na medida em que fosse possível, deveriam) ajudar a nos tornar melhores, mais felizes e realizados. Entretanto, o moderno sistema de ensino, que, lembremos, possui suas raízes no final século XVIII e que permaneceu quase que inalterado até os nossos dias, substituiu o conhecimento prático, i.e., a experiência (o saber), pela informação (ou as disciplinas e suas matérias pré-determinadas e isoladas). Essas informações, fragmentadas pelo saber cientifico, não possuem uma conexão com a vida cotidiana das pessoas. Isto torna o ensino, defino pelo Morin como “arte ou ação de transmitir conhecimentos a um aluno, de modo que ele os compreenda e assimile” (MORIN,2003, pág. 11) e a educação, definida como “a utilização dos meios que permitem assegurar a formação e o desenvolvimento de um ser humano” (MORIN,2003, pág. 10), absolutamente desinteressantes, tediosos, “chato demais” para os estudantes.

Isso acontece sobretudo porque a escola não consegue estabelecer relações entre o que está sendo “transmitido” e a relação efetiva disto na vida vivida dos estudantes. Nesse sentido, o conhecimento não nos torna mais felizes: não há felicidade em saber fatos históricos, em saber classificar uma planta no quadro de sua espécie ou saber que o “quadrado do cateto é igual a soma dos quadrados da hipotenusa”. É preciso, antes, perceber que vivemos em um mundo complexo, em que o todo não se resume a soma de suas partes, por que se assim fosse só precisaríamos que cada um se dedicasse ao máximo em entender sua “área” para que a soma desses conhecimentos nos desvendasse o mundo; bastaria que os alunos se esforçassem para alcançar um 10 em todas as matérias para estarem prontos para o mundo da vida.

Numa outra perspectiva, ainda relacionada a fragmentação do ensino, seria significativo voltarmos nossa atenção para a questão da participação ativa dos sujeitos em questões ligadas à experiência do convívio em sociedade. Os estudantes passam cerca de quatro horas e meia dentro da escola com seus amigos, professores e demais funcionários, configurando, dessa forma, relações de proximidade e de conflito. É a partir dessas relações que se constitui, em alguma mediada, os “valores” que acompanharão esses estudantes por boa parte de suas vidas.

A escola, nesse sentido, por ser um espaço que propicia essa interação de caráter sociocultural, está diretamente relacionada a formação da personalidade do aluno. O fato é que, a partir do momento em que esse aspecto é desprezado enquanto uma potencialidade, a escola, que já opera em um sistema fragmentado, valida esse sistema na medida em que se posiciona como um dos fragmentos da formação humana. Tornando mais claro nossa hipótese, a escola se tornou o fragmento responsável por formar o aluno numa perspectiva de ensino em que se aprende (quando se aprende) o conhecimento técnico e cientifico.

O resultado disso é falta de identificação do aluno com o espaço escolar, i.e., faltaria aquele sentimento de pertencer a um espaço que já nos pertence, de que nos falava Milton Santos (2006), além, é claro, de inúmeros problemas de sociabilidade que atingem alunos e funcionários. Fora dos limites dos muros da escola nos deparamos ainda, como já apontava Canário, com sujeitos apáticos e pouco solidários em relação ao outro. Formamos cada vez mais pessoas capazes de desenvolver grandes maquinas, que podem revolucionar a nossa experiência no planeta, mas não são capazes de refletir sobre as implicações do estão fazendo em suas próprias vidas.

De modo geral, o que Morin está dizendo é que é preciso perceber que um saber não se resume ao conjunto de conceitos que define os limites de uma disciplina. Só entenderemos o todo se estabelecermos relações entre as partes que constituem esse todo, i.e., entre os conhecimentos que se propõem a compreender a realidade. É preciso, portanto, que os professores atuem como mediadores não só entre o aluno e o conhecimento que é o seu, ou seja, sua disciplina, mas também entre as disciplinas estudadas por esse aluno e, ainda, entre essas disciplinas e a vida real, experiênciada pelos alunos.

O ideal seria faze-los perceber (a estudantes e professores) que a realidade funciona como um sistema demasiado complexo, constituído por contradições, conflitos, construções e desconstruções; e quanto mais a academia fazer prevalecer um tipo de conhecimento ensimesmado em sua “área”, em sua “especialidade”, mais desconexo do mundo estará a escola e, portanto, mais distantes dos alunos também. Os alunos, por sua vez, também estarão menos aptos a vivenciar este mundo de forma plena e de poder contribuir para a solução de problemas tanto particulares como globais de forma criativa.

No entanto, o que se vê é justamente o contrário. Se há por um lado uma constante insatisfação dos estudantes em relação a escola, os professores, por outro, vivem também um constante mal-estar:

“Este “mal-estar docente” manifesta-se em diversas modalidades de desmotivação e absenteísmo, falta de investimento profissional, aumento de doenças ocupacionais, refúgio em posturas defensivas (construção de estratégias de “sobrevivência”) e em um sentimento de nostalgia em relação a pretensos “anos dourados” da escola, situada em algum lugar do passado” (CANÁRIO, 2007, pág.21).

Bem, de todo modo, como seria fácil visualizar, uma mudança significativa nesse modelo esbarraria (e esbarra) em diversas questões, que vão desde de a multiplicidade das realidades sócio-culturais do país, falta de investimento em educação até as tentativas de imposição de reformas verticalizadas. Canário sugere, nesse sentido, várias possibilidades. Nos limitaremos, no entanto, a comentar mais detidamente apenas uma delas: a do “professor como artesão”.

“O professor como artesão: é aquele que constrói e reconstrói, permanentemente, o seu saber profissional. Mais do que um reprodutor de práticas, o professor é um reinventor de práticas, reconfigurando-as de acordo com a especificidade dos contextos e dos públicos” (CANÁRIO, 2007, pág.22).

O que Canário sugere é um deslocamento sutil, mais determinante. Ao se deslocar da pergunta sobre “como ensinar” (reprodutor de práticas) para “como se aprende” (reinventor de práticas), o professor parte do seu contexto e de seu público, i.e., da escola e da realidade dos seus estudantes, para, então, reinventar práticas e vocabulários que dialoguem de forma mais efetiva com os estudantes. Para Canário, “o ensino, por mais sofisticado que seja, não garante a aprendizagem” (CANÁRIO, 2007, pág.25). Sobretudo por que, como também sugere,

“(...) a maior parte das nossas aprendizagens não é o resultado de uma atividade de ensino. Esta verificação permite relativizar o papel do educador e convida a que os problemas da educação sejam equacionados a partir da perspectiva do aprender, e não da do ensinar” (CANÁRIO, idem).

Por esse ângulo, a aprendizagem consistiria, sobretudo, “em um trabalho que o sujeito realiza(ria) sobre si próprio” (CANÁRIO, idem); ou, de modo mais especifico, “pode-se dizer que aprendemos a partir da combinação de atividades de autoformação (nós), com atividades de heteroformação (os outros) e atividades de ecoformação (o contexto) (CANÁRIO, 2007, pág. 28). O papel do professor seria, nesse sentido, o de potencializar a articulação entre o que cada um de nós “aprende consigo mesmo, com os outros e, ainda, com o contexto em que está inserido” (CANÁRIO, idem).

Nesse mesmo sentido, em entrevista ao site “Gestão Escolar”, Canário sugere que a escola busque trabalhar na perspectiva da “equifinalidade”, ou seja, que ela exercite cada vez mais a capacidade de se autorregular partindo de situações diversas, propondo ações que visem superar as barreiras do ensino por meio de atribuições de sentido construídas coletivamente.

Desse modo, valeria a pena insistir na valorização do professor como artesão e da escola como uma “comunidade de artistas”, i.e., a superação daquele modelo obsoleto poderia se dar na transformação do professor em um “reinventor de práticas” e dos estudantes em produtores de conhecimento e não mais em “receptores de informações” e “executores de tarefas”.

Do ponto de vista do ensino de História, insistiríamos ainda que essa reflexão acerca do professor enquanto artesão tem uma implicação importante na pratica docente do historiador, qual seja: o do reconhecimento de que o ensino de história poderia se dar em articulação com as vivências e com as identidades dos estudantes, para que assim fosse possível criar diálogos entre passado /presente/ futuro, tendo como resultado um aluno com uma cabeça “bem-feita” e não “bem cheia”.

Se não é prudente fazer previsões sobre o futuro da escola, podemos, no entanto, pensar em estratégias que tornem essa escola fruto de “uma escolha e não consequência de um destino”.


Referências 
Wemerson Felipe Gomes e Tamires Celi da Silva são graduandos em História pelo Centro Universitário de Belo Horizonte – UniBH.

CANÁRIO, Rui. A escola tem futuro? Das promessas às incertezas. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2007. Editado também como livro impresso em 2006. ISBN 978-85-363-1009-1.

CANÁRIO, Rui. Escola: das “promessas” às “incertezas” (School: from “promises” to “uncertainties”). Educação Unisinos 12(2):73-81, maio/agosto 2008. Pág. 73 – 81. Disponível em http://revistas.unisinos.br/index.php/educacao/article/view/5309/2556.

CANÁRIO, Rui. Rui Canário fala sobre como transformar problemas em soluções. Gestão Escolar. 01 de Junho de 2009. Acesso em 09/03/2018. Disponível em https://gestaoescolar.org.br/conteudo/756/rui-canario-fala-sobre-como-transformar-problemas-em-solucoes.

DAYRELL, J. A Escola como Espaço Sócio-Cultural. In: DAYRELL, J. (org): Múltiplos Olhares: Sobre educação e cultura. Belo Horizonte: UFMG, 1996.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: Nascimento da prisão. Trad. Lígia M. Ponde Vassalo. Petrópolis: Vozes, 1987.

MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Tradução Eloá Jacobina. - 8a ed. -Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. 128p.

MOSÈ, Viviane. Os desafios da educação: gestão – nosso maior desafio?, com Viviane Mosé. Disponível em http://www.institutocpfl.org.br/podcast/os-desafios-da-educacao-gestao-nosso-maior-desafio-com-viviane-mose/. Acesso em 07/03/2018.

SANTOS, Milton. Por uma outra globalização – do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2006.

20 comentários:

  1. Olá Wemerson e Tamires, em primeiro lugar parabéns pelo bom texto e pela temática abordada. Gostaria, inclusive, de lhes pedir se podem enviá-lo para eu usar nas minhas turmas de licenciatura em Ciências Sociais. Meu e-mail é walaceuerj@yahoo.com.br. Vocês tiveram ótima percepção de como a educação tem servido cada vez mais aos interesses do capital, perdendo sua essência voltada para a cidadania e de formação crítica. Por mais que batalhemos para recuperar essa essência humanizadora no âmbito das escolas, temos visto constantemente ataques contra esse modelo de educação. Sinal disso são as atuais reformas conservadoras que temos assistido no governo atual: casos da reforma do Ensino Médio e da Base Nacional Curricular Comum (BNCC). Afinal, ambas valorizam a tecnicidade e reduzem ainda mais o espaço para as disciplinas e para o conteúdo de Humanidades. Minha pergunta, na esteira desse atual contexto, é sobre que alternativas vocês vislumbram para continuarmos lutando por uma educação inclusiva e menos tecnicista. Além disso, como convencer os alunos, que ao sair da escola serão lançadas no competitivo espaço capitalista, de que uma educação mais humanista ainda tem sentido?

    Abraços,
    Walace Ferreira.

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    1. Olá Walace, agradecemos pelos comentários. Será uma felicidade enorme para nós caso esse texto seja utilizado em suas turmas. Em relação a sua primeira pergunta, insistíramos que ela trás em si mesma uma resposta possível: a valorização dos conteúdos de humanidades passa, quase que necessariamente, pela percepção de que é preciso que continuemos a lutar por uma educação mais inclusiva e menos tecnicista. Essas lutas podem ser articuladas em várias frentes. Por exemplo, (para dialogar com seu importante artigo) é louvável o trabalho do movimento dos “Professores Contra o Escola sem Partido”, cuja atuação, transcendo uma dimensão mais acadêmica - em que ela também se faz presente -, utiliza vários meios (internet, televisão, rádio etc.) para tornar esse debate público, apresentando argumentos e combatendo os retrocessos propostos pelo Escola Sem Partido. Quer dizer, toda luta por uma concepção de educação, precisa ser uma luta política, de marcação lugar, de exercício democrático do direito de fala.
      De outro modo, no entanto, insistiríamos também que uma educação mais humanista não necessariamente precisa estar vinculada a um currículo de humanidades. Quer dizer, tendo em visto nossa conjuntura - e aí você destaca muito bem o cenário de reformas conservadoras em que se privilegia a tecnicidade - e supondo que mesmo uma articulação coletiva dos professores não consiga barrar esse avanço conservador, lembraríamos que o que chamamos de “humanidade”, mesmo as disciplinas, tem a ver com experiências humanas no tempo. Nesse sentido, não se ensina humanidades (apenas) através de um conteúdo disposto em uma disciplina, mas se vivencia experiências humanizadoras. Dessa forma, pensamos que é, também, através dessas experiências que os estudantes podem ser “convencidos” da importância de uma educação mais humanista, mesmo em um mundo competitivo. O Rui Canário, por exemplo, quando insiste no professor como um artesão, pensa justamente em como reinventar praticas. Nesse sentido, muito mais interessante do que uma escola que forme para o trabalho, é uma escola que forma com o trabalho. A capacidade de reinventar nossas práticas e metodologias a partir de contextos específicos, mesmo os mais conservadores, caracteriza o professor como um artesão.
      Um outro exemplo: pense em um aluno que tem como objetivo ingressar em cursos da área de exatas, como engenharia ou arquitetura. Possivelmente você deve ter ouvido alguma vez que essas eram profissões que "davam dinheiro", e esse aluno também ouviu. Esse tipo de incentivo é, de certo modo, uma forma de afastar os alunos das áreas de humanidades. Agora, suponhamos que esse mesmo aluno teve uma formação que buscou enfatizar essas relações humanas, provavelmente ele vai ter mais empatia e sensibilidade com questões de ordem social que vão refletir na sua forma de se relacionar com o seu trabalho, como por exemplo nas questões que dizem respeito a ocupação e direito a cidade, acessibilidade urbana e políticas públicas. Ou seja, o aluno não precisa perder essa dimensão do saber técnico, mas ela precisa estar articulada com uma compreensão complexa da realidade para que ele tenha condições de trabalhar de forma eficiente.
      De todo modo, a questão central, que também é a sua, é como fazer isso num ambiente hostil, em que qualquer proposta pedagógica pode ser denunciada como “ideológicas” (aqui em Belo Horizonte tivemos alguns casos). A resposta que visualizamos é uma articulação política levada a cabo coletivamente por professores, movimentos sócias, sociedade cível etc., associada a uma pratica criativa e democrática.

      Abraços,
      Wemerson e Tamires

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    2. Obrigado EWemerson e Tamires. Fico aguardando o artigo no meu e-mail. Gostei muito da reflexão, ela será extremamente válida no trabalho junto às turmas da licenciatura. Bacana que vocês apontaram o diálogo enre nossos trabalhos. Concordo com tudo que vocês expuseram. Sobra a prática, assino em baixo em relação a seguinte frase que escreveram: "(...) o aluno não precisa perder essa dimensão do saber técnico, mas ela precisa estar articulada com uma compreensão complexa da realidade para que ele tenha condições de trabalhar de forma eficiente".

      Grande abraço e fico no aguardo do texto,

      Walace Ferreira.

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  2. Olá, um texto muito rico. Porém me parece um pouco utópico. Comecei a estagiar recentemente e percebi que nosso sistema educacional precisa urgentemente de melhoras mais efetivas e me sinto uma dessas pessoas que deseja mudar o mundo a todo custo. Perdoe minha ingenuidade. Minha dúvida, eu não consigo encontrar meios de trazer para a minha realidade a questão do não focar em “como ensinar” e sim em “como se aprende”, mesmo que o texto tenha sido muito claro, essa pequena parte me deixou confusa.


    Abraços,
    Ana M. Lucia do Nascimento.

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    1. Ana Maria, se me permite entrar na discussão, entendo sua posição de que a realidade é bem mais dura que as expectativas e as boas intenções. No entanto, devemos seguir firmes e comemorar cada ganho do nosso trabalho, cada aluno que conseguimos ajudar. Isso faz o trabalho valer a pena.

      Um abraço,
      Walace Ferreira.

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    2. Bom dia Ana, agradecemos demais pelos comentários e pela pergunta. Quando você falou em utopia, lembramos de um texto muito legal sobre o conceito de utopia em Paulo Freire. Segundo a autora (Sônia Teresinha Felipe), para Freire, a utopia se caracteriza como um “modo de estar-sendo-no-mundo, que exige um conhecimento da realidade, pois conhecer é possibilidade de “projetar”, lançar-se adiante, buscar”. Nesse sentido, a capacidade de “sonhar” precisa partir sempre de um conhecimento empírico da realidade. Desse modo, é preciso constatar que a realidade não se transformará do nada. É por isso também que, como insiste o Walace, cada ganho e cada conquista importa. Então, podemos não transformar nosso sistema educacional amanhã ou depois, mas se você conseguir reinventar suas práticas, reconstruindo-as a partir dos saberes de seus alunos, já será uma grande conquista.
      Essa questão do professor como um reinventor de práticas implica, como dito, em um deslocamento sutil, mas determinante. Rui canário ilustra essa perspectiva com uma história:
      “As pessoas que gostam de ironizar as ciências da educação contam que um reputado professor de pedagogia anunciou uma conferência pública para explicar o método que havia criado para ensinar um gato a falar francês. Segundo o anúncio, o gato acompanharia o conferencista. Perante uma audiência numerosa e interessada, a conferência foi proferida sem que o acontecimento que todos aguardavam tivesse ocorrido: ouvir o gato pronunciar algumas frases no idioma de Molière. Interpelado diretamente, o conferencista esclareceu: “Eu o ensinei, mas ele não aprendeu!”.”(Pag. 25),
      Quer dizer, muitas vezes, nossa formação nos oferece algumas metodologias de trabalho. Essas metodologias, por melhores e mais inovadores que sejam, precisam sempre dialogar com contexto no qual estamos inseridos, ou mesmo partir desse contexto. È o que o Paulo Freire chamou, naquele momento, de “palavra geradora”, em que a metodologia, direcionada para a alfabetização, partia de palavras cujo significado e importância se manifestavam cotidianamente (em uma comunidade periférica, por exemplo, a alfabetização começava por palavras como favela, solidariedade, violência, etc). Nesse sentido, sempre que a metodologia era aplicada, ela precisava ser transformada, adaptada a partir da realidade dos estudantes (no campo, por exemplo, as palavras geradoras seriam outras). É essa capacidade que precisamos lapidar: reinventar nossas praticas. Um vivencia em educação, em sala de aula, ajuda muito na hora de vislumbrar possibilidades, mas uma reflexão crítica, continua, coletiva e democrática também auxilia na construção desse tipo de proposta.
      Abraços,
      Wemerson e Tamires

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    3. Bom dia Ana, agradecemos demais pelos comentários e pela pergunta. Quando você falou em utopia, lembramos de um texto muito legal sobre o conceito de utopia em Paulo Freire. Segundo a autora (Sônia Teresinha Felipe), para Freire, a utopia se caracteriza como um “modo de estar-sendo-no-mundo, que exige um conhecimento da realidade, pois conhecer é possibilidade de “projetar”, lançar-se adiante, buscar”. Nesse sentido, a capacidade de “sonhar” precisa partir sempre de um conhecimento empírico da realidade. Desse modo, é preciso constatar que a realidade não se transformará do nada. É por isso também que, como insiste o Walace, cada ganho e cada conquista importa. Então, podemos não transformar nosso sistema educacional amanhã ou depois, mas se você conseguir reinventar suas práticas, reconstruindo-as a partir dos saberes de seus alunos, já será uma grande conquista.
      Essa questão do professor como um reinventor de práticas implica, como dito, em um deslocamento sutil, mas determinante. Rui canário ilustra essa perspectiva com uma história:
      “As pessoas que gostam de ironizar as ciências da educação contam que um reputado professor de pedagogia anunciou uma conferência pública para explicar o método que havia criado para ensinar um gato a falar francês. Segundo o anúncio, o gato acompanharia o conferencista. Perante uma audiência numerosa e interessada, a conferência foi proferida sem que o acontecimento que todos aguardavam tivesse ocorrido: ouvir o gato pronunciar algumas frases no idioma de Molière. Interpelado diretamente, o conferencista esclareceu: “Eu o ensinei, mas ele não aprendeu!”.”(Pag. 25),
      Quer dizer, muitas vezes, nossa formação nos oferece algumas metodologias de trabalho. Essas metodologias, por melhores e mais inovadores que sejam, precisam sempre dialogar com contexto no qual estamos inseridos, ou mesmo partir desse contexto. È o que o Paulo Freire chamou, naquele momento, de “palavra geradora”, em que a metodologia, direcionada para a alfabetização, partia de palavras cujo significado e importância se manifestavam cotidianamente (em uma comunidade periférica, por exemplo, a alfabetização começava por palavras como favela, solidariedade, violência, etc). Nesse sentido, sempre que a metodologia era aplicada, ela precisava ser transformada, adaptada a partir da realidade dos estudantes (no campo, por exemplo, as palavras geradoras seriam outras). É essa capacidade que precisamos lapidar: reinventar nossas praticas. Um vivencia em educação, em sala de aula, ajuda muito na hora de vislumbrar possibilidades, mas uma reflexão crítica, continua, coletiva e democrática também auxilia na construção desse tipo de proposta.
      Abraços,
      Wemerson Felipe Gomes e Tamires Celi da Silva

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  3. Bom dia, Wemerson e Tamires, gostaria de parabenizá-los pelo excelente texto. Considerei a composição dos argumentos sobre a “lógica indústria do ensino” admirável, fato que ocorre nas escolas. Minha dúvida é, como os professores poderiam fazer uma educação mais humanista, sendo que eles estão inseridos em um contexto capitalista voraz, onde lutam para sobreviver no meio!

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    1. Bom dia para você também, Cely. Sua questão dialoga com as anteriores. Mas, de modo geral, concordamos quando diz que o professor é refém dessa realidade capitalista. E para isso não conseguimos vislumbrar outras alternativas que fuja do que está acontecendo em Minas Gerais e outras partes do país: muita luta dos professores. Confessamos também que gostaríamos de ver uma adesão da comunidade escolar como um todo, mas isso vai levar tempo até que superemos essa cultura de que a escola é o local de aprender o “abc” e o “1+1=2” e passe a ser vista em sua riqueza enquanto espaço sociocultural.
      Pensamos também que o cenário que vivemos hoje não é dos mais convidativos para se pensar em lutas revolucionárias, mas precisamos pensar, pelo menos, em estratégias de resistências cotidianas se quisermos que um dia algo mude. Nos apropriamos, nesse sentido, da leitura de Sidney Chalhoub, quando ele fala das várias visões de liberdade existentes nas sociedades escravistas como forma de escapar da polarização da senzala e quilombo como únicas realidades possíveis. Nos apropriamos, portanto, dessa leitura, para fugir das polarizações e pensar em estratégias para nos manter vivos dentro desta sociedade, mas isso não quer dizer que podemos nos abster da luta, isso jamais!
      Sabemos que há uma crise educacional no Brasil, isto é, um projeto político que sustenta essa crise, para citar Darcy Ribeiro. Mas, lembremos, esses projetos são invenções humanas, construídos no decorrer do tempo. Portanto, não é algo natural que a educação seja um caos. Por isso, insistimos que devemos continuar construindo coletivamente formas de se libertar desse sistema; discutindo suas falhas, seu processo histórico de consolidação. O mais interessante do texto do Canário é justamente o fato e mostrar que esse modelo de escola que temos hoje é não “natural”, único. É fruto de escolhas que responderam a questões especificas.
      Abraços,
      Wemerson e Tamires

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    2. Bom dia para você também, Cely. Sua questão dialoga com as anteriores. Mas, de modo geral, concordamos quando diz que o professor é refém dessa realidade capitalista. E para isso não conseguimos vislumbrar outras alternativas que fuja do que está acontecendo em Minas Gerais e outras partes do país: muita luta dos professores. Confessamos também que gostaríamos de ver uma adesão da comunidade escolar como um todo, mas isso vai levar tempo até que superemos essa cultura de que a escola é o local de aprender o “abc” e o “1+1=2” e passe a ser vista em sua riqueza enquanto espaço sociocultural.
      Pensamos também que o cenário que vivemos hoje não é dos mais convidativos para se pensar em lutas revolucionárias, mas precisamos pensar, pelo menos, em estratégias de resistências cotidianas se quisermos que um dia algo mude. Nos apropriamos, nesse sentido, da leitura de Sidney Chalhoub, quando ele fala das várias visões de liberdade existentes nas sociedades escravistas como forma de escapar da polarização da senzala e quilombo como únicas realidades possíveis. Nos apropriamos, portanto, dessa leitura, para fugir das polarizações e pensar em estratégias para nos manter vivos dentro desta sociedade, mas isso não quer dizer que podemos nos abster da luta, isso jamais!
      Sabemos que há uma crise educacional no Brasil, isto é, um projeto político que sustenta essa crise, para citar Darcy Ribeiro. Mas, lembremos, esses projetos são invenções humanas, construídos no decorrer do tempo. Portanto, não é algo natural que a educação seja um caos. Por isso, insistimos que devemos continuar construindo coletivamente formas de se libertar desse sistema; discutindo suas falhas, seu processo histórico de consolidação. O mais interessante do texto do Canário é justamente o fato e mostrar que esse modelo de escola que temos hoje é não “natural”, único. É fruto de escolhas que responderam a questões especificas.
      Abraços,
      Wemerson Felipe Gomes e Tamires Celi da Silva

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  4. Boa tarde,

    Olha não sei mas fiquei com algumas dúvidas em relação ao texto apresentado. a primeira delas seria em relação a escola que o texto se refere, uma vez que me pareceu talvez generalizante. A aproximação da universidade com a escola é algo q já vem ocorrendo e produzindo efeitos extremamente positivos os quais já vem há algum tempo aparecendo em TCCs, dissertações de mestrado, artigos, enfim. PIBID, PDE - ao menos aqui no Paraná - são realidades que modificaram e muito o ensino nas escolas. Eu atuo há 15 anos na Rede Pública e penso que agora aquela ideia de escola como lugar de conhecimento, cultural, espaço criativo q Chervel já apontava já estão sendo colocados em prática. Quanto as dificuldades ou diálogos que não se cruzam, bem penso q se a escola é lugar, espaço onde há uma cultura própria, uma dinâmica própria dentro de toda a demanda e complexidade que envolve talvez esta seja a resposta para que este "cenário q não é convidativo" nem sempre dialogue com o que ocorre aqui fora.
    Também penso na escola como mais uma esfera onde se opera o conhecimento histórico, e não único, como colocava Bergmann já com as noções da Didática da História e neste sentido, pergunto como devemos pensar o ensino de História no tempo presente? Talvez um compartilhar de ideias, conhecimento prévio no sentido de investigar os referências históricos dos alunos? Isto vejo eu já vem sendo feito. Nas escolas públicas aqui em Londrina isto já vem sendo feito.

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    1. Helena, agradecemos muito pelos questionamentos. Naturalmente que não nos referimos aqui as escolas de modo específico, por que nesse sentido as diferenças são tão marcantes quanto as semelhanças. O que nos interessa é um determinado modelo de escola que hoje parece naturalizado. A escola, hoje como a 200 anos, se organiza através de uma “compartimentação estandardizada dos tempos (aula de uma hora), dos espaços (sala de aula), do agrupamento dos alunos (turma) e dos saberes (disciplinas) ”. Dessa forma, concordamos com você que do ponto de vista das práticas pedagógicos muita coisa avançou nos últimos anos, e você parece ser um exemplo disso. Mas o nosso ponto é esse: pense em uma escola que não se organize em tempos de uma hora, em uma sala de aula, em turmas e em disciplinas. Difícil, não é? Alguns diriam que uma escola sem essas caraterísticas não é uma escola. O aspecto mais interessante do texto do Canário é, portanto, destacar que esse modelo foi sendo construído no tempo e respondeu a determinados contextos. Mas não é “natural” que a escola se organiza assim. Então, por mais que a escola seja hoje um espaço de “conhecimento, cultural, espaço criativo”, o que é ótimo, muito da sua potencialidade enquanto um espaço sociocultural fica tolhido em um sistema de organização rígido, fragmentado, abstrato. Mudar esse modelo é difícil, por isso insistimos em uma mudança inicial sutil, que é o deslocamento do como ensinar para o como se aprende, que é o que você já faz, talvez com algum embasamento teórico, talvez de modo intuitivo devido a sua experiência de 15 anos com educação. Mas mudar esse modelo não é impossível. Aqui em Belo Horizonte uma escola municipal, o POEINT, colocou em pratica uma estratégia pedagógica de educação integral em tempo integral para alunos do ensino fundamental em que não se organizada (de modo prioritário) os alunos em tempos de uma hora, em sala de aula, com disciplinas: cito parte da PROPOSTA PEDAGÓGICA ESCOLA MUNICIPAL POLO DE EDUCAÇÃO INTEGRADA, item 4.7 Estratégias educativas:
      Estratégias educativas: “São as atividades pedagógicas desenvolvidas com os estudantes ao longo da semana. A proposta rompe com a exclusividade das aulas expositivas e do espaço educativo como sala de aula. A organização dos estudantes será majoritariamente em coletivos de trabalhos em grupo por meio de roteiros de atividades por área de conhecimento. Não haverá um horário fragmentado em disciplinas. Os conteúdos dos componentes curriculares estarão integrados por temas específicos e alinhados aos eixos integradores”. (Site do Poeint: https://empoeintblog.wordpress.com/)
      Essa escola rompe com esse modelo que naturalizamos. Mas é difícil construir e executar propostas como essas. Nesse sentido é, de fato, uma felicidade que em Londrina se priorize um “compartilhar de ideias, conhecimento prévio no sentido de investigar os referenciais históricos dos alunos”; mas, insistimos, esse modelo de escola precisa ser, ainda, muito repensado e discutido.

      Grande Abraço,
      Wemerson e Tamires

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  5. Bom dia. O texto está ótimo e muito bem escrito, mas fiquei em dúvida justamente com relação a "solução" para uma escola mais dialógica com a própria realidade dos participantes.
    Enfim, queria saber se, dentro da nossa sociedade e considerando o nosso meio de produção, o qual engloba todas as nossas instituições e também a escola, seria possível uma transformação da escola para que passasse a ser um instrumento de inclusão e de promoção do equilíbrio social dentro do nosso modelo de sociedade. Dentro do nosso modelo atual de produção.
    Atenciosamente,
    Jhonatan Júnior Alcântara

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    1. Boa tarde Jhonatan. Agradecemos demais pela participação. Longe de nós oferecer alguma solução. O que propomos é justamente uma “construção de estratégias coletivas para qualificar o desqualificado processo de ensino-aprendizagem”. Nesse sentido, o que esperamos ter sido nossa contribuição com esse texto é, por um lado, destacar que o nosso atual modelo de escola foi sendo construído no tempo e respondeu a determinados contextos, portanto ele pode ser repensado; e por outro, apresentar essa ideia do Rui Canário do professor como um artesão, ou seja, do professor como um reinventor de práticas, que constrói suas estratégias pedagogias a partir do seu contexto e da realidade de seus estudantes. Em relação a transformação da escola em um instrumento de inclusão e promoção do equilíbrio social, tendo em vista as especificidades da nossa sociedade, achamos ser possível sim, mas essas questões precisam ser discutidas coletivamente.
      A Viviane Mosé, no decorrer de sua palestra, defende, por exemplo, que esse modelo de escola que se consolidou no século XX não consegue, hoje, formar para a cidadania, como estabelece a constituição de 1988, razão pela qual somos imaturos políticos e sócias; mas, não obstante, também não consegue formar para o mercado. Segundo ela, vivemos uma crise de lideranças, de funcionários dispostos. Além disso, o próprio mercado de trabalho atua a partir de um outro paradigma. Em um de seus livros, Michel Serres (2013) diz que hoje, mesmo quando conseguimos um emprego, continuamos a procurar emprego, pois a dinâmica do trabalho é outra, marcada agora pela imprevisibilidade.
      Fazer a escola dialogar com esse contexto é, sem dúvida alguma, essencial. No entanto, é preciso não perder de vista outras dimensões que precisam ser trabalhadas na escola e que não necessariamente correspondem com o que espera da escola nosso “modelo atual de produção”.

      Grande Abraço,
      Wemerson e Tamires

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  6. Olá Wemerson e Tamires, parabéns pelo texto reflexivo sobre a Educação. Muitos são os estudos voltados para essa temática, no entanto, as análises das pesquisas na maioria das vezes, culminam responsabilizando a atuação docente. Desta forma, questiono os autores, como solucionar os problemas relacionados as aulas dos professores, mencionado no texto, quando estes estão atrelados a um sistema quântico?

    Valdenira Silva de Melo

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    1. Agradecemos a sua pergunta! Bom, longe de nós termos alguma solução para este problema, se entendemos que a escola é o local do plural, as soluções são várias e por isso, cabe a cada professor junto a escola conhecer o seu “publico”, e buscar levantar quais as suas demandas. Acreditamos que está seja uma boa estratégia para se valorizar o que já é próximo e construir algo significativo. Concordamos que o ao professor, ainda é legado a função de ensinar e consequentemente de resolver as demandas educacionais, porém, quando a escola se propõe a práticas de ensino que desloquem esse lugar de geração de resultado para o de experimentação e construção, acreditamos que os resultados podem ser mais significativos pois oferece espaço para uma maior abrangência na participação, e isso inclui os alunos.
      Wemerson Felipe Gomes e Tamires Celi da Silva

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